Quando o assunto é adaptação de histórias em quadrinhos para o cinema, logo lembramos de uma lista enorme de produções com heróis da Marvel e DC que fizeram tanto sucesso que praticamente dominaram a indústria cinematográfica, mas e as produções do cinema nacional?
Para encontrar essa resposta é preciso fazer uma pesquisa que faz paradas em diferentes pontos no tempo e o resultado dessa viagem está logo a seguir com essa lista de filmes nacionais que adaptaram, fizeram referência ou apenas se inspiraram na arte das HQs. Confira:
O Judoka (1973)
O filme conta a história de Carlos que, após salvar um professor de judô, passa a treinar para se tornar um grande judoca. A adaptação tem como base uma série de quadrinhos publicada pela Editora Brasil-América (EBAL) criada por Pedro Anísio e Eduardo Baron. Sobre o herói, fica a curiosidade dele também ser uma referência ao Judô-Master (Mestre Judoca no Brasil), personagem original da editora Charlton Comics cujas histórias também foram publicadas pela EBAL até o seu cancelamento. Inclusive, o Mestre Judoca apareceu na primeira temporada de Pacificador.
Em 2018, uma campanha no Catarse foi realizada para resgatar histórias de um dos grandes autores das aventuras do Judoka: o desenhista e roteirista Floriano Hermeto de Almeida Filho. O projeto foi bem sucedido e teve encerramento em setembro desse mesmo ano.
Cidade Oculta (1986)
Anjo (Arrigo Barnabé) é um ex-presidiário que se envolve com a criminalidade de São Paulo após reencontrar Japa (Celso Saiki), seu companheiro no momento em que foi preso e que agora é chefe de uma gangue. Através dele, conhece uma bandida e estrela de shows chamada Shirley Sombra (Carla Camurati) com quem se envolve em várias aventuras contra Ratão (Cláudio Manberti), um policial corrupto que persegue o trio em busca de um acerto de contas.
Dirigido por Chico Botelho, o filme tem um estilo claramente influenciado no cinema noir além de referências sutis à linguagem e estética dos quadrinhos, algo que pode ser percebido no estilo das cenas de ação e na composição dos personagens principais. Vale ressaltar também que o roteiro do filme se inspira nos quadrinhos de Will Eisner, em especial do detetive conhecido como “Spirit” que também ganhou uma adaptação para os cinemas em filme dirigido por Frank Miller em 2008.
As Sete Vampiras (1986)
Com direção de Ivan Cardoso, o filme conta a história de um botânico que perde o controle sobre uma planta carnívora de origem africana que o devora. Após este evento, sua viúva monta um espetáculo de dança chamado “O Balé das Sete Vampiras” como forma de terapia. Paralelo a isso, um detetive atrapalhado e sua secretária precisam desvendar uma série de assassinatos misteriosos que ameaçam os bastidores do show de balé.
Com uma trama de situações absurdas como essas As Sete Vampiras faz referências aos quadrinhos de várias formas. Esse é o caso da dinâmica da dupla de protagonistas que lembra um pouco o seriado de Batman e Robin da década de 60, por exemplo. Essas referências ocorrem graças à participação do escritor Rubens Francisco Lucchetti, também roteirista de HQs, no roteiro do filme. É por conta dele também que há um personagem chamado Raimundo Marlou que lê quadrinhos policiais e cujo nome é uma homenagem ao escritor de romances policiais Raymond Chandler.
O escritor também foi responsável pelo roteiro da adaptação em quadrinhos inspirada no filme. “As 7 Vampiras” foi publicado pela Editora Press em 1986 e contou com de arte de Mozart Couto.
O Escorpião Escarlate (1990)
Glória Campos (Andréa Beltrão) é uma garota apaixonada pela radionovela “As Aventuras de Anjo”, transmitida pela Rádio Mundo. O que ela menos esperava era se tornar parte da história ao ser perseguida pelo vilão Escorpião Escarlate, responsável por uma série de crimes contra a sociedade.
Também dirigido por Ivan Cardoso, cineasta conhecido por misturar gêneros como comédia e terror (o “terrir”), o filme é inspirado no seriado radiofônico criado por Álvaro Aguiar que também roteirizou as revisitas “Aventuras do Anjo” que já foram desenhadas por Juarez Odilon, Walmir Amaral e, principalmente, Flávio Colin.
Ed Mort (1997)
O detetive Ed Mort (Paulo Betti) é contratado por uma mulher misteriosa para encontrar o seu marido desaparecido, o Silva (José Rubens Chachá), um especialista em disfarces. Paralelo a isso, Ed Mort se envolve numa rede de intrigas envolvendo o dono da indústria de salsichas Delbono e o desaparecimento de crianças em um programa infantil.
O filme é a adaptação de um personagem dos contos de Luís Fernando Veríssimo que depois foi adaptado para os quadrinhos pelo desenhista Miguel Paiva. Por se tratar de uma história de humor, o principal elemento dos quadrinhos que serve de base para essa adaptação é a “gag” (piada rápida), recurso muito utilizado em tiras de jornal. O mesmo pode ser dito de várias cenas com situações típicas dos quadrinhos, como um paraquedista surgindo do nada para salvar o protagonista de uma queda de avião. Outro detalhe bem interessante é a caracterização e interpretação do ator Paulo Betti que captou o espirito do personagem.
Essa não foi a primeira vez que o detetive ganhou vida em uma adaptação. Em 1993, Ed Mort apareceu na televisão com Luiz Fernando Guimarães em dois momentos diferentes. Primeiro, no especial de final de ano da Globo Ed Mort – Nunca Houve uma Mulher como Gilda, e em 1994, no Programa de Auditório. E em 2011, Fernando Caruso trouxe mais uma versão live action do personagem em uma série exibida pelo Multishow.
O Homem que Copiava (2003)
André (Lázaro Ramos) é um operador de fotocopiadora numa papelaria em Porto Alegre. Ele se apaixona pela balconista Silvia (Leandra Leal) e, para conquistá-la, resolve comprar algo na loja em que ela trabalha. Como não possui dinheiro suficiente, resolve falsificá-lo e se envolve numa trama perigosa com os seus amigos.
Uma das principais referências aos quadrinhos no filme está nas animações feitas pelo desenhista Allan Sieber que são inseridas com várias finalidades como expressar os sentimentos do protagonista, contar fatos de seu passado e até suavizar certas situações. O recurso é tão bem utilizado a ponto de ser facilmente perceptível referências não só na estética como até mesmo a linguagem dos quadrinhos. Além disso, o protagonista também desenha em alguns momentos e aparenta ser fã do Surfista Prateado.
Nina (2004)
Nina (Guta Stresser) é uma garota perturbada pelas humilhações que sofre com a dona Eulália (Myriam Muniz), a proprietária do apartamento onde mora. Para reverter a situação, a jovem de sensibilidade aguda e mente fragilizada decide acabar com o seu sofrimento, transformando-se assim em um ser extraordinário de acordo com sua própria filosofia de vida.
Adaptação livre do clássico “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévski, o filme marcou a estreia de Heitor Dhalia como diretor. Assim como “O Homem que Copiava”, a principal relação desse longa com os quadrinhos está na animação, também feita por um quadrinhista, que nesse caso foi Lourenço Mutarelli.
Enfim, esses são apenas alguns exemplos dentre vários de filmes nacionais que já se relacionaram com os quadrinhos das mais variadas formas. Você já conhecia? Conte pra gente nos comentários e nos avise caso queira desvendar mais da história do cinema nacional seja com produções como essas ou de outros tipos.