Em 2019, estreou na Netflix a terceira temporada da produção nacional 3%. Dessa vez, a trama busca inverter os papéis e dar poder aos que anteriormente foram oprimidos. E o resultado é que quem está no topo sempre precisa tomar decisões difíceis e, muitas vezes, parciais para tentar colocar um pouco de ordem na casa.

A história começa um ano depois da conclusão da segunda temporada. Encontramos Michele (Bianca Comparato) comandando a Concha, um novo abrigo construído no Continente para receber e ajudar a população. Contudo, um acidente deixa o local incapacitado de produzir alimentos suficientes para todos. Negando-se a aceitar a ajuda do Maralto, Michele não tem outra escolha a não ser reduzir o número de habitantes do refúgio e, para isso, ela aplicará o seu próprio Processo.

O grande questionamento de 3% é a respeito da meritocracia e suas falhas. Desde a primeira temporada, o enredo mostra que não é possível conquistar todas as coisas através do puro e simples merecimento. E agora que Michele está no poder e precisa selecionar quem poderá permanecer na Concha, ela sente isso na pele. Por mais que as provas realizadas dependam de sorte ou então das habilidades de cada um, é praticamente impossível para um líder ser imparcial. 

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Paralelamente a isso, somos apresentados a novos fatos sobre o surgimento do Maralto e como decorreram os primeiros anos desde a sua fundação pelas mãos do Casal Fundador. As diretrizes que eles impuseram a si mesmos foi determinante para os fatos que ocorreram dali em diante e explica toda a filosofia da elite governante. Por outro lado, vemos como esse mesmo modo de pensar foi combatido ferozmente por determinadas pessoas, dando origem à Causa.

A narrativa merece destaque por fazer esses retornos ao passado para explicar os acontecimentos do presente. Em diversas cenas descobrimos o que aconteceu com os personagens no ano que decorreu entre uma temporada e outra. Alguns continuam firmes em suas convicções, como Joana (Vaneza Oliveira), a qual continua sendo a personagem mais relevante. Outros aparentemente desistiram de lutar, como é o caso do atormentado Rafael (Rodolfo Valente). Marco (Rafael Lozano), por outro lado, trilha um caminho para se desligar do nome de sua família. Quem também ganha espaço é Glória (Cynthia Senek), mostrando suas reais ambições.

Mesmo explorando seus personagens, o roteiro inova muito pouco no que diz respeito a acrescentar novos elementos à série. O que vemos é uma repetição das fórmulas usadas anteriormente. Isso não significa que deixa de ser atraente, mas levando-se em conta a reinvenção que o programa apresentou até então, é natural esperar que mais uma reviravolta ocorresse.  

Talvez esse ponto de virada esteja reservado para a quarta temporada. Tudo indica que os antagonistas estão se encaminhando para um último confronto onde cada um terá seu papel bem definido. Agora cabe a nós esperar para saber se 3% conseguirá se sustentar após esse embate. O fato é que se a produção quiser se manter com fôlego, precisará investir em outras abordagens dentro do seu próprio universo distópico.

Assista ao trailer da terceira temporada de 3%

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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