Em dada passagem do texto que redigi sobre baladas românticas que poderiam ser encontradas na playlist de um Nerd, que você pode conferir aqui, cheguei a comentar, por alto, que o fato de falarmos praticamente um dialeto próprio contribuía para nos afastar dos círculos de pessoas na escola, sobretudo das meninas. É bem provável que os inspetores da escola e, consequentemente, os seus pais, ficariam preocupadíssimos se ouvissem relatos de que você tava conversando com seus amigos, todo empolgado, dizendo que conseguiu “dar o golpe especial que arrancava a espinha do inimigo“, ou que “só precisou do chicote sagrado pra vencer o Conde Drácula“, assim como também usava palavras estranhíssimas, como Marvel, Mjolnir, Klingon, Wookie…
Ao mesmo tempo em que nos afastavam de muitas pessoas, esses “dialetos” característicos do mundo Nerd nos aproximavam de muitas outras, a começar pelas expressões usadas como saudação. Elencamos aqui 5 expressões frequentemente usadas como saudação por muitos Nerds, saudações estas que, com certeza, serão citadas no dia 25 de maio, convencionado como o Dia do Orgulho Nerd, por razões que mencionarei adiante. Portanto, assuma seu posto, estabeleça o curso e manda ver na dobra 1… e nunca, jamais esqueça de levar uma toalha.
“Vida longa e próspera”
Durante muito tempo, Vulcanos e Romulanos formavam uma única etnia, ambos entregues às suas emoções e passionalidades, até o aparecimento de Surak, um filósofo que sustentava que todos deveriam negar seus impulsos passionais e agir de acordo com princípios concebidos a partir do uso da racionalidade, princípios estes que os indivíduos deveriam adotar não só em relação a si mesmos, mas também em relação aos demais, o que, segundo Surak, levaria o planeta a um estágio de prosperidade e harmonia sem precedentes. Ao mesmo tempo em que muitos aderiram às ideias de Surak, muitos outros a rejeitaram, o que gerou sérios problemas, e os que preferiram manter seus impulsos emocionais partiram em busca de novos planetas pra se estabelecerem, que no caso foram Romulus e Remus.
Essa aposta de que os indivíduos se tornariam mais pacíficos, caso usassem a racionalidade pra estabelecer seus preceitos de ação de modo que esses preceitos tivessem validade universal e atemporal (“jamais mentir“, “nunca fazer aos outros o que você não gostaria que fizessem com você“, etc) também deu o que falar aqui na Terra no século XVIII, sobretudo depois que apareceu um cara chamado Immanuel Kant. Ao mesmo tempo em que faz, à sua maneira, um certo uso dessas ideias, Star Trek também não deixa de dar as suas alfinetadas nelas, alertando que a onipresença da racionalidade também pode ser prejudicial. Onde ficam as nossas emoções nessa história? Se devemos suprimir nossas emoções, por que as possuímos? Acho que nada ilustra melhor essa alfinetada do que as DRs entre Spock e o Dr. McCoy.
O fato é que esses preceitos pensados por Surek envolviam uma saudação, imortalizada por nosso querido Leonard Nimoy na pele (e nas orelhas pontudas) do Sr. Spock, bastando levantar a mão, fazendo o gesto acima, e desejar ao outro uma “vida longa e próspera“.
“Bazinga!”
Imagino que alguma vez você já tenha visto alguém na rua com uma camiseta contendo a expressão acima, ou estampada em algum produto numa loja, como canecas, cadernos, etc. Imortalizada pelo personagem Sheldon Cooper, interpretado por Jim Parsons na série The Big Bang Theory, “Bazinga!” é uma expressão cujo significado depende muito do contexto em que está sendo usada. Se você encontra um amigo e diz “Bazinga!”, pode significar “oi”; se, numa roda de amigos, você se saiu vencedor após uma acirrada disputa, seja no vídeo game ou no que quer que seja, “Bazinga!” pode significar “Venci!“, “Peguei vocês!“… É bastante provável que a popularidade da expressão seja exatamente por essa capacidade de reinventar o significado dela.
Dia da Toalha
Em seu aclamado livro O Guia do Mochileiro das Galáxias, Douglas Adams tece uma explicação minuciosa sobre porquê a toalha é o artigo mais importante de todos para um mochileiro das galáxias. Também, pudera: uma toalha pode proteger você de emanações tóxicas, servir de lençol, arma de combate, ser usada como sinalizador sempre que necessário… ah, é, dizem que ela também pode ser usada pra enxugar o corpo após o banho.
O Guia do Mochileiro das Galáxias também celebra uma outra grande referência Nerd que é o número 42, que, segundo o livro, o número em questão seria nada menos que a resposta para a pergunta mais elementar de todas. No entanto, com a morte de Douglas Adams em 11 de maio de 2001, muito fãs passaram a homenagear o escritor no dia 25 de maio, data da primeira homenagem oficial, empunhando uma toalha onde quer que estejam, e a data, assim como a comemoração, seguiu adiante. Além de ser uma homenagem ao autor da série Mochileiro das Galáxias, 25 de maio também é uma data importante pra outro ícone Nerd, que é Star Wars: em 25 de maio de 1977 teve início a première de Star Wars IV: Uma Nova Esperança.
“Que a Força esteja com você”
Que, por falar em Star Wars, é impossível não passar por essa saudação imortalizada pelos Jedis. A Força é o elemento místico que mantém a coesão de todas as coisas, é o princípio que determina o papel que cada coisa no universo, desde o mais insignificante pedacinho de cristal kyber, aos bilhões de indivíduos que habitam um planeta inteiro (temos um texto bacana sobre a Força que você pode conferir aqui). Os Jedis e os Siths são como ordens monásticas cujo propósito é estudar o manejo desse componente místico tão fascinante e poderoso que é a Força, e, em se tratando da Ordem Jedi, nada mais significativo do que dizer a um companheiro que as ações dele sejam guiadas pela Força, o que, no entender de um Jedi, ao sermos guiado pelo Lado Luminoso da Força, nossas ações necessariamente adquirem propósitos e resultados justos.
Klaatu Barada Nikto
Essa é uma expressão mais conhecida por Nerds velh… ops, old schools, como é o caso do nosso amigo Alexandre Araújo. Essa expressão é citada no clássico O Dia Que A Terra Parou, de 1951, filme clássico de ficção científica inspirado no conto “Adeus Ao Mestre”, de Harry Bates, narrando a missão do alienígena Klaatu e de seu companheiro robô, GORT, que desembarcam na Terra clamando pelo fim das guerras e das armas nucleares, assuntos que têm sido motivo de preocupação para líderes de outros planetas.
Diante do desconhecido, a reação natural dos terráqueos é o medo, e os acontecimentos em O Dia Que A Terra Parou são consequências desse medo. Após ser gravemente ferido, Klaatu pede pra que a humana Helen impeça que GORT inicie seus protocolos de destruição da Terra, bastando dizer ao andróide a frase “Klaatu Barada Nikto”, que, apesar de não ser propriamente uma saudação, se tornou muito popular com o sucesso do filme. O Dia Que A Terra Parou também rendeu uma outra frase popularmente assimilada pela cultura pop, e essa sim uma saudação, que é dita por Klaatu imediatamente após desembarcar na Terra: “Eu vim em paz“.
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