Em março de 1940, nascia nas páginas da revista Detective Comics um personagem muito especial. Apelidado inicialmente de “garoto maravilha” (boy wonder no original), ele servia como atração para o público infantil que precisam de alguém para se identificar nas histórias de um certo Cavaleiro das Trevas até então solitário. Para muitas pessoas, ele foi o primeiro sidekick da história dos quadrinhos e também o mais popular. Não é a toa que todos os outros que vieram depois acabaram se tornando uma referência a ele. Mais do que isso, seu nome se tornou um manto a ser utilizado por vários personagens já que a evolução sempre fez parte de sua essência. Todos esses detalhes são apenas alguns dos vários pontos importantes da história do herói que este mês completou 80 anos de existência: O Robin.
Quando o assunto Robin está em pauta, o nome que mais se destaca é o de Dick Grayson. Por ter sido o primeiro a usar o uniforme, ele acaba sendo o primeiro a ter os holofotes voltados para si. Este é o caso de todas as questões envolvendo o personagem como a polêmica relação dele com o Batman no início de sua carreira, por exemplo. Na década de 1950, o psiquiatra Fredric Wertham com o seu livro “A Sedução do Inocente” lançou uma campanha que tinha como principal intuito provar que os quadrinhos eram motivadores da delinquência juvenil por conta do teor de sexo e violência nas histórias. Obviamente, a dupla dinâmica não poderia ficar de fora. Afinal, era muito peculiar para a época a ideia de um homem rico adotar um jovem menino para morar com ele em sua mansão. Isso, é claro, era apenas uma das coisas que viria deixar Wertham desconfiado de uma relação homossexual entre Batman e Robin. Infelizmente, as primeiras histórias da dupla não contribuíram para que o debate esfriasse. Pelo contrário, pareciam jogar mais lenha na fogueira ainda. Em um artigo de André Cabette Fábio para o Nexo Jornal temos alguns exemplos bem claros disso.
Polêmicas a parte, vale a pena passar para outro ponto importante da história do Robin. Como já dito, Grayson foi o primeiro a utilizar o codinome. Com o tempo, ele cresceu e amadureceu até se tornar o Asa Noturna. Logo depois vieram outros personagens a vestir o manto do ajudante do Batman. São eles: Jason Todd, Tim Drake, Damian Wayne, Stephanie Brown e Carrie Kelly. Cada um deles tem a sua particularidade marcante como, por exemplo, Jason que morreu no arco “Uma Morte em Família” após ser espancado pelo Coringa com um pé de cabra. Anos depois, renasceu como o vilão/anti-herói Capuz Vermelho.
Um aspecto interessante sobre a figura do Robin e a trajetória de Jason é que isso nos faz lembrar de um personagem da concorrente: Bucky/Soldado Invernal. Criado um ano depois, o ajudante do Capitão América teve um relativo sucesso no começo e também foi repaginado. Alguns fãs podem notar algumas semelhanças dele com Robin, o que é algo comum nos quadrinhos de super-heróis. Inclusive, isso não ficou de fora no crossover Batman & Capitão América em que vimos os dois sidekicks se conhecendo enquanto enfrentam Coringa e Caveira Vermelha. No Brasil, a história que contou com arte e roteiro de John Bryne foi publicada em 1998.
Fora das páginas dos quadrinhos, o Robin também teve seus momentos em outras mídias. Como já era de se esperar, a sua versão mais popular é a vivida por Dick Grayson. A primeira e mais popular de todas as versões live action do Robin é a vivida por Burt Ward na série dos anos 1960 que, vale destacar, foi referenciada no crossover da CW Crise nas Infinitas Terras. No cinema, o personagem foi vivido por Chris O’Donnell em Batman Eternamente (1995), Batman e Robin (1997) e em Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) Ressurge por Joseph Gordon-Levitt. Já nas duas primeiras temporadas de Titãs, Brenton Thwaites interpreta Dick/Robin enquanto Curran Walters faz a primeira versão live action de Jason Todd. É somente nas animações da DC que praticamente todos os outros Robins aparecem como é o caso, por exemplo, de Carrie Kelly (Ariel Winter) na adaptação de Batman: O Cavaleiro das Trevas.
Este artigo encerra essa longa viagem pela extensa carreira desse herói tão longevo lembrando que ainda há muito mais a ser comentado sobre ele que é muito mais do que apenas um sidekick. Em outras palavras, Robin é o nome de um ícone um manto marcado pela evolução e pelo tempo.
Leia mais:
- Batman, Robin e o debate sobre a relação homoerótica entre os dois
- [Momento do Renegado] A Sedução do Inocente (A Mãe de Todas as Safadezas)
- O Multiverso televisivo da DC Comics – Olhar Literário
- A Influência de “O Cavaleiro das Trevas” através do tempo – Olhar Literário
- Crítica Batman Eternamente (1995) – Leituraverso
- Crítica Batman & Robin (1997) – Leituraverso
- Crítica Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) -Leituraverso
- Crítica Titãs – primeira temporada
Olhar Literário é uma coluna escrita por Marcus Alencar. Marcus é redator no site Leituraverso e um dos hosts do podcast Leituracast