Falam que todo diretor de renome tem que ter um filme de guerra em seu currículo, e isso agora já não é mais problema para Christopher Nolan. O conceituado diretor de obras como Amnésia, trilogia do Batman e A Origem deixa suas marcas cinematográficas em um grande filme que retrata um dos eventos marcantes da Segunda Guerra Mundial nas praias de Dunkirk.
A Alemanha avança rumo à França e cerca as tropas aliadas nas praias de Dunkirk. Sob cobertura aérea e terrestre limitadas, as tropas britânicas e francesas tentam lentamente evacuarem pela praia. Mas o cerco alemão é implacável com ataques aéreos e submarinos, começando assim o drama de uma controversa “vitória” histórica em Dunkirk com a retirada das tropas do solo continental.
Além de um roteiro bem intrincado, um dos elementos que Nolan sempre impôs em suas produções é a alta qualidade técnica e fotográfica de seus filmes. Não à toa que a versão do buraco negro do filme Interestellar (seu último filme até então) é a interpretação visual mais bem feita deste evento cósmico. E em Dunkirk ele faz um excelente trabalho com as câmeras IMAX, proporcionando novamente algo realmente belo de se ver, agora com a fotografia e ambientação de época beirando ao poético, transformando o longa em uma grande experiência cinematográfica. Porém o filme vai além do que apenas bons elementos visuais.
Com uma narrativa em que diferentes personagens vivem momentos diferentes em pontos distintos da batalha, Nolan faz um belo entrelace destes diferentes enredos que envolvem os personagens: Alex (Harry Styles) tenta dar seu jeito de entrar numa embarcação para conseguir sua fuga; Farrier (Tom Hardy) é um dos poucos da Força Aérea britânica que tenta proteger o embarque das tropas; Mark Rylance interpreta um inglês que teve sua embarcação convocada para ajudar na retirada das tropas em Dunkirk. Três perpectivas diferentes, em três ambientes diferentes (terra, céu e mar), e três metas distintas: fugir, proteger e resgatar. Um mesmo objetivo: sucesso.
É fenomenal observar o caminho de cada história e ver como elas se entrelaçam. Cada uma com sua dose de emoção e tensão, e a dramaticidade é o ponto chave para que nos envolvamos com tantos personagens diferentes. E cada drama muito bem montado de sua maneira dentro do roteiro, que também foi escrito por Nolan. Mas não só isso, toda a direção de design e fotografia do filme contribui para uma experiência total da obra de forma ímpar; inclusive as sequências de batalhas aéreas protagonizadas por Farrier é de uma veracidade impactante; sentimo-nos dentro de um avião de combate daquela época, e percebemos como pilotar aquilo era uma tarefa complicada.
Dunkirk mostra o resultado da união de boas pessoas em um propósito em comum. Pessoas que se sacrificam em prol de sua pátria ou simplesmente para ajudar outras pessoas que estão à beira do abismo ou em uma situação desesperadora. Heróis. Mas sem dar aquele tom maniqueísta tão comum em filmes de guerra; claro, os vilões sempre serão os nazistas quando o assunto é a Segunda Guerra, mas Dunkirk trata também das relações entre os próprios soldados britânicos, e lá percebemos que ser herói não é algo fácil, é coisa para poucos. Tanto para ingleses ou franceses. Quando o assunto é sobrevivência é difícil se colocar atrás de alguém ou de algum propósito. É onde se separa o joio do trigo. Os comuns dos heróis. Onde alguns dão a vida para salvar quem vale muito menos do que os próprios. Heróis desconhecidos, que quando muito ganham um tapinha nas costas.
Dunkirk foi um evento controverso na história da Guerra, muitos consideraram uma vitória. Mas como seria uma vitória se as tropas tiveram êxito em fugir? O famoso fuja hoje e lute amanhã. No fim o filme debate mais claramente sobre isso, mas durante a projeção percebemos o quão valioso foram os esforços daqueles que deram suas vidas, ou se colocaram em uma péssima situação para que a maior evacuação militar da história acontecesse. Como desprezar tais esforços? Tudo depende do ponto de vista, e Nolan soube explorar isso como poucos, trazendo em seu filme uma grande experiência de guerra.