O RPG fez um sucesso estrondoso nos anos 80. A ponto de marcar a geração como um todo e se tornar o símbolo de uma década. Nos anos 90 o jogo foi se modificando em novos sistemas, principalmente os de terror, mas de forma gradativa os vídeo games foram tomando o espaço e fazendo com que o RPG de mesa, como um todo, caísse de popularidade e entrasse numa era de obscurecimento. Por volta dos anos de 2012 iniciou-se um novo movimento que foi intitulado de Renascença, onde o RPG retornou à popularidade no meio nerd.
O que o autor David M. Ewalt faz é um estudo da gênese do D&D até o momento atual, onde o sistema está ganhando um novo fôlego. Dungeons & Dragons está para o RPG assim como Cotonete está para as hastes flexíveis com algodão. Existe até certa dificuldade de explicar o conceito do jogo sem recorrer ao sistema em si. Neste sentido, o livro de David é fundamental para entender onde o conceito do Role-playing game surgiu a partir dos jogos de estratégia.
O bacana é que David mistura sua pesquisa histórica com sua vida, contando como conheceu o jogo e como o abandonou quando adentrou na faculdade. Ao mesmo tempo em que vemos a jornada do D&D, também mergulhamos na vida de David como jogador. Por que ele parou de jogar? Por que voltou? Como o jogou mudou a sua vida e que experiências curiosas causou? Somos até presenteados com descrições de suas campanhas com os amigos, além do processo mental que fez com que ele criasse sua primeira campanha como Mestre.
O livro fornece uma viagem completa pela história do Dungeons & Dragons como jogo, empresa e conceito artístico. Acaba contando a história do próprio surgimento do Role-playing game, já que foi o D&D que fez esse estilo de entretenimento existir de fato. Para quem começou a jogar nesta era de Renascença (como eu), é uma verdadeira aula. David vai de uma linha filosófica do porquê do ser humano criar jogos de estratégia, passando pela vida pessoal de Gary Gygax e Dave Arneson (os criadores do jogo) e como sua parceria acabou e a empresa TSR foi da glória ao declínio. Existe até um capítulo especialmente interessante sobre a caça às bruxas que o RPG sofreu na virada dos anos 80 para os 90 graças a associação feita por grupos religiosos e da mídia de que o jogo seria uma espécie de culto satânico e causaria suicídios em adolescentes.Para os fãs mais velhos e veteranos neste mundo, este livro ainda pode trazer umas boas novidades, já que nas partidas testes David cobriu como jornalista e jogador beta da versão 5.0 que está em vigor atualmente.
É um livro incrivelmente nerd, pois ao mesmo tempo em que celebra esta cultura, ele tenta entendê-la de forma crítica e inteligente. Boa parte dos aspectos deste universo são estudados e vividos pelo autor. Um bom exemplo é o relato da experiência de David com lives de RPG, algo que até os maiores fãs de D&D consideram um nível nada saudável de nerdice. O livro é ótimo para tirar o preconceito que os próprios jogadores possuem com seu entretenimento e pararmos de ter certa vergonha dele. Já é uma leitura obrigatória para os amantes de RPG.
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