Quando foi noticiada a compra dos direitos dos apêndices de O Senhor dos Anéis pela Amazon criou-se um alvoroço no mundo do entretenimento. A expectativa só aumentou quando a Prime Video (streaming da Amazon) anunciou uma série de grandes proporções sobre a Segunda Era do Universo Tolkien, Os Anéis de Poder, a série mais cara da história, com o custo de quase meio bilhão de dólares só na primeira temporada, segundo fontes. Porém nem tudo que reluz é ouro e Os Anéis de Poder faz uma adaptação rica em imagens deslumbrantes, porém pobre em personagens e roteiro.
O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder é um drama épico que se passa milhares de anos antes de A Sociedade do Anel. Tem foco em um momento da história em que grandes poderes foram forjados, reinos ascenderam e também ruíram, ao mesmo tempo em que heróis foram testados e tiveram a esperança quase aniquilada pelo grande vilão do universo de Senhor dos Anéis, Sauron. Na trama inicial, a elfa Galadriel, uma das protagonistas, tenta encontrar onde o mal se esconde após o fim da guerra contra Morgoth. Enquanto isso, o elfo Arondir descobre pistas sobre o grande mal milhares de quilômetros de distância de onde Galadriel procurava. Tudo se complica quando um estranho e poderoso ser cai na Terra-média vindo dos céus. Essas pistas indicam que a relativa paz pode estar perto do fim.
Os Anéis de Poder estreou no dia 02 de setembro de 2022 contando com 8 episódios em sua primeira temporada. Tivemos 3 diretores diferentes trabalhando nos episódios da série, Wayne Yip J.A. Bayona Charlotte Brändström e a criação e concepção da série ficou por conta dePatrick McKay e John D. Payne. A série foi montada para explorar as lacunas dos apêndices da obra de Tolkien, mas também ousou em tocar no legendário estabelecido nos livros O Senhor dos Anéis e Silmarilion. Durante a obra vimos que isso foi problemático, mas deixemos isso mais para frente e falemos de uma outra problemática que aconteceu antes mesmo da estreia da série.
Na divulgação da sinopse e do elenco da série já surgiu uma grande polêmica sobre lacração entre alguns nerdolas machistas e racistas por aí. Galadriel, uma personagem feminina, ser a protagonista da série; Arondir por ser um elfo de fenótipo hispânico; e Disa ser uma anã negra. Estes, entre alguns outros itens, foram alvo de ataque de ódio. Inclusive houve um movimento dessas pessoas de “hatearem” a série com notas baixas e com críticas pesadas apenas para criticar a inclusividade da série. Apesar de já ser algo até comum esse rage na internet, isto nunca deixará de ser uma coisa abjeta e tacanha. Porém isto não isenta Os Anéis de Poder de críticas justas e verdadeiras.
A série começa promissora nos 2 primeiros episódios. Conta com um design de arte espetacular com tomadas lindíssimas da Terra-média, Númenor, Moria, etc. Percebemos logo de cara que efeitos gráficos e especiais fazem jus a todo o investimento financeiro recebido pela série. Porém os méritos dela praticamente se limitam ao esmeiro do CGI. Quando se trata em conteúdo dramático a série capenga bastante trazendo diálogos pretensiosos e vazios e pouco carisma em seu elenco. Mesmo com toda essa grana disponível, Os Anéis de Poder não tem um nome relevante no seu casting, o que por si só nao é la um problema mortal, mas quando também o roteiro não ajuda aí sim fica complicado. E este último é um problema bem grande desta série.
Os Anéis de Poder sofre de roteirismos. Sabe aquele história que se preocupa mais com os “check points” que pretende chegar do que em “como” chegar lá. Falta desenvolvimento de personagem, de drama, de urgência… chega a ser deplorável como a trama força para que tais eventos aconteçam. Vemos isso muito claro no arco de Galadriel e Halbrand, onde desde Númenor havia motivos de sobra para que o humano ficasse na ilha, porém Galadriel acredita que ele seja de uma linhagem real milenar perdida dos reis do Sul por causa de uma bolsinha com um símbolo. E ver o povo do Sul se ajoelhando para ele apenas porque uma elfa disse que a partir de agora ele é o rei é de uma ingenuidade que pega mal até para crianças no jardim de infância. Assim como as mudanças de percepção de Nori Harfoot para com o Estranho, que uma hora crê que ele é a salvação do mundo; outra hora, devido a derrubar um galho de árvore sem querer, se torna uma ameaça; e vice-versa.
E os problemas estão longe de acabar por aqui. Os personagens da série são pouco marcantes e desinteressantes. O elenco de Númenor, como Isildur, Elendil, Miriel, etc. não se salva ninguém, aliás, o espectador passa a ter raiva de tantas idas e vindas com aqueles personagens que não sabem o que querem da vida e que criam uma barriga interminável entre o terceiro e quarto episódio. Até mesmo os núcleos que achei mais interessantes pecam forte em determinados momentos, como no arco de Arondir e Bronwyn que são responsáveis por criar a maior tensão na série porém temos que aturar as chatices do Theo e as estratégias pouco inteligente de elfos e humanos; e o plot de Durin e Elrond que era a melhor coisa da série até surgir o mithril na jogada. Este último foi inclusive algo que alterou o legendário de Tolkien.
E o que falar dos diálogos da série? Uma pretensiosidade de parecer soar tudo poético e reflexivo, mas sem trazer uma reflexão de fato: “Às vezes para enxergar a luz temos que tocar a escuridão“, “Sabe por que o barco flutua e a pedra, não? Porque a pedra só olha para baixo.“, “Às vezes, o reflexo da luz na água é tão brilhante quanto a luz no céu.” com estes e mais jargões dá a impressão que os personagens não conversam entre si, eles só querem lacrar com uma frase de efeito barata atrás de outra.
Agora falando mais sobre os checks-points sem construção da série, para de forma simples exemplificar a preguiça dos roteiristas, temos a cegueira de Miriel por um motivo ridículo de entrar numa casa pegando fogo sem nenhuma razão convincente; a criação dos Anéis quando Celebrimbor o ultra-conceituado ferreiro elfo dá ouvidos a um “simples humano” sobre liga metálica e magia do mundo transparente, sem ao menos desconfiar dele; e o mais bizarro é o pretenso plot-twist sobre quem é o Sauron nesta primeira temporada, que além de surpreender zero pessoas, gera conflitos canônicos em personagens clássicos de O Senhor dos Anéis. Deixando tudo menos romântico e épico e mais trapalhão e parvo.
Ao fim desta temporada fica um gosto amargo não só de decepção, mas também pelas feridas que são criadas na obra clássica de Tolkien. Nem mesmo numa tela linda, efeitos rebuscados e uma vontade de Jeff Bezzos (dono da Amazon) de fazer da série algo marcante, foram suficientes para fazer de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder uma série que faz jus ao seu próprio nome.
O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (1ª Temporada)
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Nota