O casal impossível de ficar junto é uma temática universal na cultura humana. Desde a cultura grega clássica, nós temos esse plot de narrativa que nos fascinamos de alguma forma subconsciente. Desejamos ver o casal superar todos os obstáculos para concretizar o amor puro e ingênuo. Tal conceito está espalhado em todos os âmbitos das artes, tendo clássicos famosos como Romeu e Julieta e, até hoje, gostamos de escutar essa mesma narrativa, com pequenas alterações aqui e ali. Mas, de modo geral, quanto mais obstáculos o casal precisa enfrentar, mais engajados emocionalmente ficamos na narrativa. “Tudo e Todas as Coisas” é mais uma dessas histórias.
Maddy é uma menina de dezoito anos que possui uma doença chamada de ICG, onde seu sistema imunológico é praticamente nulo, e, devido a isso, ela precisa viver em isolamento em sua própria casa para manter o ambiente controlado e esterilizado. Tudo na sua vida muda quando uma família se muda para a casa do lado e um amor surge com a chegada de Olly. Mas como esse amor se tornará real se eles não podem se tocar sem correr o risco de matar Maddy.
Ao ler essa sinopse você pode achar que estou falando do tipo de filme totalmente apelativo para arrancar situações chorosas e cenas absurdamente dramáticas, mas não é o caso. Maddy é uma personagem bem madura e interessante, sem ser dada a histeria ou ataques clássicos de personagens adolescentes nesse tipo de filme. Olly também poderia ter caído no estereótipo do galã meio rebelde, mas sai pela tangente de forma inovadora. O roteiro é baseado num livro de mesmo nome de Nicola Yoon.
A direção fica por conta de Stella Meghie e Tudo e Todas as Coisas é o seu segundo longa. Este é um nome para se ficar atento, pois em diversos momentos temos ótimas sacadas narrativas. Como fazer um filme dinâmico se em diversas cenas o casal principal não está interagindo entre si? Stella dribla essa problemática com uma simplicidade incrível. A luz também é um elemento importante gerando ambientes muito claros e belos, mesmo quando nós estamos apenas numa sala comum. Ela só não foi melhor por que não ousou mais em imprimir sua marca no longa e, as vezes, apela para enquadramentos um tanto comuns.
Maddy é interpretada por Amanda Stenberg (que teve sua participação em Jogos Vorazes) que dá um show de carisma. Consegue fazer uma personagem totalmente apaixonante. Torcemos para ela em cada segundo. Uma jovem garota inteligente, convicta e esperta, algo difícil de ver em filmes que retratam adolescentes. Olly é vivido por Nick Robinson (que esteve em Jurassic World) que tem uma interpretação meio morna, mas não chega a atrapalhar, pois Amanda carrega o filme nas costas. De modo geral, sabemos até pouco sobre o personagem Olly para ele ter uma profundidade maior. A mãe de Maddy, Pauline interpretada por Anika Noni, que por vezes funciona como antagonista para o casal e horas vemos uma relação interessante entre mãe e filha, mas a atriz também não se destaca muito.
O filme tem suas referências literárias, momentos românticos e até mesmo reviravoltas interessantes, mas se mantém como um filme um tanto clichê de romance. Entretanto, é um clichê bem feito e verdadeiramente tocante em diversos pontos. É preciso ir com a cabeça e coração abertos para ver a história de um amor idílico, irrealista e ingênuo. Não é o tipo de história que te mostra como essas duas pessoas se apaixonam. Eles simplesmente já se gostam e cabe você a embarcar nessa proposta. Uma boa pedida para se assistir no dia dos namorados com a sua pessoa amada. Também uma boa pedida para quem quer ver uma diretora novata que já mostra um talento interessante.
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