Tijolômetro – I’m Quitting Heroing
Há animes que cativam desde a premissa. “I’m Quitting Heroing” é um desses — começa com uma proposta ousada, instigante, que promete sacudir os alicerces da fantasia medieval tradicional. Um herói que não é venerado após salvar o mundo, mas rejeitado. Um protagonista overpower que decide trabalhar para o inimigo. Com esse início, é natural esperar uma jornada de reconstrução invertida, onde o herói reabilita o exército demoníaco e, quem sabe, repensa o que significa ser um herói. Por boa parte da temporada, essa promessa se cumpre com leveza e charme. Mas quando os episódios finais tentam intensificar o drama e desenterrar o passado trágico do protagonista, o ritmo tropeça e a proposta se dissolve em um final apressado e indeciso. Fica a dúvida: o que a obra queria ser, afinal?
Baseado na light novel de Quantum, com ilustrações de Hana Amano, “Yuusha, Yamemasu: Tsugi no Shokuba wa Maoujou” foi originalmente publicada em 2017 na plataforma Kakuyomu antes de ser adquirida pela Kadokawa. A adaptação em anime, lançada em 2022, ficou a cargo do estúdio EMT Squared, conhecido por trabalhos como Assassins Pride e Rainy Cocoa. A direção de Hisashi Ishii oferece um toque leve e funcional, casando bem com os momentos cômicos e o desenvolvimento gradual dos personagens. A arte é competente, com cenários que transmitem bem o ambiente de uma fantasia medieval misturada com elementos administrativos — como os setores do castelo demoníaco que o protagonista reorganiza. A cidade, ainda que pouco explorada visualmente, é funcional como pano de fundo e se torna um reflexo do estado do mundo após a guerra.
Do ponto de vista técnico, a obra não brilha em termos de animação ou coreografia. As cenas de ação são pontuais e servem mais para ilustrar a superioridade de Léo do que para empolgar visualmente. A trilha sonora cumpre seu papel de maneira discreta, sem grandes destaques. Um fato curioso é que, apesar de tratar-se de uma história de fantasia com temática militar, há pouca ênfase em batalhas prolongadas — o foco está mais na administração, na diplomacia e no diálogo entre os personagens, algo raro em animes do gênero. Essa escolha narrativa casa com o tom inicial da série, que parecia mais interessada em explorar o lado “corporativo” do castelo demoníaco do que em repetir combates épicos.
A melhor parte da temporada se concentra justamente nessa primeira metade, onde acompanhamos Léo aplicando suas habilidades sobre-humanas para melhorar setores como a logística, a defesa mágica e o bem-estar dos soldados. Há um charme quase episódico em ver como ele lida com cada general demoníaco, usando psicologia, estratégia e empatia. Nesses momentos, o anime se distancia da fórmula e nos convida a pensar sobre temas como liderança, reconhecimento e o papel do “vilão” em uma guerra. No entanto, essa construção é fragilizada quando se tenta puxar o tapete do espectador com uma virada emocional sobre a origem do herói.
A revelação do passado de Léo, sua real identidade e os verdadeiros motivos por trás de suas ações inserem um drama que não estava presente até então. É como se a série deixasse de acreditar na força de sua proposta inicial e tentasse criar um peso narrativo artificial. A partir daí, a subversão se transforma em melancolia. Léo deixa de ser o curioso herói rejeitado para virar uma entidade quase messiânica, incompreendida e temida — mas sem que o anime consiga convencer o espectador do porquê desse medo. A ameaça que ele representa é mencionada, mas nunca sentimos que ela realmente existe. E quando o “grande sacrifício” do final é rapidamente revertido, o impacto emocional evapora.
Ainda assim, “I’m Quitting Heroing” não é um fracasso. É uma obra mediana que flerta com o brilhantismo, mas que falta coragem ou planejamento para levar sua provocação até as últimas consequências. Ao invés de explorar com profundidade o que significaria um herói que abandona a humanidade, ela volta ao ponto de partida e encerra com uma resolução morna. O destino do exército demoníaco permanece incerto, e a crítica ao sistema de recompensas e punições no mundo humano fica subentendida — quase esquecida.
