A ideia de colocar pessoas comuns em situações extraordinárias faz bastante sucesso no cinema. É muito fácil prender o telespectador na cadeira, pois são situações que eles poderiam estar vivendo. O que gera aquela pergunta: “o que eu faria nessa situação?”. O problema é que muitos desses filmes não conseguem manter o pé no chão e começam a gerar certos absurdos. Entretanto, eles sempre geram certo fascínio pelas situações que criam. O Sequestro segue bem essa cartilha e tenta ao máximo se manter realista, mas demonstra certos problemas.
Karla (Halle Berry) é uma garçonete que faz de tudo para dar uma boa vida ao seu filho, enquanto o pai do mesmo tenta tirar a custódia dela. Certo dia ela leva o garoto ao parque e ele é sequestrado, iniciando-se assim uma perseguição sem precedentes para que ela recupere seu filho.
Esse é um filme bem simples em sua premissa. Eu até falei bastante para encher a sinopse. O desenvolvimento de personagens é raso, pois a motivação é tão básica e poderosa que não necessita muito para ser contado. Basta você saber que é uma mãe que está tentando salvar seu filho sequestrado. Não é por acaso que a ação começa bem rápido. E que ação. A direção de Luis Pietro é muito boa. A movimentação do filme se baseia muito em perseguição de carros e temos tomadas longas e claras sobre o que está acontecendo. Nada daqueles cortes em excesso que quase impedem que você entenda o que está acontecendo. A ação dos personagens em si é bem desenvolvida com brigas realistas, mas ao mesmo tempo inventivas dentro da proposta desse filme. Mesmo que tudo esteja acontecendo muito rápido, nós temos noção plena do que está se passando. Só o fato de termos tomadas longas de perseguição de carros já me deixa extremamente feliz, pois torna realmente possível ver uma ação se desenvolvendo e facilita na construção de tensão ver os carros quase se chocando sem cortes.
O problema maior está no roteiro de Knate Lee (que está escalado para escrever X-Men: Novos Mutantes) que escreve personagens que tomam atitudes bem estúpidas. Nesse tipo de filme é comum usar a justificativa de que em situações extremas é normal que se tome atitudes questionáveis, mas a personagem de Karla por vezes passa desse limite. De tempos em tempos você se pegará olhando para tela e se perguntando por que Karla não toma determinadas decisões diferentes. É o tipo de coisa que acontece bastante em filmes de terror e tensão.
Por outro lado isso é bom, pois significa que o filme mexe com você de alguma forma. É muito difícil que você saia desse longa sem se importar com o que se passa. Também é muito difícil não ficar tenso no primeiro ato. A cena do sequestro é bem macabra. O filme em si é muito bem dirigido. Claramente o trabalho de Pietro melhora o roteiro de Lee. Mas é no segundo ato que começa a apresentar bastante problemas que podem quebrar a ótima construção que temos no início. Outro problema é a proporção que as coisas tomam. Chegamos a determinado ponto onde certas situações parecem um tanto absurdas para o padrão realista que o filme se propõe de início e que, de modo geral, tenta manter ao longo de toda a obra.
Halle Berry é a protagonista e em muitos momentos ela precisa atuar sozinha dentro de um carro. Um trabalho complicado que ela mantém bem, porém o roteiro sabota bastante sua personagem. Atitudes altamente questionáveis, escolhas estranhas e certos ataques de nervosismo que não parecem bem conduzidos em determinados momentos. O pior é que o tempo todo ela é colocada para falar sozinha, algo que não funciona e possui um tom altamente artificial. Claramente ela está falando coisas sozinha para explicar para o público certas situações.
Entretanto, O Sequestro ainda é um bom filme. Ele consegue manter a atenção e a tensão de forma mais eficiente que a maioria dos filmes de terror/suspense que vi esse ano. O tipo de filme que se visto de forma despretensiosa pode ser um bom entretenimento. Possivelmente ficará melhor assisti-lo em grupo para criar aqueles debates do que cada um faria em determinadas situações que se passam no longa. Um bom exemplo de como o diretor Luis Pietro possui potencial para alçar filmes de ação mais ambiciosos.
O Sequestro
NOTA