Frieren e a Jornada para o Além (1ª Temporada) | Crítica

“As lembranças são como as estrelas. Mesmo que a pessoa não esteja mais presente, sua luz continua a brilhar.” Essa frase, dita pela elfa Frieren em “Frieren: E a Jornada para o Além“, resume a essência dessa obra que nos convida a embarcar em uma jornada introspectiva e emocionante. Adaptado do mangá homônimo de Kanehito Yamada, o anime conquistou o público por sua narrativa singular, personagens cativantes e reflexões profundas sobre a vida, a morte e a importância das relações interpessoais.

Após viver séculos e ter uma década de aventuras ao lado do herói humano Himmel e seu grupo, a elfa imortal Frieren finalmente encontra paz após derrotar o Rei Demônio. Mas a quietude não dura muito tempo: impelida por uma promessa feita ao amigo falecido, ela embarca em uma nova jornada para entender as emoções humanas e o significado da vida. Ao longo do caminho, ela conhece diversos personagens, cada um com suas próprias histórias e motivações, e aprende a lidar com as nuances da mortalidade, da amizade e do amor.

Com 28 episódios, a primeira temporada de “Frieren: E a Jornada para o Além” foi produzida pelo estúdio Madhouse, conhecido por animações de alta qualidade como “Death Note“, “Hunter x Hunter” e “One Punch Man“. A adaptação captura com maestria a beleza melancólica da obra original, com destaque para a trilha sonora e a paleta de cores sóbria que evocam o passar implacável do tempo.

Yamada, a autora do mangá original, é conhecida por seu estilo narrativo melancólico e reflexivo. Em Frieren, ela combina elementos de fantasia e drama para explorar temas como a passagem do tempo, a perda e a importância das relações interpessoais. A obra também é influenciada por diversos autores clássicos, como J.R.R. Tolkien e Ursula K. Le Guin, que inspiraram o rico universo de fantasia e a construção dos personagens.

O “world-building” de Frieren é rico e detalhado, com um sistema de magia intrigante e diversas raças habitando o continente. O anime é uma high fantasy propriamente dita, com todos seus elementos. Cada local visitado pela protagonista e seus companheiros revela costumes, crenças e culturas únicas. O sistema de magia é complexo e fascinante, com diversos tipos de feitiços e habilidades. Magos podem conjurar elementos, curar feridas, fazer selamentos, manipular o tempo, etc. A história se estende por séculos, com eventos históricos que moldaram o mundo e os personagens e dão ao universo um arcabouço de fatos anteriores à história atual.

Além disto, o anime dá um bom destaque na construção de seus personagens, trabalhando com calma e eficientemente ao longo dos episódios. Frieren, a protagonista, é uma elfa imortal que, após a conclusão de uma longa jornada heroica, decide viajar pelo mundo para compreender as emoções humanas e o significado da vida. Com o passar dos episódios vamos entendendo mais da personagem e observamos suas leves mudanças. Fern, uma jovem órfã que se torna aprendiz de Frieren, é um dos destaques da série. Sua ingenuidade e entusiasmo contrastam com a seriedade da elfa, criando uma dinâmica divertida e cativante. Outros personagens como Stark, o guerreiro carismático, e os amigos de Himmel, o herói da jornada anterior, também contribuem para a riqueza da narrativa.

O tema central de Frieren gira em torno da importância de dar valor ao que vivemos e às pessoas que nos rodeiam. Através da perspectiva única de Frieren, que observa a vida humana passar em um piscar de olhos, a série nos convida a refletir sobre a efemeridade da existência e a importância de aproveitar cada momento ao máximo. E embora o ritmo da série seja mais lento e contemplativo, o que pode afastar alguns espectadores, essa característica permite que a obra explore com profundidade os sentimentos dos personagens e as nuances da história.

O anime também apresenta cenas de ação bem competentes que complementam a narrativa e demonstram as habilidades dos personagens. Como o confronto de Stark contra o Dragão, A luta contra os demônios  incluindo um dos Sete Sábios da Destruição e a exploração da masmorra do Túmulo do Rei Arruinado. Essas cenas de ação, embora menos frequentes que os momentos reflexivos, são importantes para o desenvolvimento da história e dos personagens. Elas demonstram as habilidades e os limites destes, além de adicionar um elemento de suspense e emoção à narrativa.

Falando em demônios, vale salientar que em vez de monstros irracionais, os demônios em “Frieren” são criaturas inteligentes e manipuladoras, incapazes de conexão emocional. Essa nova perspectiva desafia as representações comumente utilizadas nas obras atuais e convida à reflexão sobre a natureza do bem e do mal. Motivada por traumas do passado, Frieren dedica sua vida a eliminar os demônios e, no processo, busca entender a humanidade. A série explora como a comunicação e a compaixão definem nossa humanidade, contrastando-as com a natureza egoísta dos demônios do anime.

Frieren pode passar uma sensação de que o auge da história já se passou, com os flashbacks tomando grande parte da narrativa, e a falta de um grande vilão podem ser considerados pontos negativos para alguns espectadores. Mas com o passar dos episódios vamos entendendo que estamos em uma nova jornada, que, por mais que não tenha mais Rei Demônio para ser derrotado, teremos muitas emoções pelo caminho.

“Frieren: E a Jornada para o Além” foi recebida com grande entusiasmo pela crítica e pelo público, alcançando uma alta pontuação em sites especializados como o MyAnimeList. A primeira temporada deixa em aberto o destino da protagonista e seus companheiros o que aumenta a expectativa para a produção de uma segunda temporada, que adaptaria os próximos volumes do mangá e aprofundaria ainda mais a história de Frieren e seus companheiros. Eu já estou ansioso!