Matadores de aluguel são figuras comuns no cinema desde era de ouro dos filmes de Velho Oeste. Eles aparecem constantemente nas telas por gerarem todos os tipos de história envolvendo violência, ação e crimes. É relativamente simples criar um bom roteiro com esse tipo de personagem, pois basta dar uma missão a ele para criar uma motivação que faça a história andar. Já tivemos uma boa quantidade de obras que subvertem o tema ou o estereótipo do matador clássico. Uns bons e outros ruins. No caso de Comeback, é excelente.
Um matador que teve um passado glorioso está vivendo a crise da velhice e não consegue lidar com o fim de sua carreira. Ele almeja voltar a sair nas manchetes de jornal como um grande assassino, mas seus dias se resumem a trabalhar para um corrupto local. As coisas começam a mudar quando um jovem pede para aprender o oficio de assassino e um grupo de cineastas começa a perguntar sobre sua carreira.
Amador é o personagem interpretado Nelson Xavier, e o ator está brilhante. Sua interpretação é sutil, mas consegue passar todas as camadas que seu personagem possui, e não são poucas. Ele vive o homem velho que não aceita a própria idade e o assassino que deseja voltar a matar, mas ao mesmo tempo não é sádico nem perverso. Todos os outros atores também estão muito bem. Marcos Andrade também faz um jovem que deseja aprender o oficio de assassino, mas não é um estereótipo de homem bronco e violento. Todos os personagens são bastante únicos e muito bem vividos por seus atores.
Erico Rassi escreveu o roteiro e dirigiu esse filme e é possível perceber isso, pois a direção foca em detalhes pequenos, porém essenciais para construir os personagens e o ambiente onde a história se passa. A forma como a película é filmada mostra que o diretor conhece profundamente o roteiro que tem em mãos, e no caso Erico pensou a obra em sua totalidade. Esse é seu primeiro filme e já entrega uma obra incrível. A única coisa que posso reclamar da sua direção é que ele repete algumas cenas sem muita necessidade, mas isso só ocorre em um momento em especial no primeiro ato.
Vamos falar um pouco mais do roteiro. Ele tem dois pontos que não fazem esse filme ser totalmente excelente. A transição do primeiro para o segundo ato é pouco clara e por vezes temos elementos típicos de primeiro ato se estendendo pelo o segundo, algo que quebra o ritmo do filme às vezes. O final é bastante abrupto, mas não chega a ser ruim. Acredito que essa finalização da história dividirá muito as opiniões. Arrisco dizer que, se não fosse o falecimento de Nelson Xavier, poderíamos ter a continuação deste filme em uma parte dois.
As formas de abordar as temáticas do filme são incríveis e feitas com uma sutileza absurda. Para os que gostam de um filme mais realista, pé no chão, esse é um prato cheio. O filme é tão real que por vezes é possível lembrar-se de ter passado em lugares semelhantes e ter tido conversas similares, pois é tudo tão mundano e cru que todos já vivenciaram um tanto do que é mostrado nesse filme. Ainda por cima temos viradas na trama, violência e até mesmo um dose de humor perverso.
Amador é um personagem incrivelmente marcante em todos os aspectos. Desde sua roupa, e todo o estilo impregnado por Nelson, que o faz ser uma figura extremamente rica e complexa. Faça um favor a si mesmo e vá assistir Comeback no cinema.