Por muito tempo o livro “IT” do icônico Stephen King configurou na seleta lista de livros que jamais poderiam ser adaptados para o cinema ou TV. Mesmo com a versão dos anos 90, por mais bem intencionada que fosse, não era levada tão a sério como uma adaptação. Mas pudera, com um livro de mais de mil páginas e repleto de conceitos metafísicos, essa era uma tarefa ingrata para qualquer cineasta. Entretanto, em 2017 tivemos um filme muito bom que propunha a contar metade da história e com toda a calma devida. Agora cabe a segunda parte terminar a história e tirar IT de uma vez por todas da lista dos “filmes impossíveis”.
Agora estamos nos dias atuais onde os protagonistas estão na fase adulta e recebem o chamado para voltar para Derry e acabar com a ameaça da Coisa de uma vez por todas. Apesar de ter um enfoque neste novo período, o filme a todo o momento retorna ao passado, às vezes fazendo uma narrativa intercalada. A escolha do elenco foi perfeita. É impressionante como os atores adultos se parecem com suas versões infantis e conseguem manter a personalidade de forma consistente. Não existe nenhum deles que não esteja perfeito em seu papel.
Mas apesar disso este não é um filme perfeito e, de certa forma, talvez esteja um pouco abaixo em relação à primeira parte. Em nenhum momento chega a ser um filme ruim, mas algumas questões nele quebram o clima de terror e atrapalham a narrativa. Vamos a cada um desses pontos para explicar o porquê dessa critica.
De maneira geral esse é um filme menos assustador que o primeiro. Por mais que a interpretação de Bill Skarsgård seja excelente, temos um uso excessivo de computação gráfica para criar imagens assustadoras. Isso gera um distanciamento quando percebemos, no meio de uma cena assustadora, que aquilo é uma mera produção computadorizada. Mas quando o filme aposta em criar tensão, e usar atores de carne e osso para criar o terror, o filme verdadeiramente brilha. Mas essa ausência de medo também está ligada a outro problema do longa.
No segundo ato o filme entra num esquema de esquetes que acabam sendo muito previsíveis, pois sabemos exatamente o que cada personagem irá fazer. De modo geral o filme está repleto de pequenos momentos telegrafados que matam bastante da surpresa. Outra questão é a comédia. O primeiro filme teve bons momentos cômicos e aqui temos uma continuação dessa ideia, mas não funciona tão bem quanto no primeiro capítulo. A comédia aqui hora funciona, mas muitas vezes acaba matando o clima de tensão com piadas inseridas no meio de cenas que supostamente deveriam ser assustadoras. No clímax do filme isso pode ser uma grande pedra no sapato dessa produção.
Como adaptação temos um roteiro muito esperto, sabendo manter o que é necessário e mudando quando preciso. Os conceitos mais complexos do livro são passados com clareza e a direção de Andy Muschietti tem momentos belíssimos de transição de cenas e tempo, ao mesmo tempo em que acaba optando por cortes abruptos que podem gerar cenas confusas e mal conectadas. De modo geral tanto o roteiro, quanto a direção, possui mais acertos do que erros. O curioso é que ambos conseguem errar e acertar nos mesmos pontos.
Juntos os dois filmes geram uma ótima adaptação do livro e uma jornada impactante, assustadora, e por vezes engraçada. O tipo de filme de terror que consegue sair do nicho de fãs e se tornar uma obra maior com potencial de atingir um público mais amplo. Diferente da maioria de filmes deste gênero esse realmente consegue falar de forma genuína sobre amizade, trabalho em equipe e vencer seus medos, tudo guiado por personagens verdadeiramente interessantes e que nós nos importamos. Tudo isso já estava no livro, mas agora está na tela também. Os dois valem o seu tempo.
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