Vamos encarar os fatos: as adaptações de quadrinhos para o cinema se encontram em uma nova fase. É possível perceber cada vez mais a inclusão de personagens que há pouco tempo atrás não recebiam a atenção devida. Um dos motivos para que isso ocorra é que atualmente as redes e mídias sociais potencializam a crítica pela falta de diversidade. Aliás, seria ingenuidade pensar que os produtores de cinema ignoram os comentários a respeito disso. Por esse motivo, é interessante refletir se o momento atual é resultado de um amadurecimento artístico ou apenas uma necessidade criativa e comercial de inovar um produto quase saturado na indústria do entretenimento.
Um dado importante para citar é que Mulher-Maravilha já se tornou o filme de super herói mais visto no cinema americano dos últimos 15 anos. A informação já vem sendo divulgada em diversos sites especializados como o Hollywood Reporter, Forbes, Vanity Fair, entre outros. E o que isso significa além do fato de que uma produção como essa já deveria ter ganhado a luz do dia há muito tempo atrás? Uma vitória. Vale lembrar que sempre houve o desejo de fazer com que essa adaptação acontecesse, algo que sempre foi impedido por diversos motivos. Entre eles, a desconfiança de que colocar uma mulher como protagonista em um tipo de produção que sempre priorizou personagens masculinos não iria ter sucesso comercial. Felizmente, os números de bilheteria e a reação do público provam que há espaço de sobra para a guerreira amazona da DC Comics em outras mídias.
Isso certamente pode ser considerado uma vitória na luta por mais representatividade feminina e ao mesmo tempo um primeiro (e pequeno) passo. Em primeiro lugar, este sucesso também significa um claro incentivo para mais filmes de super-heroínas. Inclusive, o produtor Kevin Feige, da Marvel Studios, já comentou que o sucesso de Mulher-Maravilha será muito benéfico para Capitã Marvel que só estreia em 2019. No caso da personagem da Marvel, é interessante notar como ela tem tido um papel mais relevante nas histórias e eventos da editora. Provas disso podem ser encontradas nas revistas The Ultimates, A Force, Captain Marvel e, é claro, Civil War 2 no qual ela tem papel central. Isso ótimo pois aumenta ainda mais o número de leitores de uma personagem pouco conhecida do grande público.
Quem também está em uma situação parecida é o Pantera Negra, que terá seu primeiro filme solo um ano antes. Conhecido como o príncipe de Wakanda, um reino fictício localizado na África, ele será o 1º protagonista negro no Universo Cinematográfico da Marvel. Lembrando que a trilogia Blade (1998, 2002 e 2004) foi produzida pela Sony quando ainda mal se imaginava que adaptações de quadrinhos poderiam fazer tanto sucesso. O curioso sobre esse detalhe é o espaço de tempo que separam Blade e Pantera Negra. Nesse sentido, vale lembrar a recente polêmica envolvendo a diversidade nos quadrinhos da editora do qual já comentei em outro texto. Tendo em vista este precedente como exemplo, acredito que seria correto afirmar que o provável desinteresse dos estúdios em mais filmes com heróis negros se deva ao receio de pouco sucesso comercial.
Claro que se a gente olhar para o mundo das séries, mais especificamente para a primeira temporada de Luke Cage, podemos acreditar que haja uma certa mudança de mentalidade. A respeito disso, é importante ressaltar que falar sobre questões como representatividade e diversidade não significa pedir simplesmente por histórias que girem em torno disso. Claro que há casos em que há uma justificativa interessante e que pode ser utilizada de forma inteligente como a relação entre Luke ser à prova de balas e as noticias recentes de policiais matando homens negros desarmados. Nesse caso, há uma crítica social forte e muito bem feita. No entanto ao ver toda trajetória do personagem na produção da Netflix percebe-se outras abordagens além disso também. Não é a toa que foi uma das produções mais assistidas do serviço de streaming em 2016 superando até Demolidor.
Enfim, acredito que a lógica capitalista continuará sendo uma ditadora de regras que possibilitam mais representatividade e diversidade na cultura pop. E isso certamente está longe de significar um amadurecimento artístico genuíno. Agora, se isso irá mudar em um futuro próximo, é difícil dizer. Fica apenas a expectativa (ou seria sonho?) por uma realidade com filmes para todos os públicos.
Olhar Literário é uma coluna escrita por Marcus Alencar. Marcus é redator no site Leituraverso e um dos hosts do podcast Leituracast