Após estrear com uma primeira temporada morna em 2016, Preacher voltou com tudo para sua segunda temporada, prometendo trazer mais dos quadrinhos de Garth Ennis e Steve Dillon. A série equilibrou sua narrativa, que agora está mais dinâmica do que na temporada anterior, brindando-nos com uma aventura com boas doses de humor e de politicamente incorreto, conseguindo uma ótima evolução na trama. Agora a série está mais centrada no trio de protagonistas Jesse Custer, o Pastor (Dominic Cooper), Tulipa (Ruth Negga) e Cassidy (Joe Gilgun) que além de estarem na missão de encontrar Deus, também terão de fugir do Santo dos Assassinos (Graham McTavish), a lenda do velho oeste que foi trazida do inferno por anjos caídos especialmente para assassinar o portador do Gênesis (entidade fugida do paraíso que dá o poder para fazer que qualquer um o obedeça).
Sem as travas de apresentação e construção de personagens que tiveram no primeiro ano, Evan Goldberg, Seth Rogen e Sam Catlin ganharam mais liberdade para trazer novos elementos à trama. Se antes demorou vários episódios para que o Santo dos Assassinos fosse construído e apresentado, dessa vez os criadores perceberam que a história teria que andar mais rápida, e, através de inserção de contexto ou apresentação de personagens nos prelúdios de cada episódio, Preacher soube lidar bem com cada trama nova que se propôs a apresentar: a venda das almas, a “família” de Tulipa, a “família” de Cassidy e o Cálice. Em especial para a apresentação e construção do icônico Herr Starr, o melhor personagem desta temporada, muito bem interpretado por Pip Torrens. Cada vez que Starr aparecia em tela a atenção do espectador era capturada. Mas isso não foi algo raro durante a segunda temporada.
Preacher acertou em cheio no equilíbrio entre ritmo, narrativa, roteiro e fotografia da produção, tudo bem alinhado com personagens carismáticos (como o Santo e Starr) e com um clima de tensão que misturou perseguição, road trip, mistério e investigação, capturando a atenção do espectador em quase sua totalidade, e isso fica ainda mais evidente nos seus cliffhangers poderosos ao longo dos episódios. Esta temporada teve também êxito de construir ainda mais profundamente personagens como Tulipa e Cassidy e trazer algumas evoluções na personalidade de Jesse, que começa obcecado por sua busca e confiante em seu poder, mas que, no fim, passa a valorizar seus próprios relacionamentos; ainda assim o Pastor é o personagem mais cinza do trio. E, além disto tudo, acompanhamos a jornada de Eugene (Ian Colletti) numa visão extremamente peculiar do inferno.
Após ser mandado diretamente para a terra do satã, Eugene vive seu martírio infinito preso à sua pior memória, até que os projetores de memória dão defeito. Dando início às interações de Eugene e as outras almas aprisionadas em seu corredor, aonde ele conhece uma versão de Hitler (Noah Taylor) bem amigável, que se mostra arrependido após tantos anos de tortura. Será que podemos confiar nesse arrependimento? O teor de politicamente incorreto é um dos pontos em que a série realmente brilha, trazendo visões diferentes e polêmicas do arcabouço cristão; que alguns podem ver com péssimos olhos, principalmente nesse momento de falso puritanismo e censura artística que vivemos. Mas Preacher traz isso de forma elegante e compatível com sua proposta, tanto dos quadrinhos, quanto da série.
No fim fica a sensação que assistimos vários arcos bem construídos ao longo dos 13 episódios desta temporada, trazendo maiores construções e evoluções de antigos personagens, além de apresentações brilhantes de outros novos. Foi uma temporada que fez a história andar bastante; espero que a série consiga manter o nível nas próximas. E já que falei que esta temporada contou com bons cliffhangers, nada melhor do que encerrá-la com um excelente, trazendo já expectativas para a terceira temporada, que já foi contratada pela AMC para meados de 2018.