Depois de muito tempo resistindo a ler Jogos Vorazes, posso afirmar que, quando finalmente embarquei nesse mundo, a obra distópica de Suzanne Collins se tornou uma de minhas favoritas dentro do gênero. Desde o fim da trilogia principal, a autora publicou A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, um prelúdio focado no grande vilão da trama, e então acreditei que aquela era a última viagem a Panem. Porém, fui duplamente surpreendido com o anúncio de que não apenas um novo livro estava a caminho, mas também que sua adaptação para o cinema já estava garantida. E agora que enfim pude conferir Amanhecer na Colheita, posso afirmar com segurança que este é um dos melhores volumes dentro da série.
O segundo prelúdio da saga se passa 24 anos antes de conhecermos Katniss Everdeen e começa exatamente no dia da colheita da 50ª edição dos Jogos Vorazes. Dessa vez, graças à celebração do Massacre Quaternário, cada Distrito terá que mandar o dobro de tributos para lutar e morrer na Capital. Quando Haymitch Abernathy é escolhido junto com mais três jovens do Distrito 12, todos os seus planos para comemorar o aniversário ao lado da família e da namorada vão por água abaixo. Mesmo sabendo que seu fracasso é certo, o rapaz está disposto a resistir até o fim para que sua luta reverbere para além da arena mortal.
Amanhecer na Colheita não se propõe a contar se o protagonista irá sobreviver ou não, mas sim de que maneira e a que custo isso acontecerá. Durante esse processo, os leitores são apresentados a uma versão de Haymitch que não conhecíamos da história original. Muito distante daquele homem amargurado entregue à bebida, o jovem Haymitch é um adolescente sonhador e gentil, cujas ambições se resumem a ficar com sua família e sua garota.
Além de acompanhar a trajetória do mocinho, o livro também serve como um elo de ligação entre o passado e o futuro, onde encontramos tanto personagens de A Cantiga quanto da trilogia principal. Indo muito além do fan service e das referências soltas, a autora estabelece conexões que justificam ou esclarecem alguns acontecimentos dos outros volumes, deixando a narrativa ainda mais coesa e complexa.
E ainda que a mecânica dos Jogos se mantenha a mesma, o jeito como as coisas se desenrolam segue por caminhos inesperados. Sempre que eu imaginava que algo iria acontecer de determinada forma com um personagem, era surpreendido com outra coisa que quebrava minhas expectativas de maneira positiva.
Um ponto que me deixa dividido em Amanhecer na Colheita é a narração em primeira pessoa. Ainda que seja bom estar dentro da cabeça de Haymitch para entender melhor sua personalidade e suas motivações, essa abordagem intimista também é limitadora, pois ficamos presos a um único ponto de vista enquanto várias coisas estão acontecendo em mais de um lugar ao mesmo tempo. Contudo, isso não prejudica a experiência como um todo.
Ao final da leitura, a carga dramática crescente explode em uma das conclusões mais tristes de toda a saga, mostrando o verdadeiro peso dos Jogos Vorazes e a crueldade do presidente Snow. Muito mais do que isso, o ato de rebeldia de Katniss 24 anos depois ganha um significado maior e mais complexo, marcado por cicatrizes antigas das muitas vítimas da Capital, mas também por um toque de esperança.
Amanhecer na Colheita é um acréscimo valioso à franquia Jogos Vorazes, com uma profundidade única dentre os cinco volumes publicados até então. Digo “até então” porque agora tenho mais confiança de que retornaremos a Panem outras vezes sob o olhar de outros personagens que merecem ter as suas histórias contadas por mais trágicas que elas sejam.
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