Minha primeira leitura de 2022 foge do que estou acostumado a ler com frequência, mas foi bom revisitar um gênero que não lia há bastante tempo. Me afastando um pouco da literatura fantástica e da ficção científica, me deixei levar pela obra da escritora C. C. Hunter: Eu e Esse Meu Coração, uma história romântica com toques de mistério que, mesmo sendo previsível em alguns pontos, conseguiu me cativar durante a leitura.
A trama gira em torno de Leah MacKenzie, uma adolescente de 17 anos que contraiu uma doença rara que literalmente destruiu seu coração. Enquanto aguarda por um transplante improvável de acontecer, o que a mantém viva é um coração artificial que ela carrega na mochila. A sorte da garota parece mudar quando surge um coração adequado para o transplante. Só depois da cirurgia ela descobre que o doador estudava na sua escola e que supostamente se matou. Porém, Matt – irmão gêmeo do rapaz – não está convencido de que Eric realmente cometeu suicídio. Quando Leah e Matt se encontram, eles percebem que ambos têm sonhos estranhos que podem ser pistas do que realmente aconteceu com Eric. Juntos, eles tentam desvendar esse enigma enquanto começam a se apaixonar.
A parte romântica do livro segue os mesmos clichês de sempre: o cara bonitão e popular e a garota nerd do clube do livro que se apaixonam um pelo outro. O que torna Eu e Esse Meu Coração realmente interessante é a forma como a narrativa explora a conexão entre irmãos gêmeos e entre doador e receptor de órgãos de maneira quase sobrenatural. Os sentimentos que os personagens compartilham são uma experiência única que só eles compreendem.
Indo além disso, a autora consegue transportar os leitores para a mente de uma pessoa transplantada e, assim, temos uma noção das angústias e incertezas que quem passa por isso precisa enfrentar. Leah já estava conformada que sua vida seria curta e, quando ela recebe uma segunda chance inesperada, descobre que precisa ter planos para o futuro e objetivos de longo prazo e isso a assusta. Sem contar a preocupação que sente com o sofrimento que ela pensa causar nas pessoas que a amam.
O primeiro ponto negativo do romance é a narrativa que alterna entre primeira pessoa para apresentar o ponto de vista de Leah e terceira pessoa quando é a visão de Matt. Isso teria sido um bom recurso se não houvesse alguns trechos confusos onde as narrativas se misturam. Cheguei a pensar que era proposital e que teria alguma razão para isso mais à frente, mas no fim a impressão que passa é que realmente foi um erro. O segundo ponto se deve à previsibilidade do que realmente aconteceu com Eric. A solução já estava óbvia desde a metade do livro e, por mais que eu quisesse estar enganado, acabou se provando que era aquilo mesmo apesar de a autora tentar mudar o foco.
Só que mesmo com esses problemas, o mistério – e até mesmo a história de amor – é um ingrediente para temperar a mensagem que a autora quer passar com a obra sobre esperança, aceitação das próprias limitações e a importância do apoio dos entes queridos que se preocupam apenas por nos amar. E a inspiração para isso não veio do nada, já que C. C. Hunter se baseou em sua vida pessoal, pois seu marido enfrentou algo parecido quando precisou de um transplante de rim.
Muitas vezes nos dizem para não vivermos no passado. E esse é de fato um bom conselho. Se não tivermos cuidado, o ontem pode roubar nosso hoje e nossos amanhãs. Mas também não podemos esquecer o passado. Ele faz parte do mapa que nos trouxe onde estamos hoje.”
Eu e Esse Meu Coração é uma trama leve e divertida que, mesmo apostando em alguns clichês, conquistou minha atenção pela mensagem que se propõe a passar. Isso me lembra que muitas dessas narrativas de romance adolescente podem ter muito a acrescentar ao falar de temas importantes de forma criativa e emocionante.
Ficha técnica:
- Título: Eu e Esse Meu Coração
- Autora: C. C. Hunter
- Gênero: romance, mistério
- Nº de páginas: 424
- Lançamento no Brasil: 2018
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