Palhaços já estão impregnados no imaginário popular como uma figura dicotômica: Ao mesmo tempo que é uma figura cômica, responsável por fazer as famosas palhaçadas para tirar-nos gargalhadas, ele também inspira desconfiança por sabermos que detrás daquela maquiagem e sorriso forçado, há um homem que pode estar de saco cheio de ser o alvo das risadas e se vingar de seu público. Figuras clássicas, folclóricas e bizarras já despontaram no mundo pop, desde o clássico Ronald Mcdonald, o amedrontador Pennywise, ao estupefante Bozo. É nesse espírito suspeito que o filme lançado em 2014, Clown, dirigido por Jon Watts, responsável pelo novo filme do Homem Aranha, Homecoming, aborda um terror sobrenatural com o folclórico personagem.
Sim, sobrenatural. a história não é sobre um palhaço cansado com seu trabalho e que resolve matar todo mundo. Nem um ser de outro planeta que se disfarça no personagem circense para atrair criancinhas. O palhaço contratado para a festa de um pequeno garoto cancelou sua aparição no evento, e todas as crianças presentes ficam tristes. Porém, tentando salvar a festa de seu filho, o corretor de imóveis Kent (Andy Powers), encontra convenientemente uma antiga fantasia de palhaço em uma casa que estava vendendo e decide utilizá-la. No entanto, tudo começa a dar errado quando ele descobre que essa roupa de palhaço carrega uma terrível maldição.
No filme, o personagem circense palhaço, ou clown em inglês, é uma alegoria ao um ser mitológico chamado de “Clöyne“, um monstro que vivia nas montanhas nevadas de um país nórdico, e que se alimentava anualmente de 5 crianças, uma para cada mês do inverno (deve haver um inverno mais longo no país nórdico em questão). Porém, isso tornou-se lenda, e, hoje em dia, os palhaços são uma “representação” hilária desse desconhecido ser que adorava comer criancinhas. Mas, descobrimos durante o longa que a roupa vestida por Kent, são feitas da própria pele e pelos do Clöyne, que, lentamente, vai se apossando do corpo do pai que só queria salvar a festa do filho.
Com um roteiro previsível, Clown decepciona usando e abusando de clichês do gênero, como possessão, filho e esposa assustados se tornando alvos, um livro que explica tudo e um desconhecido que está disposto a dar um fim na maldição. Se isso já não fosse o bastante para torná-lo obvio, o diretor, pra piorar, não consegue nem transformá-lo em um thriller básico, o filme não proporciona sequências que assustem ou que coloque o espectador em um clima de suspense, carecendo em quase em sua totalidade de cenas verdadeiramente assustadoras. As cenas mais impressionantes do filme estão na transfiguração de Kent no ser mitológico que vai se apoderando de seu corpo, assemelhando-se cada vez mais na icônica figura do palhaço do mal, e somente isso.
Erros de continuidade e lógica no roteiro: Por que alguém iria fazer uma roupa de palhaço com as peles do tal Clöyne e enviá-la para os EUA? Como a roupa estava convenientemente na casa em que Kent estava trabalhando? Crianças são devoradas como se fosse um dia normal na cidade? Pra que introduzir uma gravidez desimportante na história?Questões que o roteiro não se preocupa em dar uma conexão. O longa se torna um apanhado de cenas pobres unidas em uma narrativa fraca. Não é por ter uma proposta de um filme B que a produção precisa fazer um longa a base de canetadas.
Com tudo isso Clown fica abaixo da média em um momento em que os filmes de terror de baixo orçamento ganham cada vez mas espaço, mesmo contando com um personagem chamativo e folclórico como antagonista. Fato que deixa ainda mais escancarado a sua falta de qualidade. Um filme que coloca Jon Watts em desconfiança para o filme Homem-Aranha Homecoming.