Algumas pessoas torcem o nariz para a Sofia Coppola devido a sua participação como atriz em O Poderoso Chefão, mas acredito que ela se provou uma ótima diretora com obras como Encontros e Desencontros e Bling Ring. Um de seus últimos trabalhos foi a adaptação de um livro de Thomas Cullinan que já havia sido trasposto para a tela em 1971 com o diretor Don Siegel e trouxe Clint Eastwood como um dos principais atores. O Estranho que Nós Amamos é uma nova abordagem da diretora desta história que trabalha a tensão numa casa isolada.
Durante a Guerra Civil Americana uma jovem acha um soldado do Norte ferido no meio do bosque. Devido a sua compaixão cristã ela arrasta o ferido até o colégio só para meninas em que vive com outras poucas meninas e duas professoras. Uma grande dúvida sobre o que fazer com o homem surge, pois ele é parte do exército inimigo, mas mesmo assim decidem cuidar do homem até que ele recupere sua perna machucada. Os problemas começam quando a presença do hospede começam a mudar a rotina da pacata casa colonial.
Filmes que se passam no século XIX tendem a ser naturalmente mais lentos para passar o clima da época, onde, de fato, as coisas aconteciam de forma mais lenta. Em O Estranho Que Nós Amamos isso é mais do que necessário, pois estamos num local isolado e com poucas pessoas, onde a tensão precisa ser construída lentamente. O problema é que, por vezes, isso realmente é bastante demorado, o que deixa o filme um pouco monótono em algumas ocasiões. Aquele tipo de longa que pode fazer você espiar o relógio durante o segundo ato enquanto espera alguma virada na trama.
Felizmente o filme conta com um elenco primoroso que sustenta esses momentos mais lentos com ótimas atuações. As professoras são interpretadas por Nicole Kidman e Kirsten Dunst que estão excelentes, assim como as mais jovens, com atenção especial para Alle Fanning, que consegue criar uma personagem odiosa e cheia de truques. Colin Ferrell também está bom e provando que consegue fazer um papel mais contido com eficiência. De modo geral, todas as atuações são mais contidas e trabalham muito o olhar. Diversas cenas são inteiramente em como os personagens se olham e como suas posições corporais podem dizer mais do que as falas em si. Ao mesmo tempo em que isso torna o filme monótono em vários pontos, também permite que os atores mostrem os seus talentos de contar a história com suas interpretações.
A ambientação é ótima e consegue criar um ambiente amplo mesmo com toda a história se passando numa única e grande casa colonial. Como já dei a entender, o segundo ato é um tanto fraco, pois apesar de termos uma tensão sendo construída e caminhando para um conflito interessante, os eventos que constrói tal conflito não são tão intrigantes, talvez pela falta de alguns diálogos mais cativantes. Entretanto, quando o filme faz a sua virada para o terceiro ato, a história deslancha todo o seu potencial e uma série de acontecimentos começa. Se antes você poderia estar achando o filme um tanto chato, em seu final é difícil tirar os olhos da tela.
Uma coisa que também pode fazer um pouco de falta nesse roteiro é ver as meninas da casa conversando entre si e seus conflitos. Quando as vemos conversando entre si sempre acaba sendo sobre o estranho que está na casa e acabamos não vendo como elas lidam com elas mesmas quando o assunto não é ele. Como a ambientação do filme tenta ser realista, temos diversos momentos bastante escuros, pois a iluminação é feita com velas, além de não termos muita trilha sonora para pontuar os momentos dramáticos do filme. De modo geral, Sofia fez um resgate interessante de um material que estava relativamente esquecido do mundo cinematográfico com uma história realmente interessante.