Tijolômetro – M3GAN (2023):
Desde antes de sua estreia, M3GAN vinha gerando muita desconfiança nos espectadores. Fosse pela aparente falta de originalidade ou então pela dancinha ridícula mostrada no trailer, o filme escrito por James Wan (de Annabelle e Invocação do Mal) tinha cheiro de fiasco. Porém, a grande quantidade de críticas e avaliações positivas após a estreia nos EUA reacenderam as expectativas. E agora que o longa chega ao Brasil, podemos comprovar em primeira mão que, de fato, a coerência do roteiro faz com que esta seja uma ótima produção dentro da galeria de “bonecos assassinos”.
Depois de perder os pais em um acidente, Cady (Violet McGraw) vai morar com sua tia Gemma (Allison Williams), uma roboticista viciada em trabalho. Gemma trabalha para uma empresa de brinquedos tecnológicos e está desenvolvendo um robô com inteligência artificial chamado M3GAN. Acreditando que pode ajudar Cady a superar o trauma e, por tabela, lucrar com seu projeto, a mulher presenteia a sobrinha com a “boneca”. O vínculo entre a criança e sua nova amiga é imediato, mas conforme M3GAN vai adquirindo conhecimento, chega à conclusão que deve fazer qualquer coisa para proteger sua dona, nem que precise ir até às últimas consequências.
Menina órfã… tia sem jeito para cuidar de crianças… uma inteligência artificial consciente… Nada disso é novidade no cinema, visto que pelo menos um desses elementos sempre está presente em algumas tramas, inclusive envolvendo bonecos maléficos como Chucky e outros. Porém, o que atrai em M3GAN é justamente a fidelidade do roteiro em seguir aquilo que propõe do início ao fim. Cady é uma menina triste e solitária que encontra consolo em uma máquina senciente desprovida de senso moral que apenas segue sua programação ao pé da letra.
Paralelo a esta premissa e ao clima de suspense e terror que ela gera, o filme levanta uma série de questionamentos pertinentes sobre a dependência tecnológica das pessoas e como isso vem ocorrendo cada vez mais cedo, desde a infância, onde a educação das crianças – que deveria ser função dos pais/tutores – fica a cargo de aparelhos eletrônicos ou telas de vídeo. Com isso, as interações humanas e os diálogos cara a cara entre duas pessoas ou mais estão ficando cada vez mais raros e, quando acontecem, parecem vazios.
Tudo isso é feito com um senso de humor que não economiza no sarcasmo. Por mais que algumas situações pareçam cômicas, não dá para ignorar o fato de que muitos absurdos do tipo acontecem. M3GAN apenas extrapola essa realidade a um nível onde as coisas fogem de controle – como acontece em diversos episódios da série Black Mirror – e pessoas acabam assassinadas.
As caras e bocas da boneca no decorrer do filme vão de profundas a perturbadoras em questão de segundos, mas a parte humana do elenco também não deixa a desejar. Quem se destaca é a atriz Violet McGraw que com apenas 11 anos transparece muita sinceridade durante as cenas dramáticas. Isso, por si só, já chama a atenção em um filme de terror que envolve crianças.
Todas as críticas e reflexões já mencionadas ficam evidentes ao longo da projeção, o que torna redundante as falas de alguns personagens. Pela forma como é exposto, as conclusões são tão óbvias que não precisariam ser verbalizadas. O outro ponto negativo é a falta de desenvolvimento do que acontece após a conclusão do conflito. Entretanto, tudo indica que ainda há chances de isso ser explorado futuramente em uma sequência já confirmada.
Se um trailer pode fazer um filme ruim parecer bom, o efeito oposto também é válido. Indo contra todas as expectativas pré-lançamento, M3GAN se mostra um filme inteligente, coeso, divertido na medida certa e que não deixa de trazer alguns temas oportunos para a sociedade atual.
Assista ao trailer:
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