Entre portas batendo e suspiros de frustração me via presa. Podia andar de canto a canto de minha casa, meu corpo era livre, minha sanidade não. Armaram sobre mim uma rede de fios de raiva. Fui capturada. Eu era feita da junção de frias lágrimas e áspera angústia. O laço deles ao passar do tempo era desfeito e isso me destruía. Mas permanecia calada, a voz não me fazia jus; não me achava digna. Sei que eles não faziam por mal. E foi aí, enquanto me afogava em palavras não ditas, que descobri a existência de algo em que me agarrar. Eu detinha a chave. Feita de madeira e grafite, ascendia-se quando riscava o papel. Todas as amarras afrouxavam. Já não existia paredes e o único barulho que ouvia, era da minha sumida voz. Ecoava alta e clara, contando estórias de tempos mais felizes; criando personagens e lugares. Inventava mundos, gostava de ser senhora deles. Brincava de ser Lobato, queria minha própria Reinações de Narizinho. Seres inanimados que correm e falam me fascinaram. Queria poder aninha-los. Conversava com todos e tinha o dever de contar suas histórias. Mundos fantásticos onde relógios serviam tortas, e todas as crianças podiam sorrir, era onde me encontrava. Dei aos meus amigos de grafite e papel um bom lugar. Tal como Ziraldo, Maurício, Cecilia, Cervantes e até mesmo Carrol, em suas infinitas formas. Todos íntimos meus. Escorreguei nas graças da prosa. Gostava do caminho que seguia. Quando lá estava, não mais existia dor, não existia problemas. A angústia me abandonava. Me sentia acolhida. Não era eu mesma, e isso me deixava feliz.
A autora
Thayná Cavalcante é de Goiânia, cursa letras na Universidade Federal de Goiás. Faz da literatura um hobby e também uma profissão. Ama livros e gatos. Também gosta de Ballet Clássico, Jazz, Rock Nacional e filmes de animação
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