A distribuição de um filme em outro país pode fazer total diferença para o sucesso ou fracasso de um filme. Nada mais triste do que um ótimo filme que passa completamente desconhecido por um país justamente porque ele foi mal distribuído ou pouco divulgado. Foi exatamente o que aconteceu com “A Origem do Dragão” aqui no Brasil. Nos Estados Unidos ele estreou em agosto de 2017, mas em diversos outros locais do mundo está chegando só na virada do ano e sem muito alarde.
Nos anos 60 Bruce Lee estava abrindo sua academia para ensinar Kung-Fu em San Diego a qualquer um que estivesse disposto a aprender, além de investir em sua carreira cinematográfica para mostrar sua arte marcial para o mundo. Entretanto ele será desafiado pelo monge Shaolin Wong Jack Man e muito do que ele acreditava saber será posto em cheque.
Um filme de Kung-Fu bem coreografado é uma das coisas mais empolgantes que se pode ver no cinema. As artes marciais bem desenvolvidas e bem trabalhadas no cinema geram um espetáculo visual que diverte, gera tensão e consegue criar uma narrativa durante a própria luta em si. A Origem do Dragão é um desses filmes justamente porque a própria luta é o motivador ideológico que move os personagens e o enredo em si. Aqui temos uma bela discussão sobre o porquê da existência do Kung-Fu e sua relação com a cultura chinesa.
Ao mesmo tempo em que é um filme com cunho histórico, A Origem do Dragão também tem a estética e estilo de um típico filme de Kung-Fu dos anos 60 e 70. Lutas épicas onde um único homem derruba diversos capangas e onde dois mestres se enfrentam com golpes que desafiam as leis da física. Para quem é fã desse estilo é uma obra fantástica e que tem até um caráter de metalinguagem, pois estamos justamente vendo o Bruce (como personagem) lutando fora das câmeras e sendo mais um mestre do que um ator. Aliás o ator que faz Bruce é Philip Ng, que demonstra um talento marcial absurdo e um carisma inacreditável em dar vida ao personagem do egocêntrico Bruce. Enquanto isso Yu Xia faz o monge que acaba sendo um arquétipo clássico do sábio chinês, mas com pequenos lapsos de profundidade em diálogos extremamente interessantes.
O roteiro foi baseado num artigo de Michael Dorgan falando sobre a luta de Bruce com Wong. Stephen J. Rivele e Christopher Wilkinson já escreveram diversos roteiros de cinebiografias e estão envolvidos com o futuro filme do Queen. Além da metalinguagem e da luta, eles conseguem costurar tudo isso com uma história de amor que não destoa de todo o conjunto da obra, amarrando as coisas muito bem. O único problema está no segundo ato quando o filme parece não saber muito bem sobre o que é exatamente essa história. Ela é sobre a luta dos dois mestres? Sobre o romance do americano com a chinesa? É sobre a ideologia do Kung-Fu?
George Nolfi é o diretor e este é somente o seu segundo longa, mas já faz um trabalho bastante interessante. Seu primeiro filme foi o interessante “Agentes do Destino”, além de roteirizar “Ultimato Bourne” e “Doze Homens e Outro Segredo”. Aqui ele deixa os atores/lutadores mostrarem o seu talento sem os malditos cortes ultra-rápidos típicos dos filmes de ação atuais. Entretanto ele faz sim alguns cortes e usa a câmera lenta para demonstrar o que se passa na mente dos personagens durante lutas extremamente rápidas. Talvez o mais interessante seja as pequenas homenagens a filmes clássicos de Kung-Fu e até mesmo alguns mais recentes da cinematografia chinesa. Temos até as clássicas cordas que fazem as pessoas flutuarem e saltarem em níveis inacreditáveis. Um filme altamente divertido, informativo e que cria uma nova camada neste ícone que é Bruce Lee.
A Origem do Dragão
Nota