Em 1843 era publicado “Um Conto de Natal” de autoria de Charles Dickens e talvez seja uma das histórias mais influentes do mundo Ocidental. Mesmo que você nunca tenha lido a narrativa sobre Scrooge, você certamente já viu a história sendo contada em outras mídias. Alguém com algum problema moral, na época do natal, recebe a visita de três fantasmas que lhe mostram o que realmente importa na vida e o destino terrível que podemos ter caso nos mantenhamos presos as coisas que não são realmente importantes. O cinema já recontou esta história infinitas vezes e diversos seriados também fazem um especial de natal baseado na obra de Charles.
Dickens é um dos autores mais populares de todos os tempos com obras icônicas como Oliver Twist e David Copperfield. Mas como ele teve a ideia de uma das suas histórias mais famosas? Como ele escreveu um conto que resignificou o feriado de Natal em sua época e de certa forma o refez no imaginário popular? São estas questões que o filme O Homem que Inventou o Natal se propõe a responder.
Com problemas financeiros a vista e a chegada inconveniente de seu pai, Dickens está sobre um enorme estresse. Num plano desesperado ele decide que vai publicar sozinho o seu livro sobre o Natal com um prazo apertadíssimo para que a história seja publicada a tempo de pegar o espírito do feriado. O que o autor não imaginava é que para escrever tal narrativa teria que enfrentar seus demônios internos.
O Homem que Inventou o Natal foi baseado no livro escrito por Les Standiford que foi roteirizado de forma brilhante por Susan Coyne. A trama vai desde dilemas financeiros do autor, passando por suas relações familiares, seu passado e por fim sua visão de mundo. Tudo amarrado de uma forma que convirja na criação do Conto de Natal. O mesmo recurso narrativo é utilizado no recente filme Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas. A ideia deste recurso é mostrar diversos fatos na vida do autor que converge na epifania da criação. Talvez seja o recurso mais cinematográfico para mostrar um processo puramente mental e neste filme isso é feito de forma genial.
A história vai muito além de explicar como Dickens chegou à ideia de seu livro. Em dado momento a narrativa se encaminha para uma conversa direta do autor e seu personagem. Criador e criatura conversando frente a frente e tendo verdadeiros duelos vernais. A direção de Bharat Nalluri transita muito bem entre os momentos de fantasia e realidade e em dados momentos os mescla de forma altamente visual e didática. O único defeito que consigo apontar é uma necessidade de gerar um clímax clichê no terceiro ato, que realmente não era necessário, pois a trama já havia feito uma poderosa cena de clímax.
O que poderia ser só uma história divertida e inventiva sobre um autor famoso, acaba descambando para uma visão filosófica da criação e da arte. As cenas onde vemos o processo criativo de Dickens são interessantíssimas. Mas não deixe esta crítica lhe causar a falsa impressão de que este é um filme cabeça. Pelo contrário. Tanto Bharat Nalluri e Susan Coyne se esforçam ao máximo para fazer a trama de Les Standiford algo fácil de acompanhar mesmo que tenha seus momentos psicologicamente complexos. Além do bom humor que permeia todo o filme.
O protagonista é interpretado por Dan Stevens. Seu último trabalho mais famoso foi o de Fera na última versão em live action. Aqui ele demonstra todo o seu potencial demonstrando todas as variações de humor intensas que seu personagem sofre. Christopher Plummer faz Scrooge e mesmo que essa não seja uma adaptação do livro em si, esta é uma das melhores versões do personagem desde a interpretação digital de Jim Carrey. Um filme para os fãs do autor, do livro e se você ainda não o leu faça um favor a si mesmo e arranje um exemplar.
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