Depois de uma primeira temporada que dividiu opiniões, a série brasileira 3% retorna à Netflix para dar continuidade à sua trama distópica. Contundo, ao invés de nos apresentar mais do mesmo, a produção parte por outro caminho, explorando diferentes pontos de vista e ganhando fôlego para o futuro.
Um ano após o Processo 104, reencontramos os personagens, cada qual seguindo com a sua vida. Às vésperas da seleção número 105, os líderes do Maralto descobrem um plano da organização clandestina Causa para impedir o processo de ser realizado no Continente. Divididos de acordo com sua ideologia, Ezequiel (João Miguel), Michele (Bianca Comparato), Rafael (Rodolfo Valente), Joana (Vaneza Oliveira) e Fernando (Michel Gomes) terão que escolher entre apoiar o “lado de lá” ou o “lado de cá”.
Dessa vez, todo o desenrolar da história se passa antes do Processo 105. Só por esse motivo a série já ganha um ponto favorável, pois foge do erro de repetir o enredo da temporada 1, onde o foco eram as provas as quais os jovens tinham que se submeter para conquistar o direito a uma vida melhor. Agora, o caminho escolhido aborda os bastidores do Maralto e da Causa. Isso não só apresenta novos integrantes ao elenco, como também explora figuras já conhecidas, dando mais profundidade aos seus atos.
Entre flashbacks e memórias perdidas, vamos relembrando, peça por peça, o passado de todos eles. Os dilemas pessoais de cada um exigem uma atuação mais intensa dos atores e, diferentemente do que ocorreu na fase anterior em alguns momentos, isso é alcançado na nova etapa.
Esse recurso de voltar no tempo com a narrativa também traz consigo muitas revelações sobre o Maralto e seus habitantes, inclusive o Casal Fundador, os idealizadores da ilha. Cada episódio consegue nos surpreender com algum fato novo sem parecer que está “forçando a barra”, pois a maioria tem uma justificativa satisfatória para acontecer daquela forma.
Percebemos que uma trama está evoluindo quando seus protagonistas vão adquirindo camadas, chegando até mesmo ao ponto de inverterem os papéis. Aqui, ninguém é inteiramente bom ou completamente malvado, porém cada um defende aquilo em que acredita, mesmo que precise manipular pessoas e situações para isso. Essa postura acaba derrubando de uma vez por todas a ideologia da meritocracia, que era contestada desde o primeiro arco.
Apesar do contexto distópico do programa, o roteiro faz questão de mostrar que alguns costumes não se perdem com o passar dos anos. Isso fica claro em um episódio no qual é celebrado uma espécie de carnaval de rua, onde a música cantada diz muito sobre o estado de espírito da população, não só a da série, mas também a nossa.
A abordagem que os produtores de 3% dão à segunda temporada é uma escolha inteligente para prosseguir dentro do gênero da distopia e ficção científica daqui para frente. Ainda que o título se refira a uma pequena parcela de privilegiados pelo sistema, vemos que quem ganha destaque realmente são os outros 97%.
Leia a crítica sem spoilers da primeira temporada de 3%
Crítica da terceira temporada de 3% sem spoilers
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