Toda história tem inicio, meio e fim. Este fato óbvio pode ser considerado uma regra narrativa tradicional. Sobre isso, vale lembrar que todo leitor tem sua primeira vez com algum tipo de leitura. Aliás, se formos pensar em um contexto mais amplo: ler é um ato de descoberta. A partir do momento em que abrimos os olhos para o mundo estamos lendo cada mensagem enviada seja ela apenas visual, verbal ou escrita. Por esse motivo, é sempre importante ter cuidado com o primeiro passo, esse responsável por criar uma espécie de desejo literário. Foi pensando nisso que resolvi através deste artigo compartilhar algumas das minhas experiências literárias.
Assim como muitas pessoas, principalmente aqui no Brasil, uma das minhas primeiras experiências com algum tipo de literatura foi com os quadrinhos da Turma da Mônica. Com um estilo leve e sempre bem-humorado, as história de Mauricio de Souza sempre me encantaram até mesmo quando ainda não sabia ler. Eu apenas ria das imagens, mesmo sem conseguir absorver a mensagem textual. Isso acontecia graças à riqueza da narrativa visual dessas revistas. Com o passar do tempo, pude evoluir o meu entendimento e ler de forma mais completa. Por esse motivo, é que considero fundamental que toda criança tenha alguma experiência com história em quadrinho. Inclusive, é importante ressaltar que consumir este tipo de produto não nos afasta dos livros. Muito pelo contrário. Também é importante que haja estímulos externos para que seja feita uma ponte bem sólida entre ambos. Do contrário, oportunidades enriquecedoras serão perdidas.
Outro tipo de leitura importante são aquelas voltadas para o público adolescente. Por ter vivido grande parte da minha adolescência nos anos 90, sinto-me forçado a utilizar referências da época. Nesse caso, será apenas uma do qual me recordo no momento: o livro “A Montanha Dos Ossos de Dragão“, de Ivan Jaf. Com apenas 88 páginas, a publicação trazia a aventura de arqueólogo que descobre um dente fossilizado de 500 mil anos atrás. Ou seja, uma aventura simples, de linguagem fácil e acessível. Talvez este tenha sido o inicio da minha vida de leitor. Ou seria reinicio?
Falando em recomeços, não posso esquecer do momento em que conheci a saga “Percy Jackson e os Olimpianos“, provavelmente o mais conhecido trabalho do escritor e historiador Rick Riordan. Apesar de duas adaptações bem fracas na maioria dos aspectos, os livros nunca me desanimaram. O principal motivo que fez com que eu fosse conquistado por sua obra foi justamente a possibilidade de me identificar com o personagem principal. Curiosamente, esta relação de identificação foi bem parecida com a que tive quando conheci meu herói favorito dos quadrinhos: o Homem-Aranha. É por motivos como esses que valorizo muito este tipo de literatura que não só se comunica com o seu público mas o representa, independente de idade. Afinal, só fui conhecer os livros de Riordan depois de “velho”.
Por último, mas com certeza não menos importante, temos aquelas leituras que podem receber o merecido rótulo pertinentes. É o caso de obras cuja mensagem vai além do seu tempo justamente pelo fato da crítica ser tão pertinente nos dias atuais. Se posso citar dois exemplos que me marcaram, escolho “1984″, de George Orwell, e “Ensaios Sobre a Cegueira“, de José Saramago. O primeiro impacto de ler obras como essas pode ser descrito como um “soco no boca do estômago” seja pela agonia que senti ao viver essas histórias ou pela reflexão profunda que tive após ler cada uma delas. Enfatizo a expressão viver a história pois graças ao talento de autores tão marcantes pude experimentar as sensações de seus personagens. Sofri com eles de um modo totalmente único.
Enfim, encerro este artigo com a reflexão de quer ler é, e sempre será, importante independente da sua experiência. Todos temos experiências ruins na vida. E com a literatura não é diferente. As vezes somos apresentados à grandes obras antes do momento certo e isso nos desestimula. As vezes, encontramos a leitura certa no momento ideal de nossas vidas. Portanto, por uma questão de esperança acredito que a vida de um leitor não esteja necessariamente fadada a um fim definitivo. Pelo contrário, acho que ela apenas está buscando o momento para renascer tal qual uma fênix.
Olhar Literário é uma coluna escrita por Marcus Alencar. Marcus é redator no site Leituraverso e um dos hosts do podcast Leituracast.