Alerta de spoiler: Esse texto trata de algumas revelações importantes da temporada.
Neste domingo (03) foi ao ar o último episódio da Parte 2 da temporada final de Attack On Titan, transmitido para o ocidente pela Crunchyroll. Esta nova leva de 12 episódios prometia encerrar a saga de Eren Jaeger, Mikasa e Armin contra os titãs e outros opressores, mas no mesmo dia da transmissão do último episódio tivemos o anúncio de uma Parte 3 em 2023. De toda maneira, a Parte 2 deixa um gosto amargo de decepção, apesar de ter momentos marcantes (principalmente quando focava em Eren).
Nesta temporada finalmente a Guerra começou, com Marley invadindo a Ilha de Paradis com Zepelins, tanques de guerra e uma infantaria gigantesca. Será que o plano da eutanásia dos eldianos de Zeke será seguido por Eren? Como resolver essa situação? Com esta pergunta em mente entramos na segunda parte da temporada final de Attack On Titan. Temporada esta animada pelo estúdio MAPPA, onde percebemos mudanças interessantes nos traços dos personagens. Mas e a narrativa? Quesito este sempre tão complicado de se implementar e de entender no anime.
Desta vez tivemos uma narrativa mais simples, com os fatos acontecendo na tela em si, mas sem deixar de usar de muitos flashbacks ou interpolações para contar os fatos. Não foi muito complicado entender o comportamento e atitudes de Eren durante toda a temporada final, pois descobrimos um poder único do Titã de Ataque: “saber o futuro”. Com isto descobrimos que quase todos os eventos principais do anime aconteceram com uma certa manipulação de Eren que desejava não só acabar com o ciclo de ódio contra os eldianos, como também impor justiça em nome de Ymir, que agora deixou de ser uma entidade abstrata para ganhar um rosto e uma história, no melhor episódio da temporada.
É nítido que o anime tenta inserir a mensagem que não há mocinhos nesta história. Não há certos ou errados. A mesma pessoa que mata por ódio é a vítima de uma perpetuação de subjugação, ódio e tortura psicológica extrema. E o ciclo de ódio continua, inclusive a obra se apropria de símbolos do holocausto para tal. Attack on Titan toca em temas como a política de massas, lavagem ideológica e a alienação que pode gerar um ódio capaz de assassinar a sangue frio outro ser humano. E é interessante causar esse tipo de reflexão no espectador. Mas não é porque o assassino tem uma “justificativa” que devemos compreender de boa tal ato. E neste ponto o anime tenta enfiar goela abaixo no espectador uma redenção de alguns personagens como a de Gabo, princeipalmente. Que não funcionou.
E como a excelente abertura do anime “Rumbling” anunciava, temos a ativação da grande arma de extermínio da ilha de Paradis. E a partir deste ponto Attack on Titan se perde muito, com um ritmo arrastado e personagens com motivações inconsistentes. E aqui está o ponto chave para que a avaliação desta temporada do anime seja decepcionante. Há muitas decisões e alinhamentos de personagens importantes sem uma fundamentação consistente. Como Armin, Mikasa, Hange e os outros se unirem a marleyanos contra a movimentação de Eren sob a justificativa de “sou contra genocídio“. Ok, todos somos contra genocídios, mas até aonde você é capaz de agir contra alguém que você tem estima, que conta com uma força ridiculamente superior e que está agindo para o seu próprio benefício? E para evitar mortes você está disposto a causar mais mortes? Soa um tanto hipócrita, não é mesmo? Não que o anime não reflita sobre isso, mas o problema é a motivação dos personagens agirem para que se chegue a tal reflexão.
Outro ponto muito complicado para o anime é ter uma primeira metade de episódios que justifiquem a atitude do Eren, e uma segunda metade onde mostra que tal justificativa é uma balela. Eren ativa o Estrondo para salvar os eldianos da ilha de Paradis, seus amigos de infância, ao invés de salvar as outras pessoas do mundo que odeia a sua própria raça. Uma atitude extrema, mas dá pra enxergar sua motivação. Porém após ativar o Estrondo, simplesmente Eren vira as costas para seus amigos e deixa eles lidarem com o caos que o próprio protagonista poderia evitar com um simples comando de pensamento. Eren age em causa própria? Por vingança? Pelos eldianos? Por Ymir? Por seus amigos? Não dá pra achar um sentido nisso. Um ponto crucial do anime.
Por fim Attack on Titan teve coragem de estremecer suas estruturas nesta temporada final, porém tenta intelectualizar seus temas de maneira artificial. Quem já acompanhou pelo mangá sabe que ainda há muitas águas para rolar debaixo dessa ponte. E são águas ainda mais complicadas. Para quem quer ver apenas destruição e pisoteamentos podem ficar animados, mas para quem se acostumou com um anime com uma história muito bem elaborada e personagens com motivações consistentes, esta segunda parte foi um tanto desanimadora, abrindo receios do que ainda pode acontecer na terceira (e última) parte da temporada final de Attack on Titan em 2023. Aguardemos.
Attack on Titan: Temporada Final (Parte 2)
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Nota