Continuando minha saga pelo Cosmere, universo compartilhado do escritor Brandon Sanderson, é hora de iniciar uma de suas trilogias mais aclamadas e influentes entre os leitores e escritores de fantasia: a Primeira Era de Mistborn – Nascidos da Bruma. O talento de Sanderson já era evidente em Elantris e na Trilogia Executores, mas agora em O Império Final ele mostra toda sua criatividade ao conceber um cenário complexo onde política e magia se misturam.
No primeiro volume da série, somos apresentados ao Império Final, um mundo de cinzas e brumas governado pelo imperador imortal conhecido como Senhor Soberano. Sob o seu governo, a população foi dividida em dois grupos: os nobres e os skaa, sendo que estes últimos são considerados a classe inferior. Entre eles está Kelsier, um Nascido da Bruma com poderes alomânticos. Através de sua magia e influência, Kelsier tem um plano audacioso para derrubar o império e seu governante, mas para isso precisará da ajuda de Vin, uma jovem e talentosa ladra com enorme dificuldade para confiar nas pessoas.
A primeira característica que faz de Mistborn um ótimo exemplo de como escrever fantasia é o seu complexo sistema de magia. A alomancia, como é chamada, concede diversos dons aos seus usuários através da ingestão de metais específicos. Porém, o que a torna tão fascinante são as limitações e condições que ela impõe aos alomânticos. Resumindo, é uma ferramenta muito útil, mas que não resolverá tudo de uma hora para outra. Isso é bom pois, enquanto eu lia, sempre ficava com aquela sensação de que algo imprevisível poderia acontecer a qualquer momento.
O contexto político e social construído por Sanderson também é excepcional ao mostrar como o Império Final se mantém graças ao poder dos nobres e à força de trabalho dos skaa, mesmo que estes sejam colocados à margem da sociedade. Tudo isso é regido pela mão impiedosa do Senhor Soberano, uma figura tão obscura que poucas pessoas conhecem seu rosto. Tudo o que se sabe é que, supostamente, ele enfrentou as Profundezas e salvou a humanidade de um mal antigo, mas isso não condiz com sua postura tirânica.
A evolução dos personagens também é muito bem-feita. Por mais que eu considere Kelsier e Brisa os únicos personagens carismáticos do livro, não dá para negar que Vin foi bem desenvolvida, de modo que suas atitudes são coerentes ao longo da trama e levam os leitores a torcer por ela. Cada um tem sua importância e alguns vão revelando seu potencial com o tempo.
Por ser o primeiro da saga, O Império Final precisa explicar muitas coisas para que façam sentido, desde o sistema de magia até a estrutura política. E mesmo que não seja enfadonho nem nada do tipo, ainda faz com que o ritmo da narrativa seja um pouco mais lento no início. Contudo, sobra bastante espaço para cenas de ação da metade em diante que, por sinal, são ágeis e empolgantes pela criatividade com que foram concebidas.
Os três primeiros volumes de Mistborn formam a Primeira Era e os quatro livros posteriores constituem a Segunda Era (o quarto volume, The Lost Metal, ainda não foi lançado). Apesar desse detalhe, a conclusão do primeiro volume é satisfatória por si só, mas deixa um convite tentador para nos aprofundarmos mais na história com a leitura de O Poço da Ascensão e O Herói das Eras.
Após a leitura de O Império Final, eu consigo entender porque tantos escritores de literatura fantástica, inclusive nacionais, tomam Mistborn como referência. Brandon Sanderson dá uma aula sobre como criar um enredo envolvente, complexo e criativo dentro de um cenário literário onde tantos elementos já são conhecidos.
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