Tijolômetro – O Pior Vizinho do Mundo (2023):
Falar sobre luto nunca é uma tarefa fácil. No cinema, nas produções que abordam o tema há sempre a tarefa de traduzir em tela todas as consequências da perda como por exemplo o sentimento de solidão e profunda tristeza, algo que aparece com certa frequência em dramas. No entanto, nada impede que haja uma mistura de gêneros que resulte em uma história muito bem contada e marcante que emociona e faz rir como é o caso de O Pior Vizinho do Mundo, filme estrelado por Tom Hanks que está disponível para aluguel no Prime Video e na Apple Tv.
Baseado no best-seller “Um Homem Chamado Ove“, do escritor Fredrik Backman, e na adaptação sueca de 2015, O Pior Vizinho do Mundo conta a história de Otto Anderson (Tom Hanks), um viúvo conhecido por ser mal-humorado e muito obstinado em seguir as regras. Quando uma família jovem e animada se muda para a casa ao lado, ele encontra na esperta e gravidíssima Marisol (Mariana Treviño) uma adversária à altura quando o assunto é manter o seu atual estilo de vida.
Apesar do ar aparentemente clichê da premissa, o filme entrega muito mais do que se espera, sendo dessa forma um verdadeiro exemplo de “dramédia”, ou drama cômico se preferir. Esse fato fica comprovado ao se perceber como a direção arrisca com segurança desde o começo em cenas que podem ser gatilhos para quem tem sensibilidade com questões como depressão e suicídio. A sensação de agonia ao ver o protagonista tentando se reencontrar com a esposa logo se dissipa com os obstáculos que o mesmo encontra no caminho, um detalhe que dá ainda mais oportunidade para Otto compartilhar seu mau humor com o mundo sem dó nem piedade em sequências naturalmente cômicas.
Nesse aspecto, algo que contribui de forma decisiva com o humor de O Pior Vizinho do Mundo é o comportamento do jovem casal Marisol e Tommy (Manuel Garcia-Rulfo). Enquanto ele representa um estilo mais inocente e bobo de vizinho, ela cativa o público rapidamente com seu sarcasmo e espontaneidade. Por conta disso, as interações de ambos com Otto são sempre boas e nunca maçantes. Tudo isso é possível graças ao elenco muito bem escolhido e a união do competente trabalho de direção de Marc Forster (Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível) aliado ao roteiro de David Magee (A Escola do Bem e do Mal) além do inegável carisma e talento de Tom Hanks.
Na parte técnica, O Pior Vizinho do Mundo também se destaca visualmente como sua paleta de cores. A fotografia de Matthias Koenigswieser marca os diferentes períodos de tempo de forma poética mostrando um passado mais colorido e iluminado enquanto o presente fica marcado por tons de cinza e apatia. Com isso, conseguimos entender como o próprio Otto se sente e até mesmo torcer para que essa mesma luz volte a ter presença em seu cotidiano. Esse mesmo elogio se aplica à trilha sonora, em especial para as músicas This Woman’s Work, da Kate Bush, e Til You’re Home da dupla Rita Wilson e Sebastián Yatra. Com uma beleza única nas letras e na melodia, as duas canções casam perfeitamente com as cenas em que são inseridas.
Com um olhar bem-humorado e emocionante sobre o luto, o filme é o contrário do que poderíamos esperar de uma história que aborda temas delicados, o que já o torna uma obra diferenciada e interessante. Mais do que isso, O Pior Vizinho do Mundo não carrega em si o peso de uma história que nos deixará tristes ao final de sua exibição. Na verdade, dará alguns motivos para rir enquanto nos permite refletir sobre maneiras diferentes de encarar a dor que é ficar após a perda de quem se ama.
Assista ao trailer:
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