De um lado temos H.P Lovecraft como um dos autores mais influentes do terror mundial na literatura. Do outro temos Alan Moore, simplesmente o melhor roteirista de quadrinhos de todos os tempos. O que acontece quando estas duas mentes criativas se conectam de alguma forma? Providence é a nova HQ de Moore onde ele reimagina o universo criado por H.P e tido como um dos seus últimos trabalhos nos quadrinhos (por enquanto).
Robert Black é um jornalista que deseja escrever um livro que conta um outro lado da história americana e acaba enveredando numa investigação que o conecta ao mundo do ocultismo. Ele começa a viajar pela região Noroeste dos Estados Unidos entrevistando figuras estranhas e passando por cidades que escondem grandes segredos.
Essa não é a primeira história onde Moore explora o universo de Lovecraft. Ele já havia publicado há alguns anos o Neonomicon que brincava com alguns conceitos dos mitos de Cthulhu, entretanto Providence é bem diferente deste outro trabalho. Aqui Moore foi extremamente ambicioso em recriar este mundo de horror cósmico e se debruçou numa pesquisa gigantesca para compor sua história. Neste primeiro volume é reunido quatro edições da publicação original.
Este não é um quadrinho para qualquer um. Não digo isso por ele ser muito difícil ou algo do gênero. Para apreciar Providence é preciso estar muito empenhado e ter uma bagagem do universo de H.P muito grande. Caso você nunca tenha lido nada do clássico autor, a história não terá tanta graça para você. E mesmo sendo fã do universo é preciso estar muito no clima para ler esta história hermética e cheia de fios de trama que vão do passado até o presente dos eventos mostrados na HQ. Esse material é para um público muito especifico.
Semelhante ao Watchman este é um quadrinho com muitos textos complementares ao final de cada edição, mas ao contrário do clássico dos quadrinhos, os textos de Providence são absolutamente essenciais para a compreensão da trama. De certa forma temos um hibrido de quadrinho com texto literário nesta narrativa. Se não estiver disposto a ler páginas de texto ao fim de cada edição é melhor passar longe desta HQ. Os desenhos são de Jacen Burrows que é absolutamente eficiente, mas não faz imagens especialmente belas. Os traços são muito detalhados, principalmente objetos e cenários. A anatomia é muito próxima da realidade apesar de existir pouca fluidez nos movimentos do personagem. Este quadrinho é muito mais sobre seu roteiro do que sobre suas ilustrações.
A narrativa é extremamente hermética que em determinados momentos estamos mais tentando decodificar os eventos, informações e fatos da história do que simplesmente a lendo. É preciso fazer um exercício para realmente entender o que se passa em Providence. Neste primeiro volume nada é explicado, sendo possível ter a sensação de que nada é revelado e que a trama não avançou, mas essa é uma sensação falsa. Não me admiraria que muitas pessoas terminem a leitura com uma sensação de que nada absolutamente aconteceu e que não existe muito sentido. É preciso ler de forma ativa para entender o que se passa e tudo que Moore tenta te contar nas entrelinhas.
Providence é uma HQ desafiadora em certo ponto e um estudo digno de palmas do universo de Lovecraft. A série apresenta um incrível potencial e certamente terá que ser relida algumas vezes para pegar todas as camadas que ali estão. Providence é tanto uma HQ para leitores exigentes de terror/suspense e leitores experientes de quadrinhos que estão dispostos a ser desafiado numa história apresentada como um quebra cabeça.
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