Nem toda história romântica se limita a apenas uma jornada de pessoas apaixonadas em busca da felicidade. O Livro do Amor de Júlia e Tomás de Glaucia Lewicki vai além disso reunindo elementos de diferentes gêneros, fatos históricos e muito mais em uma narrativa ousada.
Tendo como pano de fundo inicial a Inconfidência Mineira, a trama nos apresenta Tomás, cujo sentimento pela sua amada Cecília é capaz de romper todas as barreiras, principalmente a do tempo. Ele encontra Júlia em uma estação de trem e deixa claro que ela é muito importante para ele, mesmo sem saber exatamente o porquê. Ambos buscam desvendar esse mistério que toma conta de suas vidas, o que os leva a um caminho envolvendo literatura e importantes momentos da história do Brasil e de outros países.
Um primeiro ponto sobre a obra é que desde os primeiros capítulos a autora diferencia seus protagonistas e os desenvolve por meio de aspectos como conhecimentos geográficos e tipos de linguagem. Um exemplo é quando, em uma linha de diálogo, vemos o que eles sabem sobre cidades mineiras como, por exemplo, São João Del Rei e Tiradentes. Já em relação à comunicação, logo se nota como Tomás conversa de forma mais eloquente, inclusive usando pronomes como “tu” da segunda pessoa do singular, enquanto Júlia tem uma fala mais coloquial.
Apesar disso, nada impede que ela tenha uma relação boa com esse homem que certamente não se adequa aos tempos atuais pelo fato de ter nascido em outro século. Vale destacar que essa questão sobre ele pertence ao único elemento fantástico da trama de O Livro do Amor de Júlia e Tomás que, por sua vez, está relacionado com uma importante história de um conquistador espanhol do século XVI.
Inclusive, as “participações” de personagens da história fazem um casamento muito interessante com toda a investigação da dupla de protagonistas. Em diferentes momentos, encontram-se citações de fatos ocorridos no Brasil e em outros países. O mais marcante é da Inconfidência Mineira e nomes de poetas representantes do arcadismo brasileiro que fizeram parte desse movimento de revolta tão importante.
Essa observação casa com outra característica que é a valorização da literatura por meio de referências variadas, nacionais e estrangeiras. Por ser um homem apaixonado pelas letras, Tomás não perde a oportunidade de falar sobre seu fascínio pelos livros, sendo inclusive um poeta sensível que deixou sua marca na vida de algumas pessoas. Não é à toa que a escrita em seus capítulos ganha um tom mais inspirado e cativante sobre o assunto como no trecho a seguir:
“Ninguém deve, jamais, subestimar o poder das palavras. Estão em toda parte e, ao serem lidas, podem detonar reações que nem uma bomba atômica seria capaz de produzir. Estão presentes nas revoluções, nos movimentos, nas mudanças. São minha arma favorita na guerra e meu bálsamo na paz.”
Uma última observação é sobre a narrativa. A autora conecta as histórias pelo tempo, alternando capítulos sobre cada um dos protagonistas no passado e presente. Não só isso como também se utiliza da metalinguagem de forma equilibrada e envolvente com Júlia representando o próprio leitor em alguns momentos, um detalhe que transforma ainda mais a experiência do leitor.
Desse modo, não é um erro dizer que O Livro do Amor de Júlia e Tomás entrega muito mais do que o esperado, principalmente para quem espera apenas um romance leve e descompromissado, caso julgue uma obra apenas pelas palavras do seu título.
Adicione O Livro do Amor de Júlia e Tomás à sua biblioteca!
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