Só quem tem alguma fobia sabe o quão angustiante pode ser passar por determinada situação ou até mesmo ver outras pessoas passando pelo mesmo. Pensando nisso, muitas produções de terror e suspense focam nesse gatilho emocional para prender a atenção dos espectadores. A Queda (Fall) também aposta nessa fórmula para evocar um medo comum entre as pessoas: a acrofobia, mais conhecida como medo de altura. Contudo, mesmo tendo sucesso em mostrar cenas aflitivas, temos de engolir muitos absurdos de roteiro e incoerências até chegarmos a esses momentos.
A narrativa do filme mostra a luta pela sobrevivência de duas amigas, Becky (Grace Fulton, de Shazam!) e Hunter (Virginia Gardner, de Os Fugitivos), após escalarem uma torre de rádio com 600 metros de altura e ficarem presas no topo sem meios para descerem.
Essa é a premissa de A Queda, simples e objetiva. A partir daí, o diretor e coescritor Scott Mann tinha duas tarefas: a primeira era nos convencer por que duas pessoas iriam subir em uma torre desativada no meio do nada; a segunda era criar uma dinâmica que mantivesse o nosso interesse ao longo dos 107 minutos de duração limitados a apenas um ambiente.
A solução para a primeira tarefa deixa a desejar, pois é um argumento muito fraco para aceitarmos que as duas mulheres embarquem nessa “aventura” sem sentido. Nos instantes iniciais do longa, vemos que Becky está passando por uma crise de depressão e alcoolismo após um incidente, além de ter uma relação conturbada com o pai, interpretado por Jeffrey Dean Morgan. Então, a amiga Hunter bate à sua porta com a ideia “brilhante” de escalarem a torre (em troca de alguns likes na internet) e, assim, enfrentar seus medos e todo aquele papo motivacional sem profundidade.
Se relevarmos esse detalhe e aceitarmos que elas precisavam realmente subir até lá, vem a questão da dinâmica da sobrevivência. Nesse ponto, o roteiro de A Queda consegue criar situações desafiadoras que alimentam a curiosidade sobre como elas conseguirão sair dali. Os ângulos de câmera e perspectiva realmente despertam aflição com a altura e a possibilidade da queda. Entretanto, quanto mais paramos para analisar a situação, vemos que algumas soluções são totalmente forçadas e incoerentes ou mesmo que o problema poderia ter sido resolvido de outras formais mais lógicas e óbvias.
Como se o fato de estarem presas a 600 metros de altura não fosse o suficiente, ainda surgem questões do passado e dramas pessoais que não geram nenhum apelo emocional e nem contribuem para o nosso apego com as personagens. Se o intuito de acrescentar esses elementos é gerar mais interação entre as duas amigas, mostra-se desnecessário em vista do perigo de morte com o qual elas precisam lidar.
Perto do fim, o filme apresenta um plot twist que chega a ser uma surpresa, mas não é o suficiente para salvar a trama. Para deixar um gosto ainda mais amargo, logo após essa reviravolta tudo parece acontecer rápido demais e algumas cenas que seriam fundamentais para uma conclusão satisfatória ficam de fora.
A Queda tem o mérito de se arriscar a desenvolver uma premissa simples em um cenário limitado e, nesse processo, apelar para um medo que aflige a maioria das pessoas. Porém, a falta de motivações convincentes e as ações incoerentes que são apresentadas impedem que mergulhemos na história.
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A Queda (2022)
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Nota