Todo herói tem seu arqui-inimigo. Batman tem o Coringa. Superman tem Lex Luthor. Flash tem Flash Reverso e por aí vai. É um dos conceitos mais básicos dos quadrinhos de super herói. Quando falamos do Homem Aranha isso pode ser um tanto complicado. Alguns fãs diriam que o pior vilão do Aranha é o Dr Octopus, principalmente depois que ele tomou o corpo de Peter (falei disso aqui). Outros falam que seria o Venom, muito mais pelo simples fato dele ser a versão reversa do herói. Mas acho que com um pouco de tempo gasto pensando, podemos chegar a conclusão que o Duende Verde é, de fato, o pior vilão (mas Dr Octopus se esforça para conquistar esse título). O problema é que no universo do Homem Aranha o “Duende” acabou se tornando um título. De tempos em tempos alguém encarna a figura do Duende para destruir a vida do herói ou fazer uma vilania qualquer. Vamos passear pelos Duendes que já passaram nas páginas do Aranha.
Duende Verde Clássico (primeira aparição em Amazing Spider-Man, The (1963) n° 14)
Nesta primeira edição ele possuía uma vassoura voadora em vez de um planador e colocou o Aranha para lutar contra o Hulk. Aqui sua identidade ainda era secreta. Ele era o vilão misterioso de propósitos misteriosos e se manteve assim por um bom tempo. Stan Lee e Ditko discutiram muito sobre a identidade do vilão. Lee desejava colocar Norman como o antagonista, mas Ditko não queria colocar um industrial de sucesso neste arquétipo (ele tinha uma filosofia de vida curiosa, falaremos disso em outra ocasião). Todo esse conceito de “meu pior inimigo é o pai do meu melhor amigo” era inédito e como muitas coisas que a revista do Aranha fez naquela época, foi revolucionário. Este Duende chega a descobrir a identidade secreta de Peter e mata a Gwen Stacy. São esses atos que o colocaram no patamar de “o principal vilão”. Norman gradativamente foi deixando o Duende verde para se tornar uma espécie de Lex Luthor da Marvel. Tornou-se um vilão do universo Marvel como um todo na saga “Reinado Sombrio” e assumiu a armadura do Patriota de Ferro.
Duende Verde Harry Osborne (Primeira aparição Amazing Spider-Man, The (1963)n° 136)
O filho segue os passos do pai, como se existisse um destino inexorável prendendo-lhe à loucura do soro do duende. Tal conceito foi abordado no terceiro filme do Homem Aranha, mas ficou meio bobo, enquanto nas HQ’s isso é bem denso e profundo. Existe uma série de quadrinhos que abordam isso, mas acredito que a melhor é “Son of the Goblin” onde temos a resolução definitiva dessa questão, além de diversas outras coisas ótimas para quem lia a revista há muito tempo (e para quem amou “A Ultima Caçada de Kraven”). A sombra do Duende nunca deixou de atormentar Harry que conseguiu constituir uma família, mas de tempos em tempos, o passado do seu pai cria diversos problemas para ele. Vocês vão ver alguns exemplos abaixo, mas um bom exemplo é TER SEU FILHO ROUBADO POR TODOS OS VILÕES DO ARANHA porque ele possuía o soro do duende em suas veias (ótima saga por sinal).
Duende Macabro (primeira aparição em Peter Parker, The Spectacular Spider-Man n° 43
em Junho de 1980)
Agora a coisa começa a ficar galhofa. No total existiram quatro Duendes Macabros. Tudo começou com uma ideia de uma versão pirata do Duende Verde. Alguém roubou a tecnologia do Osborn e a usou para bagunçar o mundo do crime organizado. O conceito era muito bom para falar a verdade. Um vilão que coloca seus serviços para os grandes chefões da cidade, como o Rei do Crime, mas na verdade está planejando derrubar todos eles para tomar o trono da mafia de Nova York. Depois o manto de Duende Macabro foi passando pela mão de diversos personagens com intuito de sempre criar o mistério “Quem é o Duende Macabro?”, semelhante ao conceito original do primeiro Duende Verde. Tudo funcionou por um tempo, onde Ned Lands tem um momento marcante. Menção honrosa: na versão Ultimate quem vira o duende macabro é Harry Osborn, mantendo o conceito de filho que segue o pai num destino traçado. Muitas coisas da versão Ultimate do Homem Aranha ajeita boas ideias do universo regular que ficaram meio bagunçadas ou foram usados além da conta.