“I’m Quitting Heroing” encerra sua história nesta primeira temporada e, até o momento, não há planos oficiais para uma continuação. Talvez seja melhor assim: a obra parece ter dito tudo o que queria, mesmo que de forma apressada. Está disponível para streaming pela Netflix. Para quem busca algo fora da curva no gênero de fantasia, pode valer a pena — desde que aceite que nem toda subversão chega até o fim da jornada.Há animes que cativam desde a premissa. “I’m Quitting Heroing” é um desses — começa com uma proposta ousada, instigante, que promete sacudir os alicerces da fantasia medieval tradicional. Um herói que não é venerado após salvar o mundo, mas rejeitado. Um protagonista overpower que decide trabalhar para o inimigo. Com esse início, é natural esperar uma jornada de reconstrução invertida, onde o herói reabilita o exército demoníaco e, quem sabe, repensa o que significa ser um herói. Por boa parte da temporada, essa promessa se cumpre com leveza e charme. Mas quando os episódios finais tentam intensificar o drama e desenterrar o passado trágico do protagonista, o ritmo tropeça e a proposta se dissolve em um final apressado e indeciso. Fica a dúvida: o que a obra queria ser, afinal?
Baseado na light novel de Quantum, com ilustrações de Hana Amano, “Yuusha, Yamemasu: Tsugi no Shokuba wa Maoujou” foi originalmente publicada em 2017 na plataforma Kakuyomu antes de ser adquirida pela Kadokawa. A adaptação em anime, lançada em 2022, ficou a cargo do estúdio EMT Squared, conhecido por trabalhos como Assassins Pride e Rainy Cocoa. A direção de Hisashi Ishii oferece um toque leve e funcional, casando bem com os momentos cômicos e o desenvolvimento gradual dos personagens. A arte é competente, com cenários que transmitem bem o ambiente de uma fantasia medieval misturada com elementos administrativos — como os setores do castelo demoníaco que o protagonista reorganiza. A cidade, ainda que pouco explorada visualmente, é funcional como pano de fundo e se torna um reflexo do estado do mundo após a guerra.
Do ponto de vista técnico, a obra não brilha em termos de animação ou coreografia. As cenas de ação são pontuais e servem mais para ilustrar a superioridade de Léo do que para empolgar visualmente. A trilha sonora cumpre seu papel de maneira discreta, sem grandes destaques. Um fato curioso é que, apesar de tratar-se de uma história de fantasia com temática militar, há pouca ênfase em batalhas prolongadas — o foco está mais na administração, na diplomacia e no diálogo entre os personagens, algo raro em animes do gênero. Essa escolha narrativa casa com o tom inicial da série, que parecia mais interessada em explorar o lado “corporativo” do castelo demoníaco do que em repetir combates épicos.
A melhor parte da temporada se concentra justamente nessa primeira metade, onde acompanhamos Léo aplicando suas habilidades sobre-humanas para melhorar setores como a logística, a defesa mágica e o bem-estar dos soldados. Há um charme quase episódico em ver como ele lida com cada general demoníaco, usando psicologia, estratégia e empatia. Nesses momentos, o anime se distancia da fórmula e nos convida a pensar sobre temas como liderança, reconhecimento e o papel do “vilão” em uma guerra. No entanto, essa construção é fragilizada quando se tenta puxar o tapete do espectador com uma virada emocional sobre a origem do herói.
A revelação do passado de Léo, sua real identidade e os verdadeiros motivos por trás de suas ações inserem um drama que não estava presente até então. É como se a série deixasse de acreditar na força de sua proposta inicial e tentasse criar um peso narrativo artificial. A partir daí, a subversão se transforma em melancolia. Léo deixa de ser o curioso herói rejeitado para virar uma entidade quase messiânica, incompreendida e temida — mas sem que o anime consiga convencer o espectador do porquê desse medo. A ameaça que ele representa é mencionada, mas nunca sentimos que ela realmente existe. E quando o “grande sacrifício” do final é rapidamente revertido, o impacto emocional evapora.
Ainda assim, “I’m Quitting Heroing” não é um fracasso. É uma obra mediana que flerta com o brilhantismo, mas que falta coragem ou planejamento para levar sua provocação até as últimas consequências. Ao invés de explorar com profundidade o que significaria um herói que abandona a humanidade, ela volta ao ponto de partida e encerra com uma resolução morna. O destino do exército demoníaco permanece incerto, e a crítica ao sistema de recompensas e punições no mundo humano fica subentendida — quase esquecida.
“I’m Quitting Heroing” encerra sua história nesta primeira temporada e, até o momento, não há planos oficiais para uma continuação. Talvez seja melhor assim: a obra parece ter dito tudo o que queria, mesmo que de forma apressada. Está disponível para streaming pela Netflix. Para quem busca algo fora da curva no gênero de fantasia, pode valer a pena — desde que aceite que nem toda subversão chega até o fim da jornada.
Veja o trailer:
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