Universos paralelos e reimaginações de heróis são um dos exercícios de criatividade mais comuns no mundo dos quadrinhos. Algumas ficam tão boas que viram as versões mais famosas dos heróis, como O Cavaleiro das Trevas ou Superman entre a Foice e o Martelo. Algumas são porcarias esquecíveis e outras ficam bem ali no meio do caminho. Acho que esse segundo caso é justamente o que aconteceu com a linha Noir da Marvel que reimaginava seus principais personagens nesse estilo sombrio e violento, típico de uma vertente cinematográfica dos anos 20 e 30. Recentemente a coleção Salvat do Homem Aranha relançou a HQ do personagem Noir, que foi uma das histórias que ficaram mais famosas desta linha. Este primeiro encadernado reúne as quatro primeiras edições, que por sua vez fecham o primeiro arco da revista Homem Aranha Noir.
Durante 1933, em Nova York, temos a ascensão do mafioso conhecido como Duende, que controla a criminalidade na cidade. Paralelamente Peter vive sua adolescência sobre os cuidados de seus tios socialistas que militam durante os efeitos da Grande Depressão e tentam impedir que as camadas mais humildes sejam exploradas. Quando seu tio é assassinado, Peter parte numa jornada de justiça que acaba esbarrando na figura do Duende e numa aranha mística que lhe confere poderes incríveis.
O roteiro é feito em dupla entre David Hine (Guerras Silenciosas) e Fabrice Sapolsky, com os desenhos de Carmine Di Giandomenico, que tem como trabalho mais relevante Magneto: Testamento, que conta a infância do icônico vilão dos X-Men nos campos de concentração. São nomes que separados não são tão relevantes, mas que juntos fizeram um trabalho muito interessante. Transformar Peter num herói de origem mística foi mais do que natural, pois a radiação não era uma realidade no início do século XX. De modo geral, o que existe de mais interessante nesta HQ é justamente essas transposições.
Ao longo da história vemos várias versões Noir dos vilões icônicos do Aranha. Quase toda a graça é ver essas mudanças. Talvez a mais marcante seja a do Abutre, que foi inspirado no Nosferatu. Camaleão também é interpretado de um jeito bastante interessante; Kraven e os Executores são quase idênticos às suas versões originais, o que faz muito sentido, pois eles já eram baseados nessas décadas de 20 e 30 quando foram criados nos 60. O Duende Verde também vai pela vertente mística que cria o Homem Aranha, mas é pouco inspirado levando em conta as possibilidades e a liberdade que uma HQ fora da cronologia oficial permite.
O Homem Aranha está bem representado. Sua imaginação não ousa muito. O que mais impacta nas diferenças é o seu visual (palmas para Giandomenico) e o fato do herói usar armas, algo que fica justificado pela temática Noir. Em termos de personalidade ele até se parece bastante com a versão clássica do personagem. Tia May ganha uma personalidade bem mais interessante, devido a sua vertente política, que a torna mais ativa nos momentos em que aparece.
A história toda tem um caráter investigativo envolvendo as atividades criminosas do Duende, e Peter investigando tanto como repórter quanto super-herói. Nesse momento ela vai muito bem, mas comete o erro de mostrar aos leitores a solução da trama e não nos deixa ter as respostas junto com o herói. Como é muito provável que você já conheça a mitologia do personagem, não sobram muitas surpresas. Ainda sim temos um plot bem divertido e que cumpre completamente a função de entreter apesar de ser uma história de detetive sem mistério.
De modo geral a HQ é bastante interessante para quem busca ler tudo que é de mais relevante no personagem, pois é realmente muito divertido ver a recriação de tudo que já conhecemos de um jeito mais sombrio. Esta versão do Homem Aranha teve uma continuação que explora o vilão Doutor Octopus, além de ter sido adaptado para os games e ter sido reutilizada na recente saga Spiderverse.
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