Falar sobre séries inspiradas/baseadas em quadrinhos na TV é um tema relativamente batido mas que, por sua vez, nunca sai de moda. Hoje em dia temos um número cada vez maior de produções sendo exibidas e outras em andamento. Outro detalhe é como esse movimento traz consigo uma série de possibilidades na hora de adaptar personagens nascidos em outras mídias. Inclusive, sobre isso é sempre importante lembrar que os produtores deste tipo de material sempre levam em conta que uma adaptação precisa antes de mais nada atualizar conceitos. Isso sempre com o intuito entregar algo novo ao mesmo tempo em que se faz o famoso fan service.
Para começo de conversa, é fundamental traçar uma linha do tempo. Afinal de contas, estamos falando de um determinado tipo de série que não nasceu hoje. Por esse motivo, Arrow será o nosso ponto de partida. Apesar de não ser exatamente um fã dos quadrinhos da DC Comics, devo admitir que as primeiras temporadas dessa série me convenceram, sem dificuldade, que valia a pena continuar assistindo. Talvez por isso também é que ainda acredito que os episódios do Arqueiro Verde de Starling City voltem a ter mesma qualidade de tempos não tão distantes. Inclusive, é perceptível como os episódios conseguiam conquistar até mesmo o público leigo em qualquer quadrinho. De qualquer modo, falar sobre essa série é importante justamente pelo fato do seu inicio ter sido um belo ponto de partida para o que veio depois.
Outro exemplo bem interessante é o caso de The Flash que é exibida na mesma emissora de Arrow, o que com certeza garante algo que todo fã de HQ adora: crossovers. Antes de falar desse tipo de evento cada vez mais comum entre as séries da CW, vale lembrar o quanto a série do velocista escarlate da DC conquistou rapidamente um púbico fiel. Provavelmente, o principal motivo de ter alcançado uma audiência tão rapidamente (sem trocadilhos) deve-se ao fato da sua proximidade com o material original, isso sem falar na qualidade do roteiro. Fica a dica, para quem ainda não conhece, para ouvir o Minicast do Flash do Pow de Cast.
Claro que nesses dois primeiros casos muitas alterações tiveram que ser feitas durante a adaptação dos quadrinhos para a TV, um recurso comum quando se precisa levar personagens nascidos no papel para a “vida real”. Um exemplo disso pode ser encontrado tanto em personagens negros com forte potencial de representatividade como John Diggle (Arrow), Detetive Joe West (The Flash) além, é claro, das novas versões da Iris West e do Kid Flash. Nesses dois últimos casos, normalmente se encontra uma certa divisão por parte dos leitores de quadrinhos: resistência/preconceito versus aceitação. Por ser um tema que merece uma atenção, vou deixá-lo para um próximo artigo, mas ressalto que considero importante que esses personagens existem justamente pelo fato de serem fortes e interessantes. O mesmo pode ser dito a respeito de personagens que pertencem a grupos sociais diferentes.
Com Legends of Tomorrow, o público teve a oportunidade de conhecer um grupo de lendas heroicas composto por diversos tipos de personagens apresentados anteriormente em Arrow e Flash. Soma-se a isso o fato da série ter episódios com viagens no tempo, participações especiais e muitas referências pop. Se isso não fosse pouco, também há espaço para heróis que sejam ao mesmo tempo fortes e representativos. Entre eles, fica o destaque para a Canário Branco que, atualmente, é a líder da equipe. É importante ressaltar isso justamente por ser algo incomum nesse tipo de história que sempre foi predominantemente masculina. Aliás, a importância disso se dá por existir uma carência muito grande de representatividade feminina tanto nos quadrinhos como em suas adaptações. Felizmente, isto está mudando de uma forma muito interessante.
Aliás, quando o assunto é personagens femininas fortes as séries de TV não tem decepcionado. Podemos citar como exemplos recentes Supergirl, Agente Carter e Jessica Jones. Mesmo se tratando de séries com tons diferentes, acredito que cada uma tem o seu valor merecido entre o seu público. Obviamente, assim como todas as outras citadas, elas também tem defeitos. No entanto, isso não exclui mérito de cada série e nem a oportunidade de criar algo que se comunique também com o feminino, independente da idade. O importante é perceber que existem produtores preocupados em não tornar esse tipo de série algo que não seja só “coisa de menino”. Aliás, trata-se de uma nova vertente nas séries inspiradas em quadrinhos que precisa ser mais explorada e reverenciada. Afinal, há assuntos muito pertinentes em séries como essas além do fato do fortalecimento do empoderamento feminino na TV como um todo.
Enfim, quando se trata de séries de TV o assunto é um claro desafio. No caso deste artigo em questão, procurei apenas citar aquelas que na minha opinião merecem uma observação mais atenta e que vá além da diversão.
Olhar Literário é uma coluna escrita por Marcus Alencar. Marcus é redator no site Leituraverso e um dos hosts do podcast Leituracast.