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Spoilers: Esse texto contém spoilers de alguns episódios Doctor Who (Era Clássica e Moderna)
O mês de novembro se faz presente e traz consigo a seguinte questão: “escrever ou não escrever sobre Doctor Who”? A resposta é elementar, meus caros leitores, tendo em vista que se trata de uma verdade universalmente conhecida que no dia 23 a série protagonizada atualmente por uma Senhora do Tempo completará mais um ano de existência. Com isso em mente aproveito a oportunidade para comentar sobre episódios cheios de referências e crossovers inusitados com o universo da literatura.
Seguindo uma sequência linear temos uma parada obrigatória em um arco do 2º Doutor (Patrick Troughton) intitulado The Mind Robber. Na trama, para escapar da erupção vulcânica em Dulkis o Senhor do Tempo move sua TARDIS para fora do tempo e espaço. Essa manobra faz com que ele e seus companheiros Jaimie (Frazer Hines e Hamish Wilson em uma parte do arco) e Zoe (Wendy Padbury) sejam jogados para um vazio sem fim onde são ameaçados por robôs brancos. Após escapar desse ataque eles se encontram em uma espécie de terra de ficção onde é comum encontrar personagens como a Rapunzel dos contos escritos pelos Irmãos Grimm e Lemuel Gulliver do clássico “As Viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift.
Ainda na Era Clássica de Doctor Who mas agora com um link relacionado com a moderna temos a influência do icônico detetive dos livros do escritor Sir Arthur Conan Doyle. Em “The Talons of Weng-Chiang”, um dos arcos preferidos dos fãs do 4º Doutor (Tom Baker), temos uma premissa na Era Vitoriana envolvendo vários desaparecimentos de mulheres, um mágico com poderes incríveis, citação à Jack O Estripador, uma marionete assassina e ratos gigantes no esgoto. Junte tudo isso com o Doutor e Leela (Louise Jameson) no melhor estilo Sherlock Holmes e Dr. Watson. O arco não só traz referências as histórias da dupla como também mostra o Senhor do Tempo utilizando técnicas de investigação bem parecidas. Além disso tem a coincidência da adaptação de O Cão dos Baskervilles, com Basil Rathbone no papel principal, ter estreado no mesmo ano em que esses episódios foram exibidos.
Em The Snowmen, especial de natal do 11º Doutor (Matt Smith), vemos novamente o protagonista no mesmo período histórico em que sua regeneração passada esteve mas agora em uma situação totalmente diferente. Enquanto o 4º levava sua companheira para apenas uma viagem o 11º está em um momento de reclusão após ter perdido dois amigos. No entanto isso não dura muito por conta de uma trama sinistra envolvendo bonecos de neve aparecendo aleatoriamente em Londres e crescendo em tamanho e poder. Nesse episódio a referência é mais visual e faz link com o fato do showrunner de Doctor Who na época, Steven Moffat, ser o mesmo de Sherlock.
No arco conhecido como Timelash temos uma aventura na qual o 6º Doutor (Colin Baker) e Peri (Nicola Bryant) viajam para o planeta Karfel, já visitado pelo Senhor do Tempo em sua terceira regeneração, que agora está sendo governado por Borad (Robert Ashby), um ditador que não aparece presencialmente, mas controla tudo por meio de uma tela no melhor estilo “1984” de George Orwell. Junto da dupla está um rapaz do século 19 chamado Hebert que entra na TARDIS por curiosidade e participa de toda a trama. Nos minutos finais é revelado que se trata de H.G. Wells, o grande pioneiro da ficção cientifica que tem suas obras clássicas referenciadas em diferentes momentos dos episódios.
Para a grande maioria do público Robin Hood é um personagem conhecido desde sempre pelas suas adaptações para o cinema. No entanto ele já teve várias de suas histórias contadas por diferentes autores. Entre eles, Alexandre Dumas, conhecido por clássicos como “Os Três Mosqueteiros” e “O Conde de Monte Cristo”. Em Robots of Sherwood, o 12º Doutor (Peter Capaldi) e Clara (Jenna Coleman) conhecem o icônico herói que no episódio é interpretado por Tom Riley. Ambos se unem apesar da rivalidade para confrontar os estranhos robôs que ameaçam Nottingham.
Aliás, quando o assunto é crossover com escritores e/ou personagens um episódio certamente não pode ficar de fora da lista: The Haunting of Villa Diodati. Na trama, a 13º Doutora (Jodie Whittaker) leva seus amigos para o ano de 1816 na Villa Diodati na noite em que a escritora Mary Shelley (Lili Miller) teve a inspiração de criar seu personagem mais clássico: Frankenstein. Vale lembrar que logo no início desse encontro Graham O’Brien (Bradley Walsh) faz uma breve citação de uma frase dos romances de Jane Austen, uma referência bem colocada em uma aventura que contou com a participação de outros nomes da literatura (Lord Byron, Percy Shelley e John Polidori) que estavam ali presentes em uma noite conhecida por ter sido muito inspiradora. Como se isso não fosse o bastante ainda temos o vilão conhecido como Cyberman Solitário (Patrick O’Kane) que tem características muito parecidas com o próprio Frankenstein.
Para encerrar esse texto escolho compartilhar uma reflexão sobre um momento importante desse episódio protagonizado pela Doutora. Afinal de contas, ela e cada regeneração anterior sabe o quanto cada vida é importante não só no mundo como no universo. E, por esse motivo, apagar da linha do tempo um (a) autor (a) criaria uma onda avassaladora que mudaria tudo em um piscar de olhos e assim uma infinidade de influências e contribuições literárias seriam perdidas. Por isso Doctor Who e suas facetas literárias nos lembram o quanto palavras importam pela diferença que fazem na história como um todo. Sem elas e o uso diferenciado de cada mente criativa que as utilizou não seria possível imaginar o mundo tal qual conhecemos hoje em dia pois o mesmo não existiria.
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