Dirigido por Courtney Hunt, Versões de Um Crime traz uma trama jurídica e investigativa sobre um caso de parricídio. Com cargas de suspense e algumas pitadas mal-exploradas de drama, a diretora que já dirigiu o filme Rio Congelado e alguns episódios de In Treatment, fica aquém em construir o mistério proposto neste filme, prendendo-se em estratégias comuns do gênero e voice over para alguns esclarecimentos narrativos numa trama de adivinhação com um final pretensioso.
O longa conta com um elenco estrelado que se esforça para dar vida aos personagens monótonos. Com Keanu Reeves, Jim Belushi e Renée Zellweger, atores que já carregam certo carisma para seus personagens, mas que os vivem de forma cinza, limitados por estereótipos: o marido sacana e a esposa reprimida, que nos são apresentados durante os flashbacks, e o advogado frio e calculista dentro da corte. Muito do roteiro do filme funciona através do mistério montado e revelações gratuitas através de narração. E isso é um dos grandes problema do filme.
A todo momento somos incentivados à advinhação de quem é o culpado, mas sem explorar de forma satisfatória os dramas vividos pelos personagens em si, pois os momentos dramáticos dos flashbacks são interpolados com argumentações um tanto dúbias dos envolvidos durante o julgamento, claramente para forçar o espectador a se perder em suas suposições para que o terceiro ato possa nos surpreender. Num obvio jogo de retenção e exposição de informações conforme o desejo do roteirista. Chega a ser fraco comparando as já batidas séries investigativas que temos na TV, como CSI e Law & Order (este último que já teve a mesma diretora trabalhando em um de seus episódios).
Há uma clara falta de dramaticidade para que possamos construir um cenário baseado no sentimento de cada personagem, e ficamos presos a caras e bocas da Zellweger ou nas narrações “recurso de roteiro” de Keanu Reeves. Chega ao ponto do personagem de Reeves argumentar com sua subaproveitada ajudante – interpretada pela boa Gugu Mbatha-Raw, mas que também está subaproveitada no papel – de que eles (e nós) temos que partir do princípio de que “todos estão mentindo”, e assim alimentar esse espírito de dúvida no espectador. Um recurso narrativo extremamente pobre.
Versões de Um Crime trabalha em cima de um roteiro simples e, até, competente, mas peca em sua narrativa. Deixando uma sensação de estarmos vendo um filme mais do mesmo do gênero, sem muita inventividade, sem muito risco e sem muito brilho. Uma pena ver um elenco de qualidade, mas preso em personagens que nem de longe o exige.