Um dos grandes destaques do mundo nerd em 2016 foram as adaptações de quadrinhos para o cinema. Por esse motivo, é válido fazer um balanço geral deste tipo de produção cinematográfica, mesmo sabendo que isso já tenha se tornado algo tão comum e previsível. Na verdade, o aspecto que mais chama atenção é a evolução desse sub-gênero da ficção que, muitas vezes, acaba sendo confundido como um gênero único e autêntico assim como ação, comédia, drama, entre outros. Neste ano, tivemos grandes apostas em filmes com personagens pouco conhecidos do grande público, confrontos entre ícones da nona arte de duas grandes editoras, tentativa de inovações e também o mais do mesmo.
Comecemos nosso balanço por aquele que pode ser considerado A APOSTA do ano: Deadpool. Estrelado por Ryan Reynolds, o filme teve um bom resultado na bilheteria e já garantiu sua sequência. Vale lembrar que esta não é a primeira vez que ele interpreta o personagem nascido no universo dos X-Men nos anos 90. Sua primeira aparição foi em “X-Men Origens: Wolverine” (2009), onde era apenas conhecido como Wade Wilson. Mesmo prejudicado por um roteiro fraco na época, Reynolds não desistiu do anti-herói. A grande prova foi vista logo no primeiro semestre em um filme engraçado, criativo e interessante. Claro que o resultado chegou longe da perfeição, mas compensa todos os fracassos da carreira do ator.
Já em Batman Vs Superman: A Origem Da Justiça, a aposta foi bem mais alta. Chega a ser um desafio enumerar os motivos que fazem com que esta tenha sido a adaptação de quadrinhos da DC Comics mais arriscada até hoje. Provavelmente, o maior deles foi ter criado uma trama para o confronto entre dois dos maiores heróis de todos os tempos. Isso sem falar na re-introdução do Batman, que já foi interpretado por diversos atores ao longo da sua história e agora tem em Ben Affleck o seu novo representante. Curiosamente, assim como Ryan Reynolds, o ator também teve que se provar no papel após uma experiência não muito boa com um personagem de outra editora.
De qualquer modo, a grande questão que envolve o resultado final do polêmico filme em questão está justamente relacionada a construção do universo cinematográfico da DC. Para falar sobre isso, não há como ficar sem fazer uma rápida comparação com a concorrência. Na Marvel, houve toda uma preparação com filmes de seus grandes heróis até chegar no “grande evento” que foi o primeiro Vingadores. Claro que essa fórmula também tem suas falhas, mas nada que ofusque muito o sucesso consolidado ao longo de vários anos.
Na tentativa de vencer a disputa, os produtores do filme em conjunto com o cineasta Zack Snyder tentaram um caminho diferente, mais urgente, sombrio e o mais realista possível. Infelizmente, apesar das boas ideias e intenções, a falta de um planejamento mais cuidadoso falou mais alto. Sobrou apenas a oportunidade de aprender com os erros e seguir em frente.
Como dito anteriormente, a fórmula dos Estúdios Marvel não é livre de falhas. Um belo exemplo disso pode ser percebido no terceiro filme do Capitão América que recebeu o subtítulo de Guerra Civil. Além da promessa de adaptar uma das grandes sagas da editora dos últimos anos, havia a oportunidade de introduzir novos personagens nesse tão bem construído universo cinematográfico. Provavelmente, senão fossem por essas novidades, muitos pontos seriam retirados da nota final de muitos fãs e críticos. Não é a toa que as participações de Pantera Negra (Chadwick Boseman) e do Homem-Aranha (Tom Holland) são consideradas os melhores momentos do filme que, aliás, é bem conduzido nas cenas de ação. Sobre esse quesito, não há como não continuar se surpreendendo com a qualidade dos Irmãos Russo a frente das produções Marvel.
Infelizmente, mesmo com todas as suas qualidades a “Guerra Civil” dos cinemas decepcionou em muitos aspectos. Um deles é a forma como roteiro lida com as tramas do registro de super-humanos e com uma questão pessoal que envolveu Capitão América (Chris Evans), Bucky (Sebastian Stan) e Homem de Ferro (Robert Downey Jr.). Enquanto a primeira questão foi ponto fundamental da trama dos quadrinhos, nos cinemas ela foi deixada de lado por conta de todo o drama envolvendo o trio citado. Por esse motivo, o resultado ficou um pouco abaixo do esperado além, é claro, da clara deficiência na fórmula do estúdio que muitas vezes deixa os filmes leves demais.
A próxima adaptação a ser comentada é “X-Men: Apocalipse“. Por mais que o caminho dos mutantes nos cinemas tenha sido sempre cheio de altos e baixos, vale ressaltar que a qualidade dos filmes aumentou em alguns quesitos após a entrada do elenco composto principalmente por James McAvoy, Michael Fassbender e Jennifer Lawrence. No entanto, alguns problemas antigos como a sombra do Wolverine de Hugh Jackman e eventuais erros de cronologia dos filmes permaneceram ao mesmo tempo que outros obstáculos apareciam também. Um deles é o protagonismo da Mística (Lawrence), vilã nos quadrinhos e anti-heróina nos filmes além de ser uma espécie de par romântico entre o Professor Xavier (McAvoy) e Magneto (Fassbender). Tudo isso impactou diretamente o tempo de tela de outros personagens interessantes como Jean Grey e Ciclope. Outro detalhe é a escolha do vilão que dificilmente será lembrado a não ser por comparações com personagens toscos dos anos 90.
Também no segundo semestre, tivemos um tipo diferente de inovação: Esquadrão Suicida. Além de ser a primeira adaptação de quadrinhos a colocar como destaque os vilões, o filme também marcou a apresentação de um novo Coringa (Jared Leto). Um dos principais pontos a serem destacados é como alguns personagens conseguiram brilhar, apesar de todos os problemas do filme. Esse é o caso da Arlequina (Margot Robbie) e, de certo modo, do Pistoleiro (Will Smith) que com muito carisma provaram ter potencial para continuar por mais tempo no mesmo universo cinematográfico de Batman, Superman e cia. No entanto, assim como ocorreu com o embate épico entre o Cavaleiro de Gotham e o Homem de Aço a edição prejudicou o ritmo e, consequentemente, o roteiro. Além disso, o tipo de vilão escolhido fez com que o grupo de vilões do Esquadrão ficasse mais heroico do que deveria ser no final das contas.
Por último, mas com certeza não menos importante, o ano “encerrou” com o primeiro filme do Doutor Estranho. Ao comparar com todas as produções exibidas em 2016, é bem seguro afirmar que a aventura do feiticeiro interpretado por Benedict Cumberbatch foi o resultado com o menor número de falhas. Com a responsabilidade de apresentar o lado místico da Marvel, o diretor Scott Derrickson apresentou um trabalho cujo resultado final teve um visual alucinante e criativo. É uma pena que mais uma vez o vilão foi bem fraco em termos narrativos.
Enfim, fica a expectativa para que 2017 sejamos surpreendidos com produções marcantes e de muita qualidade. De preferência, que valham a pena para serem lembradas sem arrependimentos.
Observação: Comentamos mais sobre cada um desses filmes no Leituracast 18 com as participações especiais do https://quartaparede.com.br/wp-content/uploads/2015/08/disp-dest-antman-dest-1.jpg, aqui do TarjaNerd, e o Fábio Franzoni do Pow de Cast.
Olhar Literário é uma coluna escrita por Marcus Alencar. Marcus é redator no site Leituraverso e um dos hosts do podcast Leituracast.