Logan (2017)│Crítica 2

Muito se especulou sobre o terceiro filme solo de Wolverine nos cinemas em 8 anos. Será que de fato fariam um filme digno do mutante mais famoso e mortal dos X-Men? Para que isso acontecesse Logan teria que quebrar alguns tabus. O primeiro: Quebrar a maldição do terceiro filme. Tem-se como regra que o terceiro filme de uma franquia é o mais fraco. O segundo: Esse ainda maior, pois os próprios antecessores de Logan (X-Men Origens: Wolverine, e Wolverine Imortal) foram fracassos de crítica, então o que esperar do próximo filme dessa sequência cabulosa? Isso sem contar os tenebrosos filmes dos X-Men, onde abusaram da imagem do Wolverine para pouca coisa de valor, em um total de 6 filmes com o mutante até então.

Mas por que tanta especulação em torno de um filme que tudo levava a crer que seria mais um fracasso nessa lista? Alguns elementos a mais foram adicionados nesse tempero e fizeram crescer a expectativa e, sobretudo, a esperança em Logan. Primeiramente, a classificação para maiores de 18 anos dada para este filme. Depois do comprovado sucesso de Deadpool, um filme de herói para maiores que abusa da violência. Êxito que outorgou outros filmes a poder usar da mesma proposta violenta sem medo das limitações que uma classificação para maiores possa trazer. Linguagem perfeita para um filme com a essência das histórias de Wolverine. E em segundo lugar, Logan é o filme de despedida do ator Hugh Jackman do personagem. Após 17 anos encarnando o mutante com muito louvor, apesar dos filmes nunca terem sido à altura de seus trabalhos, Jackman quer se despedir em grande estilo do papel que ele tanto amou fazer nessa longa história dele com o personagem dos quadrinhos.

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Isto posto vamos então falar do filme Logan em si, dirigido novamente por James Mangold (o mesmo diretor do criticado Wolverine Imortal). Logan se passa no ano de 2029, um futuro próximo, porém praticamente com os mutantes erradicados do planeta. Os poucos conhecidos”mutunas” – como são chamados pejorativamente – restantes são Logan, Caliban (Stephen Merchant) e Charles Xavier (Patrick Stewart). Logan se encontra velho e aparentemente doente, faz bico de chofer de um estilo de “fancy uber“, tentando levantar fundos para os medicamentos de seu antigo mentor. O grande Professor X está com uma doença degenerativa, onde constantemente perde o controle de seus grandiosos poderes mentais, transformando-o numa grande arma de extermínio. E tais medicamentos controlam essas convulsões mentais do antigo líder dos X-Men. Xavier é mantido escondido do conhecimento público depois do trágico evento ocorrido um ano antes em Westchester, onde Charles foi dado como morto.

Falando em X-Men, os filmes solos de Wolverine costumam colocar o esquadrão de jovens super-dotados de lado, sendo apenas mencionado de longe. Em Logan não é diferente, os X-Men ficaram no passado, extinto, dado como uma tentativa falha de mudar o rumo das coisas, o que neste futuro inclemente para a raça mutante, é uma opinião sensata. Porém o filme não deixa de homenagear seu material base, incluindo, literalmente, as revistas em quadrinhos como um elemento no filme.

A rotina autodestrutiva de Logan muda quando Laura (Dafne Keen) entra em seu caminho. Descobre-se que ela também é uma mutante, uma nova mutante, e tem os mesmos atributos que Logan. E não é segredo para quem conhece o mínimo das histórias dos X-Men que Laura é a X-23, experimento de clonagem a partir do DNA do próprio Logan, que no filme está sendo perseguida pelos Carniceiros que querem eliminar o erro saído do frasco de laboratório. Então Logan se vê obrigado por diversos fatores a ajudá-la em sua jornada, a muito contra-gosto, junto do senil Xavier. 

As cenas brutais desde o primeiro minuto do filme espantam e colocam um sorriso no rosto do espectador, pois ali ele está vendo algo do verdadeiro Wolverine dos quadrinhos. Porém não é só de cenas violentas que vive o filme. A relação entre Logan e Xavier evolui a tradicional ligação paternal: agora não é o “pai” cuidando do “filho”, mas sim o “filho” cuidando do “pai”. A evolução natural do ciclo deste vínculo que muitos conseguem se identificar e cativar, não só pela situação, mas principalmente pela atuação de ambos os atores. E como foi bom ver o excelente ator Patrick Stewart sendo finalmente exigido neste papel. Conseguindo dar vida a um Xavier bem diferente do que conhecemos, porém realmente crível aos nossos olhos.

O filme conta com um plot básico: os protagonistas têm que ir do ponto X ao ponto Y. Mas o interessante está no que acontece durante a jornada. Diferentemente dos filmes anteriores, conseguimos perceber até elementos básicos de roteiro sendo construídos no filme e ter um porquê dos acontecimentos. O trem está lá, passando perto do esconderijo desde o começo do filme, respaldando a fuga graças à ferrovia mais pra frente. Assim como a bala de adamantium; a amargura de Logan. As coisas acontecem por ter um motivo. Algo simples, porém merecedor de nota dentro da franquia que usou e abusou de canetadas e furos anteriormente. 

Um dos pontos mais interessantes do filme é a relação de Logan e Laura. Em um estilo pai bêbado amargurado e filha adolescente rebelde. O desenvolvimento dessa relação não só aprofunda os personagens como também gera cenas divertidíssimas. Dafne Keen manda muito bem no papel da X-23, traduzindo uma assassina que ainda é uma criança. Em contrapartida um dos pontos mais fracos são os vilões. Em nenhum momento Donald Pierce (Boyd Holbrook) e o cientista Zander Rice (Richard E. Grant) parecem colocar o espectador realmente em um clima de periculosidade. Mas aí entra novamente Hugh Jackman – aqui evitarei dar spoilers – cenas que dão até arrepios, gerando um embate que realmente mexe com  o espectador.

Uma grande jornada final para Wolverine e Hugh Jackman que, enfim, acertam no filme solo do mais adorado integrante dos X-Men, numa grande redenção não só ao personagem dentro do filme, mas para todos os envolvidos na produção: Jackman, Mangold e Fox – inclusive já começaram os pedidos para que Jackman não abandone o papel. Uma produção convincente, densa e que fala por si só: não é necessário assistir nenhum outro filme para poder apreciar Logan em sua magnitude. Coloca-se em um patamar acima de seu predecessor – Deadpool – nessa nova skin de heróis da Fox. Enfim, um excelente ponto final nessa jornada de altos e baixos, mas que com certeza deixará saudades.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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