Qual é o peso da expectativa familiar sobre seus ombros? Encanto, nova animação da Disney que ganhou o Oscar de Melhor Animação em 2022 elabora essa e mais outras questões ao longo de suas magias, músicas e muito bom humor. O longa, que está disponível no catálogo da Disney +, tem esta temática muito interessante para o público infanto-juvenil e traz, com muito carisma, a jornada de auto-aceitação de Mirabel Madrugal ao mesmo tempo em que ela tenta cumprir as expectativas de sua família fantástica.
Os Madrigal é uma família extraordinária que vive escondida nas montanhas da Colômbia, em uma casa mágica, em uma cidade vibrante, em um lugar maravilhoso conhecido como um Encanto. A magia deste Encanto abençoou todos os meninos e meninas da família com um dom único, desde superforça até o poder de curar. Todos, exceto Mirabel. Mas, quando ela descobre que a magia que cerca o Encanto está em perigo, Mirabel decide que ela, a única Madrigal sem poderes mágicos, pode ser a última esperança de sua família excepcional
Em Encanto cada membro da familia ganha seus poderes ainda na infância através de uma vela que nunca se apaga, e com seus poderes eles ajudam a comunidade de seu isolado vilarejo. Mirabel é a única que não ganha poderes especiais, e com isto cria-se uma grande frustração na protagonista e em sua família, especialmente em sua avó que é mais apegada à tradição familiar por seu passado sofrido. O filme é dirigido por Byron Howard e Jared Bush, ambos conhecidos por seus trabalhos de direção e história em outra animação da Disney, Zootopia (1 e 2). Bush também escreveu Moana, outra animação consagrada da casa.
O longa conta com 99 minutos de muitas cores e canções. E falando nas canções, estranhei um pouco as músicas na versão dublada, pois as frases eram tão rápidas que, às vezes, era muito difícil entender o que se estava cantando. É um detalhe que não é suficiente para estragar a experiência, mas recomendaria assistir com legendas para uma melhor compreensão nas músicas mais agitadas. Nesse ponto o destaque é para a melhor canção do filme “Não falamos sobre Bruno” que ficou no topo do ranking de musicas das paradas americanas. A qualidade da animação em si é “encantadora” (desculpe o trocadilho), com muitas cores, detalhes e nuances, Encanto constrói uma identidade visual bem interessante para o local e a própria pluralidade étnica que temos nos personagens.
A protagonista Mirabel é exuberantemente carismática. Ela não só conquista as crianças do vilarejo como também as que estão assistindo do outro lado da tela. Com traços hispânicos, ela foge dos estereótipos das protagonistas das animações americanas. Com cabelos encaracolados, óculos e traços que fogem do “padrão”. Entretanto, essa fuga dos padrões não acontece na construção da personagem, já que ela também tem aquela clássica benevolência extrema, personalidade atrapalhada, adora a criançada… típica personalidade de princesinha que, mesmo frustrada, consegue ser perfeita. Por outro lado Encanto desenvolve bem a questão da pressão familiar e de si mesma que Mirabel sofre.
Sem os poderes especiais da família Madrigal ela é vista de certa forma como a ovelha negra. Vive em um quarto simplório de quem ainda não ganhou poderes. E, devido a uma profecia, a existência dela é tratada por sua avó como um sinal de mal agouro que se aproxima da família. E com este cenário Mirabel tenta provar para todos e para si mesma que ela, mesmo sem poderes especiais, pode ser mais que importante para o vilarejo como também para sua própria família. Numa jornada de valorização própria, trazendo a reflexão de que ao se libertar das amarras da expectativa de sua familia quem decide o que voce é é somente você mesmo. Não é um dom especial que definirá o que somos ou o valor que temos.
Em Encanto não temos um príncipe encantado para salvar a princesa, mas o final feliz também vem à galope. Há poderes encantadores e poderosos, mas o dom de colar as “rachaduras” psicológicas das pessoas, e de si mesmo, é o mais poderoso poder que podemos sonhar em ter.
Encanto
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Nota