A adaptação para anime de Shuumatsu no Harem foi muito aguardado pelos fãs do mangá, que ansiavam em ver sua trama futurística distópica com muitos momentos ecchi ganhando vida. Sua primeira temporada estreou em janeiro de 2022 na Crunchyroll (que faz a distribuição ocidental do anime), contando com 11 episódios. A história criada por LINK e Kotaro Shono possui elementos ousados que poderiam trazer debates e cenas interessantes, mas a adaptação nesta temporada inicial não fez jus ao seu enredo e nem à sua expectativa, acabando por ser quase uma ‘pornochanchada’ leve sem muito sentido do que a obra ousada e sensual que se prometia.
Shuumatsu no Harem (ou “World’s End Harem” no ocidente) foi feito em conjunto pelos estúdios Gokumi e AXsiZ (Seiren), com direção de Yuu Nobuta (de Faraway Paladin), que adapta o mangá de mesmo nome em publicação desde 2016 na plataforma online Shounen Jump+, da editora Shueisha. A premissa da obra é acompanharmos um futuro ondo o vírus MK (Male Killer) que afeta apenas os homens, se espalhou pelo mundo e dizimou quase a totalidade da população masculina. Alguns conseguem sobreviver através de um sistema de hibernação no qual são mantidos, mas eventualmente terão os dias contados, já que esse “congelamento” só atrasa a ação do vírus, não o impede em definitivo.
Há algumas exceções dentro destes que ficaram em estado de hibernação que são totalmente imunes ao vírus. São cinco homens (pelo menos no Japão) e Mizuhara Reito, o nosso protagonista é o segundo destes ‘exemplares’ a ser despertado. Uma organização que domina o Japão e parte do mundo, com abordagens pensadas, tenta fazer com que eles “acasalem” com o maior número possível de garotas. Desse modo, poderão tentar repovoar a Terra com uma geração de meninos que consigam herdar tal “acidente genético” que impede o vírus. Porém, tudo o que Reito quer é encontrar sua amada Erisa, que desapareceu há três anos. Reito pode resistir à tentação e encontrar seu único amor verdadeiro?
O maior problema de Shuumatsu no Harem é que a história que não se sustenta sem as apelações eróticas, que em muitos momentos são bizarramente construídas pela narrativa. O pano de fundo do futuro distopico de uma sociedade mundial onde não há apenas poucos homens, é uma premissa que poderia abrir vários horizontes por onde a trama poderia avançar, inclusive tocar em questões filosóficas da relação de poder entre os sexos. Mas todo esse contexto se torna um simples detalhe em meio a um mistério pouco cativante, um erotismo duvidoso e personagens fracos.
E essa lacuna com espectador é evidente quando olhamos para o nosso protagonista celibatário. Reito é tão paladino com sua moral e promessa de amor perfeito que chega a prejudicar a interação do espectador com ele. Parecendo não ser ‘humano’ o suficiente para que criemos um vínculo com o próprio. E isso afeta demais na forma como o espectador encara o anime como um todo. Outro ponto muito questionável é o claro ‘mal gosto’ da obra (para ficar no mínimo). É um problema até que repetitivo nestas obras ecchis em geral, trazendo personagens visivelmente infantis (por mais que falem que sejam maiores de idade) para esse contexto erótico e dissimulações para esconder o que poderia ser encarado como estupro. E isso ocorre também em Shuumatsu no Harem já que há menções de que nem todas as garotas que participam dos haréns, de fato, gostariam de estar ali, e que algumas inclusive são obrigadas.
Essa objetificação e erotismo foi até bastante criticada na sociedade oriental, principalmente pelos pais de adolescentes. Inclusive o anime passou por drásticas intervenções de censura, tanto no Japão quanto no ocidente (a versão da Crunchyroll foi censurada também). Por ser um conteúdo obviamente para maiores foi uma crítica até um pouco esvaziada num plano geral, no entanto, se olharmos mais de perto o enredo do anime e o que foi, de fato, entregue pelo mesmo, realmente podemos observar que existem problemas graves na obra que afetam até mesmo seu próprio argumento temático. Não pelo falso puritanismo da sociedade japonesa, mas sim pela misoginia que o anime emprega, mesmo com a obra podendo subverter a ordem padrão da objetificação sexual sugerido pela sua premissa.
Este é um problema cabal para Shuumatsu no Harem. Prometer algo diferente do padrão e entregar o mais do mesmo. Em um mundo governado e povoado por mulheres, ainda assim os homens sobreviventes tem a regalia de escolher a dedo com quem quer ‘acasalar’, inclusive se utilizando de assédios dos mais diversos possíveis, tudo apoiado e sustentado pela organização governamental. Que por sua vez também tem em suas diretoras o mesmo comportamento. Ou seja, mesmo com o controle nas mãos das mulheres, temos a mesma dinâmica de um mundo normal. E isto até poderia ser encarado como uma crítica sociológica pelo anime, mas que não acontece de fato. Pelo menos nesta primeira temporada.
Infelizmente Shuumatsu no Harem acaba se tornando um desperdício de trazer algumas reflexões diferentes a mais para o público em geral que acompanha animes e limita-se a ser apenas mais uma produção não só aquém de suas possilidades, mas também como uma obra abaixo da média se comparado a outros animes do mesmo estilo “Harem” (como High School DxD). O anime ficaria até melhor classificado como um ‘soft hentai‘ do que um ‘ecchi de harem’. Até o momento deste texto ainda esperamos notícias sobre uma possível segunda parte de episódios, só resta ficarmos na expectativa da trama conseguir explorar melhor sua própria premissa no futuro.
Shuumatsu No Harem (World's End Harem)
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Nota