Tijolômetro – My Hero Academia (7ª Temporada)

A sétima temporada de My Hero Academia é um mosaico de emoções, ideias e intenções. É intensa, ambiciosa e, por vezes, frustrante. Há momentos de pura excelência visual e emocional, mas também há excessos narrativos que arrastam o ritmo e confundem sua proposta. Entre lutas espetaculares e debates filosóficos sobre justiça e moralidade, a série parece hesitar em seu próprio clímax. Há quem veja aqui uma temporada grandiosa, costurando os fios de uma trama longa e complexa. Outros sentirão um cansaço inevitável: são muitos personagens, muitos discursos, muitos flashbacks. E, no fim, ficamos entre a grandiosidade da execução e a dúvida sobre a clareza da mensagem. É, sem dúvida, uma temporada de sentimentos mistos.
Nesta nova fase do anime criado por Kohei Horikoshi, a trama mergulha de cabeça no confronto final entre heróis e vilões. A temporada anterior terminou com o mundo à beira do colapso, após a destruição causada pelo conflito entre os principais vilões e a sociedade heroica. Midoriya havia retornado à U.A., e a ameaça de All For One, agora cada vez mais encarnado em Shigaraki, pairava como uma sombra absoluta. Restavam perguntas importantes: como impedir o avanço do vilão que parece inatingível? E que papel os jovens heróis da U.A. terão no último embate? A sétima temporada tenta responder a isso com uma mistura de ação intensa e desenvolvimento emocional.
Tecnicamente, a temporada é um primor. O estúdio Bones mostra, mais uma vez, porque é um dos mais respeitados da indústria. As sequências de batalha são dinâmicas, cheias de impacto visual e fluidez coreográfica. O episódio de estreia com a luta entre Star and Stripe e Shigaraki é um espetáculo à parte, com uma animação que transmite a escala épica do confronto. É o tipo de entrega visual que faz o coração acelerar e os olhos grudarem na tela. Mesmo nas sequências mais emotivas, a direção consegue extrair o máximo dos enquadramentos, das trilhas e dos gestos. Há um cuidado artístico que merece todos os elogios, mesmo quando a história parece derrapar.
Uma curiosidade interessante sobre essa temporada é que a introdução de Star and Stripe, a heroína número um dos Estados Unidos, veio acompanhada de bastante comoção no Japão, pois sua estreia coincidiu com datas comemorativas do mangá e também com o anúncio de que a próxima temporada será a última. Outra curiosidade é a repercussão internacional de sua breve participação — uma personagem tão poderosa e carismática que muitos fãs pediram um spin-off só dela, mesmo com seu destino trágico tão precoce.
Mas se por um lado a temporada entrega cenas de luta impecáveis, por outro, ela mergulha de forma talvez excessiva em dramas e retrospectivas. Muitos vilões ganham espaço para contar suas origens, suas mágoas e justificativas. Himiko Toga e Dabi são bons exemplos disso: suas histórias são trágicas, sim, mas o tempo dedicado a elas muitas vezes quebra o ritmo da narrativa. Até Shoji, um personagem secundário por tanto tempo, recebe seu momento de destaque, o que é interessante no papel — afinal, todos os alunos da U.A. têm seu valor —, mas na prática torna o roteiro disperso. A tentativa de dar profundidade a tantos personagens soa, por vezes, como uma diluição da tensão que a temporada deveria manter.
Apesar disso, é admirável ver como a série tenta, mesmo tardiamente, costurar os retalhos deixados ao longo das temporadas anteriores. Há um esforço legítimo em dar função a cada peça do tabuleiro. O plano final contra a Liga dos Vilões é cuidadosamente construído, e é bonito ver personagens como Uraraka e Shoji tendo papel decisivo em confrontos ideológicos. A luta entre heróis e vilões heteromorfos, por exemplo, toca em pontos delicados sobre preconceito e aceitação, ainda que a resolução seja um tanto simplista. Já Midoriya, o protagonista, aparece menos do que se esperava — o que pode ser frustrante para alguns, mas compreensível considerando o palco que se arma para o grande final.
E aqui talvez esteja a maior contradição da temporada: My Hero Academia sempre tentou desafiar a ideia de bem e mal absolutos. Quis mostrar que todo vilão tem uma dor, todo herói tem falhas, e que a sociedade heroica é construída sobre uma moralidade frágil. Mas com o tempo, a narrativa parece ter se perdido em suas próprias reflexões. São tantos arcos, tantas tentativas de explicar as motivações de todos, que a série perde força para sustentar sua própria ambiguidade. E agora, tudo indica que o final será uma batalha entre o puro mal (All For One) e o símbolo da esperança (Midoriya). Justamente o maniqueísmo que a série tentou evitar.
Ao fim, a sétima temporada de My Hero Academia é uma colcha de retalhos: bela, mas irregular; rica em conteúdo, mas por vezes confusa e exaustiva. Há emoção, há entrega, há profundidade. Mas também há excesso. Resta a esperança de que a próxima e última temporada encontre um caminho mais direto, sem abrir mão da complexidade que tornou a série tão querida. My Hero Academia está disponível na Crunchyroll com legendas e dublagem em português. E, se os planos seguirem como previsto, a oitava temporada encerrará essa longa jornada de heróis e vilões que há sete anos nos emociona, nos diverte — e, vez ou outra, nos deixa perplexos.
Confira o trailer da 7ª Temporada:
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