Acontece com a maioria dos personagens secundários de quadrinhos deles só se tornarem populares com uma produção cinematográfica. Não foi diferente com Doutor Estranho que teve seu filme lançado em 2016. Muitos fãs do personagem ficaram um pouco incomodados com a adaptação, pois o tom cômico tirou a possibilidade de uma história mais profunda envolvendo magia e tons sobrenaturais. Assim começou o processo de busca de histórias do personagem pelos fãs, e o herói até ganhou uma revista mensal aqui no Brasil. No próprio filme é citado como piada o termo Shamballa, que na verdade é referência a uma história famosa do Mago Supremo. Mas que história é essa?
No aniversário da morte do Ancião o Doutor viaja até o Himalaia para prestar uma homenagem ao antigo mestre. Foi neste mesmo lugar que ele encontrou o Ancião quando estava em busca de uma cura milagrosa para suas mãos e acabou seguindo pelo caminho da Magia. Entretanto, ele acaba recebendo um presente deixado pelo Ancião anos atrás, e assim começa uma jornada para que o Doutor descubra que caixa é essa e porque ela só chegou às suas mãos anos depois da morte do Ancião.
Esse é o tipo de história que quase rompe o conceito de quadrinhos no formato em que é escrito. Os roteiros são de J. M DeMatteis (que tem em seu currículo A Última Caçada de Kraven, o Filho do Duende Verde e está roteirizando boa parte das animações atuais da DC) e com desenhos de Dan Green que tem trabalhos tanto na Marvel quanto na DC. Aqui é o típico exemplo onde a história e os textos conversam pouco. Quase não temos balões de falas e a publicação possui um aspecto de livro ilustrado. Ainda continua sendo um quadrinho, pois grande parte da narrativa é composta do trabalho conjunto de imagem com texto.
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A arte de Dan tem um aspecto bastante misterioso, com muito uso de névoa e figuras nas sombras, que geram esse constante aspecto de surrealismo, algo no limiar da realidade. Nada possui contornos muito fortes e detalhados, além dos cenários quase sumirem em determinados momentos. Os quadros são realmente lindos e geram momentos em que você deseja só parar e observar a página. Ele realmente consegue passar a sensação de transcendência cósmica que o roteiro pede. O herói tem seu aspecto poderoso e, ao mesmo tempo, trágico, e a magia parece realmente ser poderosa e bela, uma verdadeira força da natureza. O problema que eu apontaria é a falta de definição do traço nos momentos mais mundanos. Até nos momentos sem magia tudo continua tendo esse aspecto nebuloso.
O roteiro de J.M é interessante e até ousado em sua proposta. Apesar de esta ser uma história curta, nós realmente entendemos porque essa aventura se configura como uma das mais impactantes na vida do personagem. A provação que ele passa nela é realmente sem precedentes. Conceitualmente é impossível não se colocar no lugar do herói. O que você faria se recebesse a tarefa que ele recebe nesta HQ? A execução de tal tarefa tem um aspecto de RPG, com o herói realizando alguns feitos e provando suas habilidades mágicas. O que realmente é o ponto fraco da história é sua conclusão e a solução achada para o problema. Ao mesmo tempo em que entendemos a mensagem que J.M deseja passar ao final, também fica com uma sensação de que “foi fácil demais para uma questão tão complicada”. Na verdade esse é um problema clássico de histórias que tentam abordar questões muito amplas sobre humanidade e o significado da vida.
Leitores assíduos de quadrinhos podem não gostar desse aspecto livro ilustrado porque geralmente temos histórias muito paradas. Acredito que o texto de J.M é realmente muito bom. Além de incorporar todo o ar místico e epopeico clássico do personagem, ele realmente cria metáforas impactantes para descrever a magia e seus efeitos. Aqui encontraremos coisas como “Somente em silêncio pode-se ouvir o ensurdecedor rugido do infinito”.
Acho essa uma ótima HQ inicial em vários sentidos. Tanto para aquele que curtiu o filme e ter a chance de ver o lado mais sério do personagem, tanto para aquele que nunca leu quadrinhos. Eu já ouvi várias vezes de pessoas diferentes que elas não conseguiam ler quadrinhos porque tinham dificuldade de ler os balões na ordem certa. Problema resolvido: essa HQ beira a não ter balões, então esse leitor super novato não terá problemas. Não é por acaso que este é um clássico do Mago Supremo.
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