Tijolômetro – Mickey 17 (2025):

Desde o grande sucesso de Parasita (2019), o público ansiava pelo novo filme de Bong Joon-Ho. Agora, quase seis anos depois, enfim podemos ver o atual projeto nas telonas. Ainda que Mickey 17 não se compare ao seu trabalho anterior, o cineasta, aliado a um grande elenco, realiza algo que poucas adaptações cinematográficas conseguem: ser melhor que o livro que lhe deu origem.
A trama se baseia no livro Mickey7, do escritor Edward Ashton, e acompanha a dura rotina de Mickey Barnes (Robert Pattinson) na colônia espacial do planeta Niflhein. Ele é um Descartável, um clone designado para as missões mais perigosas onde a morte é quase certa. Sempre que morre, seu corpo é reimpresso e suas memórias restauradas. Em sua 17ª versão, Mickey começa a reconsiderar sua situação e conclui que não quer morrer mais uma vez.
Para quem conhece o trabalho de Bong Joon-Ho apenas em Parasita, é bom estar preparado para um estilo diferente e mais americanizado. No entanto, alguns traços característicos do diretor podem ser vistos em Mickey 17, especialmente o estilo satírico da narrativa. Isso é evidenciado pelo político caricato Kenneth Marshall e sua esposa controladora Ylfa, interpretados por Mark Ruffalo e Toni Collette. A dupla protagoniza as situações mais absurdas e mostra todo o fanatismo que pode surgir em torno de líderes políticos e religiosos.
Porém, esse tom de comédia que o roteiro propõe nem sempre funciona, visto que algumas cenas exigem mais seriedade e desenvolvimento. A tentativa de extrair humor nesses momentos quebra o ritmo dramático que vinha ganhando força e reduz a profundidade do tema discutido, causando no máximo um riso de desconforto.
Além de sofrer com esse mesmo problema, a obra de Edward Ashton ainda tem o agravante da falta de carisma do protagonista. Mas felizmente, Robert Pattinson consegue consertar isso na adaptação para o cinema. Sua atuação versátil mostra o quanto ele consegue se adaptar a cada situação e apresentar diferentes versões de uma mesma pessoa.
Nesse contexto, uma das escolhas mais acertadas da produção foi aumentar o número de versões de Mickey das sete mostradas no livro para 17 e reduzir o tempo em que elas ocorrem. Isso contribui para a vivência do personagem e lhe atribui mais camadas, principalmente nas cenas onde vemos as iterações passadas e seu relacionamento com os outros moradores da colônia espacial.
Mickey 17 certamente não é tão memorável quanto o filme predecessor de Bong Joon-Ho, mas tem êxito ao superar o material original que lhe serve de base. A combinação de um roteiro que sabe aproveitar os pontos positivos de uma história com um elenco carismático resulta em um longa-metragem com pontos positivos o suficiente para que a experiência de assisti-lo valha o ingresso.
Assista ao trailer:
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