Escrever terror não é uma tarefa simples. É preciso escolher bem as palavras para prender o leitor nas garras do medo e do suspense, além de provocar repulsa com descrições de cenas violentas e perturbadoras. O Adversário, do escritor Maurício Limeira, é um exemplo que consegue reunir todos esses aspectos em uma narrativa densa e complexa.
Após sua namorada ser assassinada, Zeca usa seus contatos como jornalista para se embrenhar no submundo do crime a procura de alguém que leve a cabo seu desejo de vingança. Durante a busca, seu caminho se cruza com o de Casemiro, um matador frio e cruel que não cobra nenhum valor em dinheiro para executar o serviço. Contudo, o preço a se pagar é muito mais alto do que Zeca supunha. O rapaz vê-se perseguido por forças sobrenaturais personificadas na figura de Casemiro, que a todo custo quer matá-lo para um fim obscuro. Sua única opção é fugir enquanto tenta descobrir por que seu adversário quer tanto eliminá-lo.
A primeira coisa que chama a atenção é a ambientação da trama no Rio de Janeiro. Somos transportados de um bairro a outro seguindo a narração em primeira pessoa de Zeca, cuja visão soturna e intimista desenha uma cidade sem cor, que esconde perigos invisíveis em cada canto. Não é a primeira vez que o Rio é palco do terror sobrenatural, pois já vimos isso acontecer em Deuses Caídos, de Gabriel Tennyson. Mas dessa vez não contamos com as piadinhas sujas do protagonista para quebrar a tensão de tempos em tempos.
Estar dentro da mente de uma pessoa que, de uma hora para outra, descobre a existência de forças sobrenaturais pode ser bem complexo em alguns momentos. Isso se reflete na narração e no jogo de palavras utilizado pelo autor para descrever as cenas e pensamentos do personagem de maneira profunda. Ficamos parte do tempo sem saber o que é delírio e o que é real enquanto o maior horror vai se desenrolando na cabeça de Zeca.
Mas nem por isso O Adversário deixa de ter cenas de verdadeira brutalidade, onde a violência é narrada de forma macabra. Até mesmo os diálogos que as antecedem são trabalhados para alimentar a atmosfera de pânico e preparar o leitor para algum tipo de revelação ou acontecimento chocante.
Passando da metade do livro, o autor usa um recurso narrativo que pode parecer confuso, mas quando chegamos ao final da leitura podemos interpretá-lo de vários jeitos que fazem sentido diante do desenvolvimento da história e de seus participantes. De certo modo, o desfecho é inesperado, pois esperamos que algo aconteça, mas não exatamente do modo como acontece.
Maurício Limeira soube como aliar de forma satisfatória o terror psicológico e o visceral dentro da mesma obra. O Adversário é um livro complexo que mergulha na mente de seus personagens e mostra os dilemas existenciais que surgem diante do medo, da violência e de fatos que a razão não consegue explicar.
Adicione este livro à sua estante!
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