Desde meu primeiro contato com a poesia até os dias atuais, sempre me deparei com um lirismo mais clássico, às vezes difícil de compreender à primeira leitura. Além disso, era comum que o conteúdo se encerrasse no ponto final de cada verso. Por isso, foi uma grata surpresa encontrar, nas páginas de A princesa salva a si mesma neste livro, de Amanda Lovelace, uma obra que quebra esse padrão e desafia outras expectativas. Mais do que isso, a autora provoca reflexões fundamentais para entendermos a realidade feminina por diferentes ângulos e fases da vida.
Dividido em quatro partes — A princesa, A donzela, A rainha e Você —, a obra reconstrói arquétipos dos contos de fadas para narrar uma história profundamente pessoal, marcada por dor, perda e renascimento. Com versos curtos e diretos, a autora transforma suas experiências em palavras que acolhem, inspiram e empoderam as mulheres, lembrando às leitoras que não é preciso esperar por um resgate quando se pode escrever a própria história.
Com essa apresentação de A princesa salva a si mesma neste livro, pude ler e enxergar o conteúdo como algo essencial para que leitores como eu criem empatia com uma vivência diferente da nossa. Em A princesa, a autora aborda temas como a relação das mulheres com o próprio corpo, a perda da inocência e a forma como essas experiências moldam seus sonhos para o futuro. Esses elementos contribuíram para que eu percebesse a importância desse choque de realidade, que, por sua vez, nasceu de muita dor e desilusão. O impacto se torna ainda maior quando Lovelace toca na ferida ao tratar de temas delicados, frequentemente silenciados em uma sociedade patriarcal.
meu primeiro beijo:
à força
imobilizada,
uma boca
repetindo
não não não. (p.34)
Na próxima parte, A Donzela, as poesias tratam de um contexto que está longe de ser suave e belo, como nos contos de fadas das animações da Disney, por exemplo. Em cada verso, encontrei um uso muito interessante da expectativa gerada pela fantasia. Por meio dela, Amanda Lovelace evidencia a crueldade do mundo, principalmente ao lidar com temas como a mortalidade e as decepções amorosas que muitas mulheres enfrentam com homens que, de príncipes, não têm nada.
sem saber,
ela estava apenas trocando
uma torre
pela outra.
– os mentirosos mais perversos de todos. (p.52)
Nesse sentido, considero que a leitura se tornou ainda mais envolvente, pois, em A Rainha ficou nítido o amadurecimento da personagem que a autora constrói a cada verso de A princesa salva a si mesma neste livro. Essa estrutura transforma a publicação em uma construção poética de uma jornada heroica para as mulheres. Por esse motivo, foi gratificante perceber, após acompanhar tanto sofrimento em cada palavra, que existia um espaço em alguns versos que traziam um tom mais otimista além de reflexões sobre amor-próprio.
todas essas coisas
caem em algum momento,
mas nenhuma delas
tem uma queda igual
a que tenho por você
quando acordo todas as manhãs.
– todos os clichês foram escritos por
nossa causa. (p.144)
A última parte — Você — encerra de forma sábia esse processo de reconstrução de uma mulher que, ao longo do livro, descobre na linguagem poética um caminho para se tornar protagonista da própria história. E foi assim que consegui encontrar versos que incentivam a busca por conhecimento, uma ferramenta poderosa para que as leitoras se empoderem e desenvolvam amor-próprio.
ataque a biblioteca.
leia tudo
em que colocar
suas mãos
& mais
alguma coisa. (p.167)
– o único amor de que você precisa é o seu. (p.195)
A princesa salva a si mesma neste livro é definitivamente uma obra para ser lida por todas as pessoas. Da minha parte, ficou a oportunidade de aprendizado com o eu-lírico de uma escritora que em cada palavra abriu seu coração e contou histórias através de suas poesias, tudo isso com um estilo totalmente diferente do que eu estava acostumado, o que no final da experiência foi algo extremamente positivo.
Adicione A princesa salva a si mesma neste livro à sua biblioteca!
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