Publicada em 1988 pela DC Comics, A Piada Mortal foi uma graphic novel que não só redefiniu Batman e Coringa como também marcou toda uma geração de leitores. Tudo isso se deve graças a criatividade impar de Alan Moore aliada aos desenhos de Brian Bolland, ambos responsáveis por criar algo tão marcante para o mundo dos quadrinhos que até hoje serve de referência para outras produções em que o Homem-Morcego está envolvido. Seja na tv ou no cinema, a história tem o mesmo objetivo: mostrar como apenas um dia muito ruim pode levar um homem a loucura. Isto, é claro, traz alguns questionamentos. Entre eles, a questão se esta inspiração está sendo utilizada da melhor possível a serviço de uma boa história. Lembrando que teremos alguns spoilers leves de tais obras, mas são bem tranquilos.
Vamos ao primeiro exemplo. Em 2008, foi lançado o segundo filme da trilogia comandada por Christopher Nolan. Batman: O Cavaleiro das Trevas é marcado não só pela sua qualidade cinematográfica como também pela atuação incrível de Heath Ledger. Responsável por interpretar uma nova versão do Coringa, o ator mostrou como o palhaço do crime poderia facilmente destruir a alma de Gotham de várias formas possíveis. Entre elas, a experiência de colocar o promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart) como principal representante das consequências de uma insanidade sem fim. Desse modo, toda situação que leva Harvey a se tornar Duas-Caras e decidir o destino das pessoas na sorte acaba se tornando um dialogo íntimo com “A Piada Mortal”. É como se a produção respondesse com o personagem o que teria acontecido com o Comissário Gordon se o mesmo tivesse sucumbido a loucura na HQ.
No entanto, este foi apenas um ensaio de uma primeira reutilização da obra de Alan Moore. Em 2016, foi lançada uma animação homonima que não é muito querida pelos fãs do clássico original. Um dos motivos para este desgosto está no fato do filme dar um desenvolvimento desnecessário a um “vilão” de nome ridículo, Paris Franz, que serve como antagonista da Batgirl. Não só isso como o longa animado transforma a heroína em uma espécie de interesse romântico do Batman, algo que é facilmente esquecido durante a própria adaptação. Com esta alteração no roteiro, percebe-se uma clara tentativa de aumentar o impacto do desfecho do arco dela. O resultado, infelizmente, foi aquém do esperado.
Por último, é totalmente válido o destaque para o penúltimo episódio da 4º temporada de Gotham intitulado “A Dark Knight: One Bad Day”. Neste caso em específico, ocorre algo parecido com o filme estrelado por Christian Bale. A diferença principal é que Bruce Wayne (David Mazouz) e Alfred (Sean Pertwee) ocupam respectivamente na trama os papéis que pertencem ao Comissário Gordon e sua filha na HQ clássica. Ao utilizar-se desta inspiração, a série humaniza ainda mais o futuro Batman. Desse modo, é possível imaginar que quando o mesmo vivenciar os eventos ocorridos em A Piada Mortal ele será capaz de criar empatia com Gordon e assim ajudá-lo a fortalecer a própria sanidade mesmo depois de momentos traumáticos.
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Reflexões e especulações sobre o futuro a parte, a certeza que fica é que A Piada Mortal é um marco na cultura pop. Tudo que já produzido e bebeu desta fonte nada mais é que uma reverência ao impacto da obra na história dos quadrinhos. Independente dos resultados de sua influência, não há dúvida que esta história continuará reverberando por muito tempo.
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Olhar Literário é uma coluna escrita por Marcus Alencar. Marcus é redator no site Leituraverso e um dos hosts do podcast Leituracast