Tijolômetro: The Beginning After The End (1ª Temporada)

Logo nos primeiros minutos de The Beginning After The End, senti aquele frio na barriga típico de quem está prestes a encontrar um universo de alta fantasia aclamado. A expectativa era alta, alimentada por uma obra original repleta de nuances e uma construção de mundo que beira o épico. Mas conforme os episódios avançavam, a empolgação foi dando lugar à frustração, ao incômodo, e por fim, ao desapontamento. Seria exagero dizer que o anime arruinou tudo o que a novel havia construído? Talvez. Mas há algo de profundamente equivocado nesta adaptação que torna difícil qualquer defesa — mesmo para quem, como eu, costuma relevar muitos defeitos em prol de uma boa narrativa. Mas afinal, o que deu tão errado?
Baseado na popular web novel de TurtleMe, The Beginning After The End acompanha a história de Arthur Leywin, um poderoso rei reencarnado em um novo mundo de magia, monstros e política. Ao invés de um japonês comum atropelado por um caminhão (como manda o clichê isekai), temos aqui um monarca reencarnado como um bebê prodígio — o que por si só já é uma subversão interessante. A primeira temporada conta com 12 episódios e se propõe a acompanhar a infância de Arthur nesse novo mundo, contrastando sua antiga personalidade fria e estratégica com a influência de uma nova família amorosa. A premissa, embora não seja inovadora como um Re:Zero ou provocativa como Mushoku Tensei, carrega um charme próprio — ao menos no material original.
Infelizmente, o mesmo não pode ser dito da adaptação. Com direção de Haoliner Animation League e coprodução do estúdio GARDEN, a série animada é, em termos técnicos, decepcionante. A animação é estática, com movimentações artificiais e uma paleta de cores sem vida. O character design é genérico e as expressões faciais, quase inexistentes — especialmente durante a fase infantil do protagonista, em que sua aparência lembra um boneco Funko Pop mal renderizado. As batalhas, ponto alto de qualquer bom isekai, são constrangedoras. Não há coreografia, nem senso de impacto, e muito menos tensão narrativa — como visto na grotesca luta de avaliação da guilda, que mais pareceu uma brincadeira de crianças com espadas de brinquedo.
Se ao menos a história compensasse essas falhas técnicas, seria possível defender a obra com algum entusiasmo. Sempre fui do tipo que releva animação mediana quando a trama envolve e os personagens convencem. Made in Abyss e Devilman Crybaby, por exemplo, não são animações impecáveis, mas possuem direções corajosas e roteiros que prendem. No entanto, em The Beginning After The End, o maior problema é justamente o trabalho de adaptação. O diretor falha de maneira clamorosa em transpor a densidade do material original. Cortes de episódios, cenas mal posicionadas, eventos descontextualizados — é como se a alma da história tivesse sido arrancada e jogada em um roteiro automático e mal editado.
Mais do que falhas técnicas, o anime erra em algo fundamental: o desenvolvimento emocional. A dualidade do protagonista — um ex-rei racional tentando entender sentimentos em sua nova vida — é mal explorada, embora tenha sido a única tentativa sincera de resgatar o espírito da novel. Essa temática poderia ser a espinha dorsal da obra, mas aparece de forma tão tímida que parece mais um aceno superficial do que um mergulho narrativo. Ao final da temporada, é como se o espectador conhecesse Arthur apenas pela superfície, sem nunca ter entendido de fato suas dores, dúvidas e transformações.
O sentimento que fica ao fim dos 12 episódios é de desperdício. Desperdício de um universo promissor, de personagens complexos, de ideias interessantes e, principalmente, de uma base de fãs que ansiava por algo à altura do original. A confirmação de uma segunda temporada soa mais como ameaça do que esperança, a não ser que haja uma reformulação séria na equipe criativa. A obra está disponível atualmente na Crunchyroll, mas a recomendação que deixo é: leia a novel. Porque The Beginning After The End merece ser conhecido — só não por essa adaptação.
Confira o trailer da primeira temporada:
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