Duende macabro que é de fato um demônio ( surge na saga Inferno)
Ele começou como mais um cara que usava o manto de Duende Macabro (o terceiro aliás, seu nome era Jason Jr.), mas na Saga Inferno (onde demônios do Limbo invadem a Terra) ele sela um pacto com o demônio Nastirth, que lhe confere super poderes, em troca deforma o seu rosto até que ele fica idêntico à máscara do Duende Macabro (que poético). Tudo isso deu-se nos anos noventa, onde tudo nos quadrinhos precisava ser super cool, sombrio, “adulto” e radical. Existe uma edição especial chamada “Homem Aranha e Motoqueiro Fantasma” onde esse personagem se torna genuinamente interessante em sua nova condição demoníaca, passando a ter delírios religiosos. Nenhuma obra-prima, mas uma boa revista em edição única. Para os fãs do Aranha é uma boa chance para ver o Motoqueiro como deve ser.
Duende Cinza (primeira aparição: Amazing Spider-Man #509 Agosto de 2004)
Agora as coisas realmente se complicam. Espero que você esteja pronto para ler sobre a pior história do Homem Aranha. Para começar: a saga “Pecados Pretéritos” diz que Gwen Stacy (por algum motivo que nunca foi devidamente explicado) transou com Norman Osborn e teve dois filhos com ele. Você leu direito e caso tenha achado estranho, leia a frase anterior até aceitar. Mas não para por ai. Os bebês são criados na Europa crescem numa velocidade absurda e em apenas dez anos viram adultos, ninjas e mega bombados. Obviamente eles desejam matar o Homem Aranha por um motivo de vingança pobre. A irmã se chama Sahra Stacy e o irmão Gabriel Stacy e eles lutam com o Aranha no mesmo lugar onde a mãe faleceu (POR CAUSA DO PAI DELES). Sahra toma um tiro, por culpa do Gabriel, enquanto ele cai na água. O desgraçado acha um esconderijo no esgoto, que por algum motivo, era do duende original e lá existem trajes perfeitos para ele usar em sua vingança. Como Osborn sabia que tudo isso ia acontecer dez anos antes? Enfim, assim surge o Duende Cinza, que vai atacar o Aranha enquanto ele tenta salvar sua irmã que foi baleada por ele mesmo. Essa história é tão maldita que todos os fãs, e todos os roteiristas, ignoram a existência dela por completo.
Ameaça (primeira parição: Amazing Spider-Man #545 em dezembro de 2007)
Mais uma versão genérica do Duende, mas dessa vez com um visual mais diferenciado. Parece uma versão cinza do Hellboy. A história segue mais uma vez a premissa de um misterioso vilão que vem acabar com a vida do Aranha. O diferencial deste vilão foi que ele era bem brutal e dava muito trabalho para o herói, fazendo com que Peter saísse destruído de cada encontro. Descobrimos que este vilão na verdade era a namorada de Harry Osborn. Ela descobriu o passado sobre Harry e seu pai, ficou fascinada pelos poderes dados pelo soro do duende e decidiu usá-los para ser “alguém importante”. Sei que falando desta forma essa história deve parecer um lixo, mas acredite, ela foi bem divertida e bem desafiadora para o herói, mesmo que sua resolução não seja nada demais.
Gangue de Duendes em Homem Aranha Superior
Na saga do Homem Aranha Superior vemos que começa a surgir uma gangue de “duendes”. Pessoas que usam o símbolo do Duende Verde para se destacaram e são usados como massa de manobra para um misterioso Duende Verde que vive no esgoto. Até onde sei sua identidade não foi revelada, mas certamente sera algo bombástico que será esquecido logo depois.
Duendes Verdes dos Filmes
Não podemos esquecer das duas adaptações para o cinema. A primeira foi muito criticada pelo visual, mas em termos de interpretação e participação na história está ótima. A segunda tentou ser diferente, colocando Harry como o primeiro Duende Verde, mas fracassou em todos os sentidos.
É importante dizer que só coloquei aqui as versões do universo regular. A continuidade das histórias do Homem Aranha, apesar de algumas exceções, é até bem coesa comparada a de outros personagens, por isto é possível traçar essa cronologia em cima desse legado do Duende. Existe uma boa chance de ter esquecido algum Duende e é sua missão me lembrar nos comentários. E se tiver alguém para esculachar “Pecados Pretéritos” comigo nos comentários eu ficaria muito feliz.