Quando pensamos em adaptação de quadrinhos no cinema nacional, as primeiras lembranças que vem a mente são os filmes do Menino Maluquinho e as animações da Turma da Mônica. Este pensamento revela um lugar comum deste sub-genero cinematográfico no Brasil já que estas produções se baseiam em HQs de muito sucesso comercial. No entanto, indo um pouco mais além disso podemos descobrir uma variedade interessante da relação criativa entre essas duas formas de arte tanto em produções recentes como em antigas.
Um exemplo está no filme “Tugstênio” que estreou este mês e adapta a HQ homônima de Marcello Quintanilha. Com direção de Heitor Dhalia, a adaptação conta a história de um sargento do exército aposentado, um policial e sua esposa e um traficante que se unem por um objetivo comum. Quando pessoas começam a utilizar explosivos para pescar na orla de Salvador, os quatro fazem de tudo para acabar com esse crime ambiental.
Ainda em 2018, teremos a estreia de “O Doutrinador”. Dirigido por Gustavo Bonafé, o filme é baseado na série de HQs criada por Luciano Cunha. A história mostra os políticos como vilões e apresenta alguém comum que se torna um justiceiro e usa táticas para conseguir capturar seus inimigos e fazer justiça com as próprias mãos.
Em 2019, “Turma da Mônica – Laços” trará pela primeira vez uma versão live action dos personagens criados por Mauricio de Souza. No caso, será a adaptação da graphic novel criada por Vitor e Lu Caffagi como parte do projeto Graphic MSP. Segundo a sinopse, Cebolinha irá reunir seus fieis amigos Mônica, Magali e Cascão para juntos enfrentarem grandes desafios e viverem grandes aventuras enquanto tentam levar Floquinho de volta pra casa. Daniel Rezende, conhecido por seu trabalho em “Cidade de Deus”, será o diretor.
O que estas três produções têm em comum? A ausência de grandes efeitos especiais além da temática super-heróica que toma conta do cinema americano. Não só isso como o fato de que levar quadrinhos para outras mídias não é tão comum no Brasil como nos EUA. Mas, mesmo sendo incomum, é válido fazer um histórico com alguns exemplos cinematográficos que merecem ser conhecidos pelo público. Entre eles, há filmes que ao invés de se basear em HQs utilizam a linguagem delas e até mesmo as referenciam em alguns momentos.
Começando por “Nina” que também é dirigido por Heitor Dhalia. Na trama, ela é uma jovem pobre e muito sensível que tenta sobreviver em uma metrópole desumana. Ela aluga um quarto no apartamento de uma senhora idosa, mesquinha e exploradora e, ao ser maltratada, acaba se envolvendo em um crime. Levemente inspirado no clássico “Crime e Castigo” de Fiódor Dostoiévski, o filme conta com uma estética sombria que casa perfeitamente com as animações do quadrinista Lourenço Mutarelli. É graças a sua arte que podemos compreender melhor as angústias da personagem vivida por Guta Stresser.
Outro exemplo é “O Homem que Copiava”. Assim como “Nina”, este se utiliza de animações mas de forma mais intensa e variada. O filme que é um misto de aventura e comédia mostra um humilde operador de copiadora que se apaixona pela vizinha e, para conseguir se aproximar da jovem, se transforma num falsificador de dinheiro. Com animações do cartunista Allan Sieber, o resultado final se torna ainda mais satisfatório já que as mesmas se utilizam do efeito da piada rápida com eficiência. Além disso, o protagonista também desenha em alguns momentos e aparenta ser fã do Surfista Prateado.
Por último, ficam apenas algumas menções como é o caso das adaptações um pouco mais antigas como é o caso de “O Judoka” (1973) e Ed Mort (1997). A primeira é baseada na série de HQs criadas por Pedro Anísio e Eduardo Baron enquanto que a segunda adapta um personagem dos contos de Luís Fernando Veríssimo que depois foi adaptado para os quadrinhos pelo desenhista Miguel Paiva.
Enfim, esses foram apenas alguns dentre vários exemplos da relação entre cinema e quadrinhos no Brasil. Há muito mais ainda para ser desvendado em nosso passado cinematográfico assim como existem muitas possibilidades para produções futuras. E quem sabe, em um futuro não muito distante, nossa memória não se limite apenas aos mesmos nomes de sempre.