Logo assim que saí da sessão de Star Wars VIII: Os Últimos Jedi, compartilhei com os amigos do Tarja Nerd um audio resumindo em duas palavras as minhas impressões sobre o filme: tenso e intenso. Tenso porque ao longo de todo filme testemunhamos os heróis passando por apertos seríssimos, o que acaba prestando um tributo muito justo a O Império Contra-Ataca, que é tido como um dos melhores filmes da saga justamente por testar os limites dos heróis. Do mesmo modo, classifiquei o filme como intenso porque os desdobramentos desses apertos pelos quais os heróis passam levam à consequências surpreendentes, reviravoltas e, por que não, cenas de ação muito bem feitas, tanto em termos visuais quanto em coreografia e desfecho.
Neste oitavo episódio da saga da galáxia muito distante, acompanhamos o cerco empreendido pela Primeira Ordem aos remanescentes da Resistência, depois que a mega-arma Starkiller varreu do mapa planetas importantes que estavam sob a égide da então restaurada República. Este cerco operado pela Primeira Ordem se estende a todos os núcleos de heróis, criando ao mesmo tempo conflitos particulares interessantes mas que, quando se juntam, compõem o mosaico final do longa de uma forma bacana.
Assim, à medida que a Primeira Ordem avança, acompanhamos os desdobramentos envolvendo Rey, Luke Skywalker, Kylo e Snoke no núcleo mais místico do filme; Finn acertando as contas com o próprio passado num conflito personificado por sua antiga oficial superior, Phasma; e, o que achei muito bacana, o filme depurou melhor conflitos internos da Resistência (Poe e seus superiores), da Primeira Ordem (Kylo Ren e Hux) e o conflito de gerações protagonizado por Luke e Rey e, também, por Kylo e Snoke. Ao expandir esses conflitos internos, cuja semente foi plantada sobretudo em Rogue One, o episódio VIII deu um passo além do tradicional conflito maniqueísta que víamos até então nos filmes da saga, com Bem e Mal/Luz e Trevas caracterizadamente definidos, o que fez com que o filme caminhasse pelo terreno “cinzento” do encontro entre Luz e Trevas…
Esse aprofundamento do conflito também abriu precedente pra uma abordagem diferente em relação aos heróis. Essa abordagem já é velha conhecida por quem é fã de filmes de super-heróis, tenho que admitir: já que não há uma linha bem demarcada entre Bem e Mal, o herói pode cair em desgraça tanto quanto o vilão pode se redimir. Teve fã que se referiu a esse novo filme como “o lado cinzento da Força”, o que faz muito sentido. Apesar de a temática da ambiguidade do herói ser praticamente um lugar comum hoje em dia, a reciclagem feita sob a roupagem de Star Wars funciona porque se amarra organicamente à história que está sendo contada e aos personagens que a catalisam.
Cinematograficamente, o filme é um show. Fotografia excelente, sequências de ação bem ritmadas, boas escolhas de takes quando acontece algum conflito psicológico e, como não poderia deixar de ser, uma trilha sonora que caminha indissociavelmente com o logo amarelo que dá nome à saga. As atuações que se destacam, com muita justiça, são de Mark Hamill e Carrie Fisher: enquanto Hamill trouxe à tela um Luke Skywalker que oscilou entre o soturno e o debochado/irreverente, Carrie Fisher trouxe uma atuação sólida de uma general que ainda tem esperança, mas que está inegavelmente cansada de testemunhar tantas perdas. Naturalmente, em vista do falecimento de Carrie Fisher em dezembro de 2016, o filme presta a devida homenagem a esta atriz que escreveu seu nome na História do cinema.
Assim, O Despertar da Força teve por objetivo cativar os fãs das antigas trilogias e, ao mesmo tempo, agregar uma nova geração de fãs. Para galgar tais objetivos, O Despertar usou e abusou da nostalgia pra se dirigir aos fãs “experientes” e apresentou à geração mais nova uma reciclagem de Uma Nova Esperança com novos personagens, cada qual com sua personalidade e seu carisma. Em Os Últimos Jedi, no entanto, o objetivo é consolidar a nova trama, reciclando elementos de O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, criando ocasiões que mexessem com o imaginário do fã na hora de um personagem clássico passar o bastão, ou melhor, o sabre de luz, para o personagem novo. Acho que o saldo dessa equação foi positivo e o diretor Rian Johnson conseguiu balancear a Força da nova trilogia, apesar de ter exagerado um pouco nas piadas/alívios cômicos. Espero que a Disney não cometa em Star Wars o mesmo inconveniente que é recorrente em filmes da Marvel: o excesso de piadas…