Há alguns anos os estúdios Mauricio de Souza vêm lançando uma série de publicações com uma linha mais séria intitulada de Graphic MSP. Essas histórias são realizadas por artistas que possuem a chance de colocar seu estilo particular nos personagens icônicos da Turma da Mônica. As histórias variam de dramas mais pessoais até aventuras cheias de ação. Essas Graphics não são necessariamente exclusivas para adultos e podem perfeitamente ser lidas por crianças, mas são construídas de uma forma que poderá agradar ambos os públicos. Essa nova linha permitiu que alguns personagens secundários ganhassem holofotes para terem suas próprias histórias.
Jeremias é um garoto feliz e extremamente sonhador. Ama quadrinhos, viagens espaciais e se mostra muito ativo em tudo que atiça a imaginação. Um determinado evento no colégio relacionado a racismo faz com que ele comece a repensar seu lugar no mundo. Seus pais, avós e amigos começam a dar suas visões sobre a vida e como lidar com ela. Assim começa seu processo de amadurecimento: os primeiros traumas e como dar a volta por cima.
Logo de início temos um texto introdutório do próprio Mauricio falando sobre a iniciativa de publicar essa história e sobre o personagem Jeremias:
“Nas minhas historinhas, o Jeremias sempre viveu num ambiente ideal, no qual eu acredito em que todos convivem em harmonia, independentemente da cor de pele. Mas sei que, infelizmente, não é assim na vida real (…) Pele me ajudará inclusive a corrigir uma injustiça histórica: apesar de ser um de meus primeiros personagens, o Jeremias nunca havia protagonizado uma revista sequer”.
Isso já te deixa com um clima muito interessante para começar a ler a história criada por Rafael Calça e Jefferson Costa, que tiveram a difícil tarefa de falar sobre racismo, mas manter um clima relativamente leve e juvenil característico da Turma da Mônica. E eles conseguiram! O que eles fizeram foi nada mais do que a melhor a história que o personagem esteve (não foi uma tarefa difícil, já que ele nunca teve muito espaço) e, de certa forma, uma narrativa de origem. Você pode encarar Pele como a primeira história do Jeremias, como ele ganhou seu boné, conheceu seus amigos e construiu sua personalidade.
Queria falar com mais detalhes dos desenhos de Jefferson, que possuem uma leveza e beleza incríveis. Jeremias consegue ser muito descolado e ao mesmo tempo infantil. Os cenários são super caricatos e ao mesmo tempo reconhecíveis. E sem falar nas cores que compõem cada página como se fosse um grande quadro único. Falando sobre o roteiro de Calça, preciso aplaudir sua coragem de colocar momentos cruelmente reais e embarcar com tudo numa melancolia causada pelo racismo que atinge o protagonista. Se esse fosse um personagem criado do zero, talvez esse impacto fosse reduzido, mas, ao sabermos que isso está se passando no universo da Turma da Mônica, torna tudo mais impactante. Você nunca mais olhará para Jeremias da mesma forma. E, de certa forma, para toda a concepção mais infantil destes personagens.
Eu realmente espero que essa seja uma primeira Graphic de várias, onde Jeremias seja o protagonista. Onde poderia se explorar aventuras com Franjinha, seus pais (que são muito bem trabalhados nessa história) e diversas outras situações da vida, sem necessariamente precisar falar do racismo como o tema central. Levar o personagem para outros lugares e criar cada vez mais camadas para ele para que deixe de ser somente “o menino negro da turma”. A edição também encerra com ótimos textos complementares falando sobre a história do Jeremias e bastidores da confecção desse quadrinho.
Acredito que esse é o típico quadrinho que deveria ser passado em colégios, lido entre pais e filhos e ter um lugar na estante de qualquer um que tenha um grande carinho pela Turma da Mônica. Pele é a décima oitava Graphic deste selo mais sério e pode ser a primeira da sua coleção caso tenha decidido explorar essas histórias.
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